Pode
soar como prepotência ou até mesmo arrogância iniciar um artigo diretamente
vinculado a um tema tão sério e impactante como é a pandemia provocada pela
covid-19 já com um tom de visão, prospecção, imaginação, enfim, de sentimentos
que expressem o que virá a ocorrer ao findar esse doloroso e angustiante período.
Mas
não, o propósito da condução deste texto é aproximar ao máximo a nossa leitura
ao cenário que se deslumbra tão logo saiamos globalmente dessa situação
desmotivadora e prejudicial sobre vários aspectos, dentre eles econômicos,
exatamente a partir de um momento em que se iniciava uma percepção de otimismo
— e consequente confiança do mercado como um todo em relação ao Brasil.
Assim
passamos a viver um presente muito implacável quanto ao sentido de
possibilidade de estimativa, previsão, e projeções em relação a vários setores.
Dentre eles, o Comércio Internacional, que desde o início da crise, ainda no
seu epicentro na província de Wuhan na China, já impactava severamente os
resultados de balanças comerciais de vários países, dada a importância da produção
do mercado chinês em relação à composição dos aspectos presentes nas
negociações “mundo afora”.
Esse
“impacto” inicialmente no mercado asiático apresentava contornos de
desorganização e decomposição de projetos industriais, ou mesmo de negócios de
comércio, a partir de paradas de exportações da China para atender seus
clientes globais. Pois, à medida que o vírus se espalhava da Ásia até o
restante do planeta, praticamente o impacto tomava contornos de
imprevisibilidade quanto à extensão que se observaria.
Tais
ocorrências de certa forma obrigaram os governos e as empresas a se readequarem
e a revisarem seus planejamentos mesmo antes do primeiro trimestre do ano. Ou
seja, muitas empresas sequer haviam recebido insumos para produção de seus bens
a serem vendidos naquele período, pois passaram a ser “peça de alto desejo”.
Esse
novo cenário demanda urgente reorganização. Porém, sem uma sólida base para
tomada de decisão, tendo em vista a impossibilidade de se vislumbrar um final
da crise em curto ou médio prazo, e até mais, conforme os níveis de “estrago”
aumentam, o longo prazo parece ser o único e mais certo caminho a ser trilhado
visando um novo target (alvo – termo muito utilizado nas negociações
internacionais).
Diante
de tudo isso, já é hora de se buscar um novo horizonte, um pós-crise. E como em
praticamente todas elas sempre surgem oportunidades, é momento de novos
começos, novos desafios, principalmente considerando que a Balança Comercial
Brasileira atingiu patamares de USD 402,7 bilhões entre Importações e
Exportações em 2019 (dados do Ministério da Economia), dos quais
aproximadamente USD 225,3 bilhões foram obtidos nas exportações.
O
país encerra o primeiro trimestre de 2020 com resultado de sua Balança
Comercial entre USD 49,5 bilhões nas vendas ao exterior (exportações), contra
aproximadamente USD 43,9 bilhões nas aquisições do exterior (importações),
sendo que ao compararmos os dados, no mesmo período do ano passado, nossas
exportações atingiam valores próximos de USD 51,1 bilhões, contra USD 42,1 bilhões
nas importações, apresentando já nesses primeiros 90 dias do ano, diferenças
consideráveis em seus valores – momento ainda não significativo sob o ponto de
vista de otimismo quanto ao fim da crise do vírus. Porém, em tese, uma
exposição de valores que certamente apresentará diferenças mais acentuadas em
relação aos próximos períodos, na medida em que os impactos são sentidos
globalmente, já com pequenos sinais de retração na economia global, combustível
principal para os saldos negativos das balanças comerciais dos países.
Mas
sempre há “vida que segue”, aquilo que precisamos enfrentar no futuro, e este
já se apresenta como “incerto”, porém com uma dose muito forte de mistério.
Isso ocorre exatamente porque é certo que novas medidas econômicas deverão ser
apresentadas pelos governos para restabelecimento de suas economias: novas
regras, novos procedimentos para as práticas comerciais globais. Sendo que,
mesmo no início do agravamento da crise, os países mais expoentes no Comércio
Internacional já reviam alguns procedimentos, como redução tarifária para
aquisições de produtos de combate ao coronavírus e medidas de flexibilização às
regulamentações para entradas de produtos médicos de acordo com suas regras de
vigilância sanitária.
O
Brasil, por exemplo, através de Resoluções, Portarias, Instruções Normativas e
outras normas legais, conseguiu reduzir alíquotas do Imposto de Importação em
dezenas de produtos importados relacionados diretamente ao combate ao vírus,
além de outras medidas que permitiram (e permitirão, inicialmente até
31/12/2020) empresas brasileiras adquirirem no mercado externo produtos para
comercialização interna. Com tais “incentivos” fiscais (termo este com
grifo nosso exatamente por se tratar de uma necessidade de questões
humanitárias), a face do “incentivo” fiscal não como meio de alavancagem de
negócios, mas sim abertura de portas e facilitação para que na maior extensão
possível as empresas encontrem alternativas de alimentar o setor de saúde
público e privado, do maior número possível de recursos para o combate ao
vírus.
Segundo
dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de 14 de abril de
2020, os dados das pesquisas relativas ao Comércio Internacional davam conta de
que é esperado um impacto negativo de aproximadamente 20% nos resultados das
negociações internacionais para o corrente ano, sendo que destes, se forem
avaliados sob previsões otimistas, chega-se a 15% contra 25% para quem optar
pela ótica pessimista.
É
fato que qualquer um dos números é muito delicado e extremamente prejudicial
para a economia como um todo, pois os países dependem cada vez mais uns dos
outros. A queda nos negócios internacionais acentua eventos deficitários ao
mesmo tempo em que, ao citarmos dados baseados em pesquisas, é necessário
também manifestarmos nossas convicções no aspecto otimista de que, como agentes
de transformação que somos, precisamos unir esforços e buscarmos uma fórmula de
alavancar negócios globais para juntos retomarmos o crescimento tanto do PIB
brasileiro e, por extensão, mundial, sem jamais esquecer dos menos favorecidos.
Afinal, antes do Comércio Internacional, precisamos “olhar os nossos”, quem
está mais próximo e dependendo de nosso auxílio, seja de qual natureza for.
Realidade
cruel, mas convicção de que com saúde seremos e sairemos vitoriosos no
pós-covid-19.
João
Marcos Andrade - professor dos cursos de Global Trading e Comércio Exterior do
Centro Universitário Internacional Uninter.
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