A crise do
COVID-19 potencializou o valor da telemedicina, acelerando a transformação
digital nesse segmento e provocando uma pergunta: Como é a experiência vivida
pelo paciente que é atendido a distância?
Modalidade de
serviços de saúde que existe há décadas, a telemedicina ganhou novos recursos
de inteligência artificial e de conectividade e, hoje, é essencial para tratar
pacientes que não podem se deslocar até clínicas e hospitais para serem
atendidos. No Brasil, foi aprovada em 20 de março a Portaria 467 e, menos de um
mês depois, em 15 de abril, essa portaria foi transformada na Lei 13.989. Essa
lei emergencial trabalha a favor da disseminação de uma oferta de serviços de
saúde que está mostrando seu valor em vários lugares do mundo.
Pesquisa da MarketDataForecast
divulgada em 2019 indicava que esse mercado global chegava a US$ 35,46 bilhões.
Não temos ainda acesso a estimativas do impacto da pandemia do novo coronavírus
sobre esse segmento. Sabemos, porém, que nos EUA o uso da telemedicina viralizou
em poucas semanas. Levantamento realizado pela SSCG Media Group no final de
março indica que 53% dos clínicos especializados em pneumologia, doenças
infecciosas, oncologia e cardiologia estavam usando soluções de telemedicina
para atender seus pacientes. Do lado dos pacientes, a tendência se
confirma: relatório produzido pela Civic Science entre os dias 20 de fevereiro
e 20 de março mostra que aumentou de 18% para 30% a busca de serviços de
telemedicina.
O que está
crescendo em todo o mundo e também no Brasil é, basicamente, a oferta de
consultas realizadas remotamente.
Nessa interação, o
médico realiza a análise utilizando plataformas de atendimento ao paciente,
desde um Whatsapp a sistemas desenvolvidos sob medida para esse fim. Tem
aumentado muito, ainda, a tentativa de se medir remotamente os sinais vitais do
paciente (temperatura, pressão, saturação de oxigênio etc.). Para isso, é
necessário que aparelhos de medições de sinais como oxímetros, por exemplo,
estejam ao alcance do paciente.
Como está previsto
no artigo 4º da portaria 467, o atendimento remoto precisa ser registrado em um
prontuário.
E, além do atendimento médico em si, a consulta
remota pode resultar na necessidade de prescrição médica. Atualmente, no
Brasil, pode-se enviar ao paciente uma prescrição digital se o médico
individualmente possuir uma certificação de assinatura digital da
Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira (ICP-Brasil). Quem não tiver esse
certificado não pode emitir, de forma remota, receitas médicas (arquivos digitais).
Veja
tecnologias e estratégias que potencializam a telemedicina e ajudam na
construção da experiência do paciente:
Videoconferência: é fundamental contar com uma boa qualidade de imagem e de som. Isso
depende da plataforma de telemedicina em si e, também, dos recursos de internet
à disposição do médico e de seu paciente. Alguns fornecedores para o mercado de
telemedicina têm ofertas que aliam serviços de computação em nuvem a kits de
desenvolvimento de aplicações que otimizam o uso da banda, garantindo a
qualidade do vídeo. Recursos de inteligência artificial estão aumentando a
precisão e a capacidade de interpretação das imagens geradas em vídeo, durante
a consulta remota.
Interface
do App de telemedicina: o desafio desse
tipo de plataforma é ser, ao mesmo tempo, extremamente rigorosa e intuitiva.
Disponibilizar um App intuitivo e fácil de usar é a primeira premissa, pois
essa é a porta de entrada para o teleatendimento. É essencial, portanto,
oferecer uma interface amigável para que, numa crise de saúde, pessoas de
qualquer idade ou formação consigam avançar no sistema.
Boa
parte dessas plataformas têm módulos de autosserviço, em que o paciente,
preenchendo formulários e respondendo perguntas, conseguirá solicitar a
consulta remota. Há, também, botões para pedir ajuda com urgência em casos
críticos.
Para
ser uma boa plataforma do ponto de vista da experiência do paciente, ela
precisa ser customizável e gerar uma visão integrada do paciente. Durante a
consulta, essa visão integrada acalma o paciente, pois o médico pode ir
comentando informações que ele ou ela já tem sobre o paciente – informações
fornecidas pela plataforma de telemedicina. Outro ganho propiciado pela visão
integrada do paciente é a aceleração da construção do diagnóstico médico. É
comum, ainda, que o sistema ofereça conveniências ao paciente – é o caso da geração
automática de lembretes sobre um exame, uma consulta agendada etc.
Conformidade da
empresa de telemedicina à LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados): um dos maiores desafios dos serviços remotos de saúde é garantir a
privacidade dos dados dos pacientes, uma das informações mais cobiçadas por
criminosos digitais. A ameaça de divulgação de detalhes do prontuário de uma
pessoa a deixa exposta a ransomware, entre vários tipos de violações. Os dados
gerados durante a consulta remota têm de ser processados, arquivados e
acessados de acordo com as normas da LGPD. Essa lei devolve às pessoas sobre as
quais os dados foram gerados todo o poder sobre esses dados. Os dados do
prontuário médico pertencem ao paciente, não à empresa de telemedicina.
Acredito que até o final de 2021 muitas empresas do setor de telemedicina já
estarão alinhadas à Lei 13.709, de 14 de agosto de 2018 – isso será um
diferencial de negócios.
É bom lembrar,
ainda, que algumas empresas de telemedicina no Brasil já seguem o HIPAA (Health
Insurance Portability and Accountability Act), uma norma americana para
empresas que atuam no segmento de saúde. O HIPAA regulamenta os cuidados que
esse setor tem de ter com as informações sobre a saúde dos pacientes.
É importante
enfatizar que a telemedicina não substitui a medicina tradicional, baseada no
encontro presencial entre o médico e seu paciente.
Como tudo o que
estamos vivendo nesse momento de crise, é difícil prever o futuro. Acredito, no
entanto, que veremos cada vez mais uma convivência equilibrada entre práticas
tradicionais de medicina e o atendimento remoto, 24x7, ao paciente.
Num país do
tamanho do Brasil e com grandes contrastes de renda e acesso ao conhecimento, a
telemedicina pode horizontalizar a oferta de serviços médicos. Isso está
acontecendo nas fases de triagem de pacientes e monitoramento de pacientes
crônicos que já têm um diagnóstico e devem ser acompanhados regularmente.
Contextos em que a telemedicina faz diferença, colocando novas modalidades de
serviços de saúde ao alcance da população brasileira.
Rita D’Andrea - Diretora da Mundo Livre Digital.
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