Mais de 6 milhões
de brasileiros possuem deficiência visual, porém em 80% dos casos a cegueira
poderia ter sido evitada com diagnóstico e tratamento precoce, mostrando que o
alerta anual não pode ser esquecido em nenhuma circunstância
Em meio à pandemia do novo coronavírus (Covid-19),
os cuidados com a saúde em geral não podem parar, inclusive os relacionados aos
olhos. Abril Marrom é a campanha realizada por instituições e profissionais de
saúde esse mês dedicada ao alerta do combate à cegueira. De acordo com o
Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), o Brasil possui 1,2 milhão de cegos.
São mais de 6 milhões de brasileiros com alguma deficiência visual. As causas
são variáveis e, na maioria dos casos, a perda da visão poderia ter sido
evitada com prevenção e diagnóstico precoce.
Se você perceber perda súbita da capacidade de
visão, não hesite em procurar um oftalmologista, mesmo em tempos de
distanciamento social em prol da saúde coletiva. Se esqueceu de marcar sua
consulta de rotina anual, programe-se para uma visita ao oftalmologista, assim que
os atendimentos voltarem ao habitual em sua região, de acordo com as
recomendações dos órgãos de saúde. E fica o alerta: não pare tratamentos nesse
período sem o conhecimento e orientação do seu médico. Muitas clínicas
oftalmológicas estão à disposição para atendimentos emergenciais e orientações
a pacientes, inclusive via online, por meio da telemedicina, regulamentada pelo
Ministério da Saúde recentemente.
É possível evitar – Conforme afirma o Dr. Renan Ferreira Oliveira, especialista em catarata
e cirurgia refrativa do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, empresa do Grupo
Opty em Joinville (SC), 80% das causas de cegueira são evitáveis. “Uma vez
detectadas precocemente, tais condições podem ser tratadas em fases iniciais,
evitando perdas irreversíveis da visão”, reforça o médico sobre a importância
das visitas anuais ao oftalmologista em todas as faixas etárias. Os cuidados
começam ainda na maternidade, com o teste dos olhinhos.
As principais patologias que levam a cegueira
não-reversível são: glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular
relacionada a idade (DMRI). A catarata, importante causa de baixa visão ou
cegueira, é reversível com a cirurgia de facoemulsificação. Tais condições
afetam principalmente pessoas acima de 60 anos, porém também podem aparecer
precocemente em pacientes com fatores de risco. No adulto jovem, as causas
predominantes incluem: trauma ocular, descolamento da retina e as doenças
neurológicas e degenerativas, como a neurite óptica.
“As principais causas de cegueira e deficiência
visual em adultos e idosos estão associadas ao envelhecimento da população.
Independentemente da classe social, a estimativa de cegueira cresce em função
da idade, chegando a ser de 15 a 30 vezes maior em pessoas com mais de 80 anos
do que na população com até 40 anos de idade”, conta o oftalmologista.
Confira mais detalhes sobre as doenças que podem
levar à cegueira:
- O glaucoma pode ser prevenido pelo controle da pressão intraocular, que quando aumentada representa o principal fator de risco, e também o único modificável. Seus sintomas são irreversíveis, ou seja, o tratamento do glaucoma visa apenas a impedir a sua progressão, porém não restabelece a visão que foi perdida, o que torna ainda mais urgente a importância de detectar e tratar essa doença nos seus estágios mais iniciais. Além do tratamento clínico com colírios, novas opções terapêuticas vêm surgindo para controle da pressão intraocular, como cirurgias minimamente invasivas (implantes) e uma técnica com laser (SLT).
- A retinopatia diabética pode ser prevenida pelo controle adequado do diabetes, baseado em hábitos de vida saudáveis (dieta e exercícios físicos) e uso correto de medicações, visando o controle da glicemia (nível de açúcar no sangue). Uma vez estabelecida, a retinopatia diabética pode ser tratada de acordo com o estágio da doença. Terapias como fotocoagulação a laser e injeção intravítrea de antiangiogênicos são essenciais para o controle da doença, podendo melhorar os sintomas de perda visual. No entanto, estágios avançados da doença podem levar a cegueira irreversível. De acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, em 2017 12,5 milhões de brasileiros tinham diagnóstico de diabetes. Este número atinge proporções muito maiores ao considerarmos as crianças e o grande contingente de portadores que não sabem que tem a doença.
- A DMRI é a principal causa de cegueira na terceira idade em países desenvolvidos, afetando geralmente pessoas acima de 70 anos. Em sua forma seca (mais inicial e branda), o tratamento, baseado em complementos vitamínicos, é pouco eficaz. Na sua forma úmida, novos vasos sanguíneos se formam na região da mácula e causam sangramento e edema. Essa forma, apesar de mais agressiva, pode ser tratada com uso de injeções intravítreas de antiangiogênicos, que melhoram a visão e controlam a progressão da doença por tempo variável.
- A catarata do adulto ou idoso é reversível com a cirurgia. Ela pode aparecer mais precocemente em fumantes, diabéticos, altos míopes, pessoas com alta exposição ao sol, devido ao uso de certos medicamentos, ou após trauma ocular, entre outros fatores. A catarata senil é um processo inerente ao envelhecimento do cristalino.
Crianças e jovens – De modo geral, de acordo com estudo “As condições de saúde ocular no
Brasil 2019”, do CBO, mais da metade das crianças cegas do mundo são cegas
devido a causas evitáveis (15% tratáveis e 28% preveníveis). Conforme a
estimativa da Agência Internacional de Prevenção à Cegueira (IAPB, em inglês),
é possível considerar que no Brasil haja cerca de 29 mil crianças cegas por
doenças oculares que poderiam ter sido evitadas ou tratadas precocemente. A
diversidade regional brasileira e os diferentes níveis de desenvolvimento
socioeconômico sugerem a estimativa de um valor médio de prevalência de
cegueira infantil para o Brasil entre 0,5 e 0,6 por mil crianças, de acordo com
o estudo do CBO.
O mesmo relatório mostrou que, no mundo, 500 mil
crianças ficam cegas por ano (quase uma por minuto). Muitas morrem na infância,
por causa do problema que levou à cegueira (sarampo, meningite, rubéola,
doenças genéticas, lesões neurológicas ou prematuridade). A maioria das
crianças cegas nascem cegas ou ficam cegas em seu primeiro ano de vida.
Na infância, os pequenos estão suscetíveis a
apresentar catarata e glaucoma congênitos, de difícil tratamento e mau
prognóstico visual. Estrabismo e altos graus de ametropias devem ser
diagnosticados e tratados precocemente, sob o risco de levarem à ambliopia,
irreversível após os 7 anos de idade.
Entre os jovens, as causas para perda de visão predominantes
incluem: trauma ocular (acidentes como “boladas” e outros impactos nos olhos),
descolamento da retina e as doenças neurológicas e degenerativas, como a
neurite óptica, a inflamação do nervo óptico.
Prevenção, detecção e
tecnologias – Para detecção de doenças que afetam a visão, o
oftalmologista dispõe de diversos recursos. Um exame oftalmológico completo
inclui: anamnese (história do paciente e familiar, antecedentes pessoais,
medicamentos em uso), acuidade visual com e sem correção refracional, exame
biomicroscópico em lâmpada de fenda, exame de fundo de olho, tonometria (medida
da pressão intraocular). Em algumas situações são necessários exames
complementares, como exame de campo visual no caso do glaucoma, retinografias
com uso de contraste endovenoso e/ou tomografias da retina em casos de
retinopatias e DMRI.
“A principal causa de cegueira irreversível hoje é
uma doença silenciosa, a DMRI, e nesses últimos 10 anos aconteceu uma revolução
tanto na tecnologia diagnóstica com tomógrafos de retina e nos equipamentos de
angiografia digitais, como no tratamento com medicamentos injetáveis que
permitem evitar a perda de visão e a recuperação em muitos casos que antes eram
considerados intratáveis”, conta o Dr. Sérgio Kniggendorf, do HOB, empresa do Grupo
Opty em Brasília.
As tecnologias estão sempre avançando e trazendo
não somente novas possibilidades para o combate às doenças que causam cegueira,
como também para auxiliar os pacientes com perda visual acentuada. “Há auxílios
ópticos de magnificação digital para pacientes com visão subnormal, além de
auxílio óptico com interface associada a inteligência artificial para celular
que reconhece através da câmera do aparelho o ambiente e o descreve para o
paciente com visão subnormal”, afirma o Dr. Nagilton Bou Ghosn, especialista em
retina e vítreo do HCLOE, empresa do Grupo Opty em São Paulo.
Grupo Opty
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