De acordo com a publicação, essas novidades comerciais – sempre muito atrativas para os jovens e alardeadas pela imprensa com a chegada do verão – são drogas, assim como toda modalidade de bebida alcoólica, com elevado potencial de gerar prejuízos ao desenvolvimento da população pediátrica e expressamente proibidas para menores de 18 anos de idade, conforme estabelece a Lei nº 13.106, de 17 de Março de 2015.
Segundo informam os especialistas do Departamento Científico de Adolescência da SBP, grupo responsável pela elaboração do documento, graças à ampla divulgação, à glamourização e ao fácil acesso, o álcool tem sido utilizado cada vez mais precocemente por crianças e adolescentes.
“O processo de desenvolvimento psiconeurológico perdura até os 25 anos de idade e ocorre de forma não homogênea. A região frontal do cérebro – área responsável pela reflexão sobre consequências e controle de atitudes – amadurece de forma lenta. Essa característica torna os jovens mais suscetíveis às ofertas de recreação inadequada, ainda mais quando eles não recebem informação sobre as ameaças relacionadas ao consumo de álcool”, afirma a hebiatra e presidente do DC de Adolescência da SBP, dra. Alda Elizabeth.
RISCOS – Para a especialista, é importante investir em ações de caráter educativo sobre os malefícios do uso precoce, uma vez que pesquisas científicas nacionais e internacionais são unânimes em apontar seus efeitos deletérios para a saúde. Conforme ressalta a nota da SBP, acidentes automobilísticos associados ao álcool são uma das principais causas de morte em jovens de 16 a 20 anos. Além disso, estar alcoolizado aumenta a chance de atividades sexuais sem proteção, de violência sexual, de exposição às infecções sexualmente transmis sí ;veis e o risco de gravidez.
“A sociedade como um todo precisar atuar para não naturalizar o consumo de álcool. Festas infantis, aniversários de 15 anos e qualquer outro evento com ampla participação de crianças ou adolescentes não deve conter bebidas. Os pais também devem desestimular o consumo dos filhos e apoiá-los contra pressões sociais, muitas vezes vindas dos amigos. Vale lembrar que o uso de álcool antes dos 15 anos causa predisposição quatro vezes maior para desenvolver dependência e existe associação direta entre o uso de álcool e outras drogas”, explica a dra. Alda Elizabeth.
RECOMENDAÇÕES POLÍTICAS – Para prevenir e enfrentar as consequências negativas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica cinco intervenções objetivas – denominadas SAFER (no acrônimo em inglês) – que podem ser adotadas pelo Poder Público para reduzir o consumo destas bebidas pela população, sendo elas:
- Reforçar as restrições à
disponibilidade de álcool, especialmente para menores de 21 anos (no
Brasil, a lei determina a menores de 18 anos);
- Aplicar medidas punitivas
severas para motoristas de qualquer veículo de locomoção que dirija após
beber, inclusive os transportes fluviais e marítimos;
- Facilitar o acesso à
triagem, intervenções breves e tratamento para usuários abusivos de
bebidas alcoólicas;
- Impor proibições ou
restrições abrangentes à publicidade de álcool, patrocínio e promoção de
eventos, especialmente quando acessíveis ao público infantil e
juvenil;
- Aumentar os preços de
bebidas alcoólicas por meio de impostos especiais de consumo.
- Alertar as crianças e
adolescentes, por meio de seus pais, educadores e nas consultas
pediátricas, sobre a proibição de venda-consumo de bebidas e iguarias que
contenham álcool – incluindo sorvetes, picolés e sacolés – a menores de 18
anos;
- Alertar sobre as
consequências do uso precoce do álcool e de outras drogas, legais e
ilegais, especialmente durante a fase do desenvolvimento cerebral;
- Evitar o uso desenfreado nas
festas de família, fato que leva à banalização da alcoolização
(“bebedeira”), uma distorção cultural;
- Reforçar o modelo dos pais
no cumprimento da lei, não permitindo o uso de bebidas alcoólicas e outras
drogas no convívio familiar;
- Proibir a oferta de bebidas
alcoólicas em festas de aniversário e outras celebrações que tenham a
participação de crianças e adolescentes;
- Conversar com os filhos sobre
a publicidade nas mídias, que escondem o lado negativo e prejudicial do
álcool à saúde (análise crítica);
- Não utilizar logos de
bebidas alcoólicas, como as cervejas, em camisetas e outros produtos, pois
é um modo de marketing que favorece o consumo precoce entre adolescentes;
- Alertar sobre os riscos de
desidratação e de hipoglicemia (baixa da glicose no sangue) em shows,
eventos e baladas. Estimular o consumo de água.
- Estabelecer um telefone de
contato para qualquer emergência;
- Instituir uma rede de apoio
com outros pais e com a escola para o planejamento das estratégias de
prevenção e cuidados durante festas e outras atividades culturais ou
comunitárias.
O Departamento Científico de Adolescência da SBP é
composto pelos drs. Alda Elizabeth Boehler Iglesias Azevedo (presidente);
Tamara Beres Lederer Goldberg (secretária); Darci Vieira da Silva Bonetto;
Elizabeth Cordeiro Fernandes; Gianny Cesconetto; Halley Ferraro Oliveira; Ligia
de Fatima Nobrega Reato; e Maria Inês Ribeiro Costa Jonas.
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