Se Stephen Hawking teve sua vida
retratada no filme "A teoria de tudo", o prefeito de Porto Alegre
poderia motivar um filme cujo título fosse "A solução de tudo". Nós
cidadãos seríamos os protagonistas e financiadores.
Depois de apresentar aos
porto-alegrenses a primeira e já descomunal parcela do novo IPTU, que crescerá
em progressão aritmética nos anos vindouros, o prefeito retoma o esquema para
"solucionar" o problema do preço excessivo do transporte por ônibus
na capital. Trata-se de uma forma "criativa" de chegar ao mesmo
resultado: tomar dos cidadãos os recursos necessários para isso.
Em vez de encontrar resposta e
solução para o fato de a capital gaúcha ter o transporte por ônibus mais caro
do Brasil (sem ser o melhor dentre todos), o prefeito optou por atacar os
aplicativos de transporte, tarifando-os em R$ 0,28 por quilômetro rodado.
Obviamente, o dinheiro que esse achaque proporcionará segue o mesmo fluxo do
novo IPTU: sai do bolso dos cidadãos clientes do sistema para fazer sorrir o
caixa. E vale o mesmo para a outra ideia
luminosa que pretende constranger as empresas da capital a pagarem, por
empregado, uma taxa mensal ainda indefinida. Essa taxa substituiria o vale
transporte, independentemente do fato de esses empregados usarem ou não o
transporte de ônibus da cidade. E lá vai a mão buscar nos mesmos bolsos a
solução de tudo.
Não bastante o recurso assim
amealhado, a administração resolveu buscar inspiração adicional na prática que
vai se tornando comum em balneários e locais de grande fluxo turístico no
exterior e se reproduz no Brasil - cobrar uma taxa de quem ingressa motorizado
no espaço urbano. O problema é que o grande fluxo diário em direção a Porto
Alegre (majoritariamente oriundo da Região Metropolitana) não se forma com
pessoas interessadas em visitar o Museu Júlio de Castilhos, ou em assistir o
pôr do sol sobre as águas do Guaíba. É gente que vem trabalhar e gerar riqueza,
consumir e deixar seu dinheiro na cidade, buscar atendimento na rede de
serviços de saúde, resolver problemas em repartições estaduais e federais por
um motivo que parece ter sido esquecido pela voracidade fiscal da
administração: Porto Alegre é a capital do Estado, com funções e
responsabilidades que não podem ter acessibilidade restrita.
A iniciativa de encaminhar tais
projetos à Câmara foi saudada pelos jornalistas locais sabidamente afinados com
o pensamento de esquerda. Reconheceram e louvaram o DNA socialista do pacote de
Marchezan. Todos se esqueceram, no entanto, de sublinhar devidamente algo que é
a parte perversa desse DNA: os socialismos vivem do dinheiro alheio, se
oxigenam metendo a mão no bolso de uma parcela da sociedade até que o dinheiro
vá embora ou acabe. Ideias para produzir isso é que não faltam. Com novas
taxas, por exemplo, seria possível viabilizar uma nova estação rodoviária,
restaurar a dignidade da Rua Voluntários da Pátria e revitalizar o Cais Mauá.
O
corolário que acompanha as medidas socialistas é a escassez de tudo, a
deterioração de tudo, a miséria servida em prato de papelão até que só reste o
papelão.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de
jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a
tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo
Pensar+.
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