De acordo com estudo da IQVIA,
empresa norte-americana de auditoria e pesquisa de mercado farmacêutico, entre
julho de 2013 e junho de 2014, o número de vendas de antidepressivos e
estabilizadores de humor era de quase 47 milhões de comprimidos, enquanto entre
julho de 2017 e junho de 2018 a venda foi de quase 71 milhões.
Pior: uma pesquisa feita em
todo o país pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto
Datafolha, apontou que entre pessoas que tomaram algum medicamento nos últimos
seis meses, 47% fez isso sem prescrição médica pelo menos uma vez por mês,
sendo que em um quarto destes casos, amigos, vizinhos e parentes foram os
principais influenciadores na hora da decisão. Dentre os 77% que confessaram
que se automedicam, 25% fazem isso todos os dias ou pelo menos uma vez por
semana, 22% uma vez ao mês e 30% menos de uma vez a cada 30 dias
Segundo o psiquiatra Dr. Elie
Cheniaux, professor titular de psiquiatria da UERJ e membro licenciado da
Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro; no caso dos remédios psiquiátricos,
o grande perigo é que, além de causarem dependência química ou psicológica,
muitos consumidores fazem uso concomitante a outros remédios, sem orientação
médica ou mesmo sem comunicar ao seu profissional de saúde. E a interação de
antidepressivos com determinados medicamentos pode representar uma verdadeira
bomba-relógio ao organismo.
Sobre interação
medicamentosa
De acordo com Cheniaux, há
dois tipos de interação medicamentosa: farmacocinética e farmacodinâmica. A
farmacocinética é a influência de uma medicação sobre outra no que diz respeito
ao “trajeto” do remédio no corpo, desde sua absorção e circulação no organismo
até sua metabolização e excreção. A farmacodinâmica diz respeito à influência
de uma medicação no funcionamento (sua ação farmacológica) de outro remédio.
A interação farmacocinética
ocorre principalmente no fígado, responsável pela metabolização da maioria dos
medicamentos. Há um sistema de enzimas (o sistema citocromo P450) que
metaboliza as medicações. “Se um determinado remédio inibe o funcionamento de
alguma enzima desse sistema, outro medicamento que seja metabolizado por esta
mesma enzima sofrerá uma redução desta metabolização, resultando numa
quantidade maior da medicação circulando no organismo, o que pode causar mais
efeitos colaterais ou mesmo uma intoxicação medicamentosa”, explica o
psiquiatra.
Inversamente, se um
medicamento estimula o funcionamento de uma enzima, outra medicação, que reaja
por esta mesma enzima, será metabolizada em quantidade maior, resultando na
redução de sua quantidade no sangue, com redução do seu efeito terapêutico.
“Tomamos como exemplo os
antifúngicos, usados para tratamento de micoses como pé de atleta,
dermatofitoses, candidíase, infecções sistêmicas como meningite, entre outros.
A terapia envolvendo os antifúngicos imidazólicos fluconazol ou cetoconazol,
concomitantemente ao escitalopram, um antidepressivo inibidor seletivo de
recaptação da serotonina (isrs), pode resultar no aumento dos efeitos
colaterais deste”, exemplifica Cheniaux.
Isso acontece, segundo ele,
porque o escitalopram é um substrato da cyp450, e tanto o fluconazol como o
cetoconazol inibem esta enzima. Com a ingestão dos dois medicamentos, o
paciente pode ter náusea, vômitos, constipação, diarreia, dor abdominal,
redução da libido, insônia, sonolência diurna, aumento da sudorese, entre
outros. No caso da interação do antidepressivo com o antifúngico imidazólico, é
raro que haja necessidade de reduzir a dose do antidepressivo.
“Neste caso, o médico responsável
pela prescrição do antidepressivo deve verificar a necessidade de ajustar a
dose do medicamento e/ou monitorar periodicamente a eficácia e os efeitos
colaterais dos antidepressivos, especialmente no início do tratamento. Daí a
importância de deixar o médico a par de todas as medicações que estão sendo
usadas pelo paciente”, alerta o psiquiatra.
Sobre o álcool e
suas interações
O álcool é uma substância
depressora do sistema nervoso central (SNC). Ele age estimulando o sistema
GABAérgico (inibidor do SNC) e inibindo o sistema glutamatérgico (estimulador
do SNC), além de agir em outros sistemas de neurotransmissão. O álcool é
metabolizado no fígado pelas enzimas álcool-dehidrogenase e
aldeído-dehidrogenase. Medicações que inibem a aldeído-dehidrogenase provocam
aumento dos níveis de álcool no sangue (interação farmacocinética), por
exemplo, algumas substâncias antifúngicas (metronidazol, cetoconazol).
Em relação aos psicofármacos como benzodiazepínicos, antidepressivos e antipsicóticos, a interação medicamentosa mais importante é a farmacodinâmica. Segundo Elie Cheniaux, esses medicamentos potencializam o efeito depressor do álcool, pois são, eles próprios, substâncias depressoras do sistema nervoso central. “Do ponto de vista da pessoa que ingeriu álcool e alguma dessas substâncias, a sensação é de ter bebido muito mais do que bebeu de fato; os efeitos de embriaguez são mais acentuados com doses pequenas de álcool”.
Em relação aos psicofármacos como benzodiazepínicos, antidepressivos e antipsicóticos, a interação medicamentosa mais importante é a farmacodinâmica. Segundo Elie Cheniaux, esses medicamentos potencializam o efeito depressor do álcool, pois são, eles próprios, substâncias depressoras do sistema nervoso central. “Do ponto de vista da pessoa que ingeriu álcool e alguma dessas substâncias, a sensação é de ter bebido muito mais do que bebeu de fato; os efeitos de embriaguez são mais acentuados com doses pequenas de álcool”.
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