Para entender o caminho
percorrido por um documentário mistificador até postular sua inscrição na
disputa da estatueta dourada de Hollywood basta erguer a ponta de alguns
tapetes elegantes e dar uma espiada. À exceção dos brasileiros que mantenham
com a mentira e a falsidade uma relação de interesse político ou econômico
todos sabem o quanto o Brasil foi roubado por aqueles que monopolizaram o poder
nas últimas décadas. Graças à Operação Lava Jato, veio à tona a maior
bandalheira institucionalizada da história universal.
Essa corrupção, nunca é
demais lembrar, fraudou eleições em todo o país, corrompeu a representação
popular e pôs a democracia efetivamente em vertigem. Roubando da nação,
proporcionou sucessivos mandatos a criminosos em eleições federais, estaduais e
municipais. A democracia brasileira apodreceu no pé. Muitas dessas frutas
danificadas, bichadas, foram ao solo no pleito de 2018 sob ação da vassoura
eleitoral. Claramente, porém, entre os que voltaram e os que chegaram ainda
sobrou muito bandido com diploma. Mas nada disso põe a democracia em vertigem
no documentário de dona Petra Costa. Quem o faz é o constitucionalíssimo
impeachment de Dilma, supervisionado pelo presidente do STF, amigo da presidente
cassada.
Fato: para a banda
podre, não há urgência nacional ou premência superior à envolvida na aprovação
de leis que criem obstáculos à persecução penal nos crimes de corrupção ativa,
passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. E haja tapete! E haja
vertigem. Na dúvida, basta lembrar a coerência instrumental que une:
- · os maus tratos do Congresso às Dez Medidas de Combate à Corrupção;
- · as emendas ao Pacote Anticrime de Sérgio Moro;
- · a inoportuna deliberação do Supremo, que praticamente inviabilizou a prisão após condenação em segunda instância e jogou no lixo seco a justiça de 2º grau;
- · a lei de "abuso de autoridade";
- · a criação do juízo de garantias;
- · a decisão de retomar os processos cujas alegações finais não concederam à parte denunciada o direito de falar em último lugar (uma irrelevância cuja única serventia foi a de soltar os amigos);
- · o empenho em impedir o acesso dos órgãos de persecução penal aos relatórios do COAF.
Bem menos do que isso credenciaria
importantes autoridades da República a comendas da Ordem do Capeta por
malefícios prestados à nação. A corrupção luta com todos os meios possíveis.
Dona Petra Costa, por exemplo, pisa na ponta do tapete da Andrade Gutierrez
para fazer seu documentário ao gosto de Hollywood.
É preciso entender, contudo, que a peça chega
à disputa do Oscar na etapa final de descomunal mistificação, em conformidade
com os usos e costumes da esquerda mundial, cuja solidariedade estratégica
chega a ser comovente. Nesse ambiente, dito cultural, os prêmios e as medalhas
são reais, carinhosos e generosos como costumam ser as ações entre amigos.
Em agosto de 2019, o jornal italiano La
Repubblica abriu manchete com algo do tipo "O mundo contra
Bolsonaro". Uau! Matérias semelhantes se somavam no exterior, sempre em
jornais de esquerda, como New York Times, Le Monde, El país, The Guardian,
Neues Deutschland, entre outros. Seus
conteúdos põem foco negativo na política do governo brasileiro, que aplica o
programa conservador e liberal democraticamente consagrado nas urnas. Esse
programa rejeita aquilo que a esquerda mundial corteja e rotula como
progressista: governos corruptos, ditadores, terroristas, antiocidentais e
radicais islâmicos. Toda notícia contra o Brasil e seu governo publicada nesses
veículos repercute na nossa imprensa como leitura "europeia e
civilizada" da realidade nacional. Dê uma olhada no Google: uma nota em
qualquer jornal esquerdista lá fora produz duas dúzias de notícias em grandes
jornais brasileiros. Legítima jogada ensaiada.
A imprensa nacional não poderia, então,
contestar as mistificações do documentário? É uma boa pergunta, com respostas
assustadoras. A divisão política da
sociedade brasileira tornou-se evidente ao senso comum. A longa e bem sucedida
criação de animosidades entre segmentos sociais por obra do grupo político
esquerdista hegemônico no Brasil até 2016 só é lembrada, no entanto, por quem
tem neurônios, memória e juízo. Por isso, é oportuno sublinhar que as fingidas
reclamações contra a divisão, atribuída ao surgimento de movimentos políticos
conservadores e liberais, provêm de quem não se peja de fomentar esse
sentimento em prejuízo do país, valendo-se de suas parcerias internacionais. As
tribos de Los Angeles servem muito bem para isso, como se sabe.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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