No
último domingo, o Brasil inteiro foi às urnas votar e eleger os políticos que
irão governar o país nos próximos quatro anos. Se entre os representantes do
legislativo o próximo governo já está definido o mesmo não aconteceu para o
cargo executivo do palácio do planalto. Em três semanas iremos votar novamente
para escolher o próximo presidente do Brasil e no cenário escolhido ontem temos
a escolha entre o candidato do PSL - Partido
Social Liberal, Jair Messias Bolsonaro e o candidato do PT - Partido dos
Trabalhadores, Fernando Haddad.
Os dois candidatos à presidência com maior rejeição
irão se enfrentar no segundo turno, o cenário de ódio e polarização tem dado o
tom no debate democrático. O fato é que, após o dia 28 de outubro, independente
do resultado das urnas, todos perderemos de alguma forma, uma vez que uma
grande parcela da população não aceitará o resultado e não se sentirá
representada pelo próximo governo. Esse cenário de polarização já conhecemos, é
ele quem acentua a instabilidade e a crise econômica que estamos vivendo nos
últimos anos.
Embora o período eleitoral seja um momento
importantíssimo para debater ideias e projetos do país, pouco se vê sobre o
plano estratégico de cada candidato. Foi pensando nisso que escrevi esse
artigo. Proponho uma reflexão sobre os cenários possíveis imaginando o governo
que está sendo proposto por cada um dos presidenciáveis e qual o impacto que
veremos na geração ou na diminuição de empregos no Brasil.
Por ordem prática vamos avaliar primeiro o cenário
com Jair Messias Bolsonaro, já que esse liderou as urnas com 46% dos
votos válidos. No caso de Bolsonaro o que mais assusta o mercado é o medo do
desconhecido, que na verdade, não é tão desconhecido assim por já ser deputado
desde 1991. O candidato é visto como uma incógnita cercado de instabilidades e
polêmicas. Apesar disso, a indicação do economista Paulo Guedes para o
ministério da fazenda, é bem vista por parte do mercado e traz certa segurança
quanto as capacidades de escolha do “futuro presidente”. O candidato do PSL
defende o livre mercado, é a favor das reformas: trabalhistas, previdenciárias
e tributárias, além de propor a desburocratização do governo e a redução de
ministérios.
Pouco antes do primeiro turno, Jair Bolsonaro
recebeu apoio da bancada evangélica e da bancada agropecuária indicando certa
governabilidade caso venha a ser eleito no 2o. turno. Outro fator
que fez com que o mercado econômico reduzisse a desconfiança no candidato foi a
queda do dólar e o aumento da bolsa de valores logo após as pesquisas de IBOPE
e DATAFOLHA que mostraram um aumento da intenção de votos ao candidato na
última semana pré-eleição. Dentro desse espectro, o mercado se sente mais
confiante e podemos então esperar uma maior geração de empregos e uma retomada
econômica ainda que com boa dose de “pés no chão”.
Do outro lado, com 29,3% dos votos válidos, Fernando
Haddad. Quando se compara carisma e discurso o candidato do PT ganha de seu
oponente. Mas, seja por decisões de campanha ou por simplesmente ser o
candidato que representa o governo dos últimos 16 anos e, consequentemente,
todos os escândalos de corrupção que assolaram o Brasil recentemente, Haddad
tem configurado um risco muito grande para o mercado. Em todo o primeiro turno,
o candidato ignorou propostas para retomar a economia e mais do que isso, o
plano de governo apresentado deixou o mercado assustado quando abertamente
criticou reformas importantíssimas para tirar o Brasil da crise. Não fosse esse
completo silêncio para o mercado econômico, talvez Haddad diminuísse o medo de
alguns setores. Acredito que no segundo turno essa movimentação será feita e
então teremos uma previsão sobre sua capacidade de governar junto com a câmara e
com os senadores.
Ao declarar a convocação de possíveis plebiscitos
e/ou referendos caso haja discordância entre executivo e legislativo, o
candidato criou um clima de insegurança que aumenta o medo de alguns setores, e
afasta, ainda mais, os investimentos internacionais. Caso venha a ser eleito,
veremos em um primeiro momento o mercado paralisado, aguardando as cenas e as
decisões dos primeiros cem dias de governo. Espera essa que pode ser
extremamente crítica para o avanço do país. Apesar de sua disposição social,
ignorar a economia e posicionar-se contra as reformas da previdência e
trabalhista custou caro, e pode significar mais medo e receio nos empresários
e, portanto, uma maior recessão.
O resultado das urnas, uma vez que foi bem
diferente do que as pesquisas eleitorais previram, deixou muita gente abalada
já que ainda tínhamos a esperança de maior equilíbrio entre os demais
candidatos nessa primeira fase das eleições. O fato é que até uma semana antes
de irmos para as urnas o risco de eleger qualquer um dos dois (Bolsonaro e
Haddad) era o mesmo. Mas, algumas movimentações às vésperas da eleição mudaram
o cenário. Se de um lado temos o medo do incerto, do outro temos o medo do que
já conhecemos como sendo governo. O segundo turno passa a ser uma guerra entre
o maior e o segundo maior partido do país, respectivamente o
ANTI-PT personificado na figura de Bolsonaro e o PT de Haddad.
Iremos acompanhar os próximos dias de campanha, a
movimentação que será feita por cada um dos candidatos e de suas bases, isso
deve transformar o cenário. Ao meu ver a polarização se acentua em uma economia
onde as pessoas não tem emprego, renda e segurança.
Uma coisa é certa a democracia se faz com visões
opostas debatendo e negociando. Enquanto vivermos esse cenário polarizado, onde
todos gritam e ninguém se escuta, estaremos fadados a enxergar o outro como
inimigo. Mesmo com visões opostas sobre como construir um país mais justo eu
acredito que todos queremos a mesma coisa. Não dá para participar do debate
político coberto de certezas e de razão, é preciso deixar espaço para a dúvida
e dessa forma construir pontes onde todos sejam representados.
No
final das contas, nos resta torcer para que tanto uma como outra opção utilize
esses quatro anos para colocar o Brasil de volta nos trilhos e adotar um tom
pacificador e conciliador. Desta forma, com o retorno do emprego e do
crescimento da economia teremos um ambiente favorável para a diminuição da
polarização, caso contrário veremos ainda mais pensamentos extremos, radicalismo
e segregação.
Marcelo Olivieri -
bacharel em psicologia e possui MBA em Gestão
Estratégica. Com mais de 10 anos de experiência no recrutamento
especializado nas áreas de marketing e vendas,
Olivieri é diretor da Trend Recruitment.
Nenhum comentário:
Postar um comentário