Um dos
mecanismos mais efetivos para garantir os benefícios ambientais, sociais e
econômicos oferecidos por nossas florestas naturais e ambientes costeiros está
na criação e boa gestão de Unidades de Conservação (UCs). No Brasil, esta
proteção se dá pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza
(SNUC), que acaba de completar 18 anos.
Em
2010, governos de todo o mundo e signatários da Convenção da Diversidade
Biológica (CDB) concordaram em expandir de 13% para 17% a rede global de áreas
protegidas da superfície terrestre mundial até 2020 (meta de Aichi 11). O
principal motivador foi evitar a perda adicional de espécies ameaçadas de
extinção e proteger os serviços oferecidos por essas áreas, como a produção de
água e de alimentos, regulação do clima, qualidade do ar, lazer e atividades
econômicas.
Apesar
de diversos avanços neste tema, muito ainda precisa ser feito no Brasil para
atingir essa meta. E uma das principais dificuldades para que isso ocorra,
sobretudo na Mata Atlântica, está nos inúmeros conflitos associados a
diferentes usos de terra.
É nessa
hora que aumenta a importância da participação do setor privado nas estratégias
de conservação por meio das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs)
– única categoria de UC de iniciativa privada e uma ótima oportunidade de
engajamento da sociedade na proteção dos recursos naturais.
Na
prática, as RPPNs são uma contribuição, em sua maioria, de pequenos
proprietários rurais, aqueles que possuem menos de 20% das terras no país e
produzem grande parte da nossa alimentação. São eles que, voluntariamente,
dedicam uma pequena fração da sua propriedade à conservação das florestas
nativas e proteção dos recursos hídricos.
Nos
últimos cinco anos o governo federal criou apenas duas novas UCs de proteção
integral na Mata Atlântica – os Parques Nacionais da Serra do Gandarela e
Guaricana. Por outro lado, no mesmo período, foram criadas 155 novas RPPNs no
bioma, o que resultou em mais de 26 mil hectares de florestas naturais
protegidas.
Entre
os exemplos regionais que demonstram essa representatividade destacam-se também
os casos da Mata Atlântica. Enquanto na Serra do Mar temos uma extensa
superfície protegida por UCs públicas, ao norte do rio São Francisco grande
parte dos remanescentes florestais possui menos de 50 hectares de áreas
conservadas, porém inseridas em uma paisagem muito degradada. Lá, as RPPNs – principalmente
as corporativas – são emblemáticas, pois estão entre os principais
remanescentes florestais protegidos. São 14 reservas que somam mais de 3.200
hectares – a maior parte delas de fragmentos vegetacionais de tamanho muito
superior à média regional. Destaques às RPPNs Frei Caneca, Lagoa dos Gatos e
Jussaral, todas com mais de 300 hectares.
A
floresta com araucária, uma das tipologias de Mata Atlântica mais ameaçadas e
com um histórico de super exploração, encontra-se atualmente com menos de 1,5%
de sua área de ocorrência original protegida em UCs públicas de proteção
integral. Assim, destacam-se mais uma vez as RPPNs, que somam no Paraná
aproximadamente 270 reservas e cobrem uma área aproximada de 55 mil hectares.
Deste total, cerca de 65% está inserido na formação de florestas com
araucária.
Existem
RPPNs em 520 municípios dos 3.429 com ocorrência do bioma, sendo que em 214
deles as únicas porções de floresta preservada são em forma de reservas
privadas. E os exemplos citados deixam claro que a parceria com proprietários
de terra merecem maior valorização e devem ser incluídas em políticas públicas
de planejamento e gestão do território que promovem a conservação.
Na
última semana, Florianópolis recebeu um importante encontro sobre conservação
em terras privadas, o V Congresso Brasileiro de Reservas Particulares do
Patrimônio Natural (VCBRPPN). O Congresso foi inspirador e um sucesso, com mais
de 220 participantes, em grande maioria proprietários de reservas. Nesta
semana, começa o IX Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação. Se
pudermos aproveitar a data para dar um recado para toda a coletividade
envolvida neste cenário, sejam do primeiro, segundo ou terceiro setores,
sugerimos seguir o exemplo dos nossos queridos “rppnistas”, grandes guardiões
da natureza.
Façam do interesse público o seu interesse privado. Pois, como um
ciclo contínuo, todos saem ganhando: o meio ambiente, o homem e a economia
nacional, alcançando assim o desenvolvimento perene.
Marcia Hirota e Monica Fonseca - são,
respectivamente, diretora-executiva e consultora da Fundação SOS Mata
Atlântica.
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