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segunda-feira, 30 de julho de 2018

Crise que não é inédita


A maioria dos brasileiros crê que imergimos num buraco sem fundo, do qual não sairemos, pelo menos a curto e médio prazo.

É verdade, mas procuremos voltar à superfície, sem desconsiderar que os responsáveis devam ser punidos exemplarmente.

Por outro lado, embora o momento seja dramático, não é único, no Brasil e no mundo.

A mais expressiva das organizações políticas que a história noticia - o Império Romano -, assim como este nosso novo e sofrido País, viveu em crise crônica, ressalvado raros momentos ordenados e éticos.

A corrupção, as mortes por traição nos cantos obscuros dos palácios e das vielas de Roma, no plano político e, no campo moral, a degradação dos costumes, o ócio não criativo e devasso, como se vê da crítica de Tácito, o comportamento do indivíduo livre em face da tirania e do aviltamento geral. Ocorre que essa mesma decadência o produziu - Tácito - e Virgílio - e a profundidade implacável das letras jurídicas de Cícero.

Assim como tempos organizados podem geram seu contrário, as crises também fomentam suas superações. Nosso problema psicológico é que "tempus fugit", porém temos o dever vinculado às gerações que produzimos.

Se iniciarmos a tarefa de reconstrução, só por isso, teremos realizado metade de seus objetivos. "Quem começou, tem metade da obra executada" (Horácio).

Daí a importância da eleição próxima, sem ilusões, posto que nosso problema de representação política é sistêmico. Confiemos, contudo, na intuição acima e demos nosso primeiro passo. Sem pensar em retribuição individual, mas numa longa construção histórica, que não é estranha à humanidade.

Deixemos na urna nosso voto, no sentido da liberdade política, da democracia, da severidade na punição dos que traem a coisa pública, na livre iniciativa, sem grilhões às ideologias que cindem e consomem parte de nosso povo, na experiência necessária de um homem que se encarregará de conduzir um presidencialismo (superado, mas é nossa realpolitik), que compreenda as causas dos fatos e despreze "soluções" imediatas, violentas e grotescas.

Nessa quadra de tragédias e comédias, nada mais no cabe.






                                                                                                                                                            
Amadeu Garrido de Paula - Advogado, sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.


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