A maioria dos brasileiros
crê que imergimos num buraco sem fundo, do qual não sairemos, pelo menos a
curto e médio prazo.
É verdade, mas procuremos
voltar à superfície, sem desconsiderar que os responsáveis devam ser punidos
exemplarmente.
Por outro lado, embora o
momento seja dramático, não é único, no Brasil e no mundo.
A mais expressiva das
organizações políticas que a história noticia - o Império Romano -, assim como
este nosso novo e sofrido País, viveu em crise crônica, ressalvado raros
momentos ordenados e éticos.
A corrupção, as mortes por
traição nos cantos obscuros dos palácios e das vielas de Roma, no plano
político e, no campo moral, a degradação dos costumes, o ócio não criativo e
devasso, como se vê da crítica de Tácito, o comportamento do indivíduo livre em
face da tirania e do aviltamento geral. Ocorre que essa mesma decadência o
produziu - Tácito - e Virgílio - e a profundidade implacável das letras
jurídicas de Cícero.
Assim como tempos
organizados podem geram seu contrário, as crises também fomentam suas
superações. Nosso problema psicológico é que "tempus fugit", porém
temos o dever vinculado às gerações que produzimos.
Se iniciarmos a tarefa de
reconstrução, só por isso, teremos realizado metade de seus objetivos.
"Quem começou, tem metade da obra executada" (Horácio).
Daí a importância da eleição
próxima, sem ilusões, posto que nosso problema de representação política é
sistêmico. Confiemos, contudo, na intuição acima e demos nosso primeiro passo.
Sem pensar em retribuição individual, mas numa longa construção histórica, que
não é estranha à humanidade.
Deixemos na urna nosso voto,
no sentido da liberdade política, da democracia, da severidade na punição dos
que traem a coisa pública, na livre iniciativa, sem grilhões às ideologias que
cindem e consomem parte de nosso povo, na experiência necessária de um homem
que se encarregará de conduzir um presidencialismo (superado, mas é nossa realpolitik), que compreenda
as causas dos fatos e despreze "soluções" imediatas, violentas e
grotescas.
Nessa quadra de tragédias e
comédias, nada mais no cabe.
Amadeu Garrido de
Paula - Advogado, sócio do Escritório
Garrido de Paula Advogados.
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