Modelo que privilegia a
saúde e não a doença, mudança cultural e mais diálogo com o governo podem
resultar em mensalidades mais acessíveis
Ter um plano de saúde é o
terceiro item da lista de desejos do brasileiro, só perdendo para a casa
própria e educação. Segundo pesquisa do Ibope mais de 80% dos beneficiários
estão satisfeitos ou muito satisfeitos com a assistência de saúde prestada
pelas operadoras. Então, por que apenas 25% da população brasileira possui um
plano de saúde? A resposta parece óbvia: o alto custo. Os números da crise
econômica comprovaram que três milhões de pessoas precisaram abrir mão do plano
de saúde nos últimos anos migrando para, principalmente, as duas seguintes opções:
o SUS, que opera acima da capacidade e com atendimento deficiente em várias
áreas, e as clínicas populares ou cartão de desconto – modalidade de
atendimento de saúde de baixo custo que se proliferou pelo País, mas que não é
fiscalizada pelo Governo (pelo menos não com tanta seriedade quanto os planos
de saúde).
O próprio conceito de
sobrevivência da modalidade cartão de desconto já nasceu com uma visão
distorcida e operando com uma lógica que pode ser tida como perversa. Isso
porque é um serviço que lucra com a doença – e a saúde fica em segundo lugar.
Enquanto para as operadoras não é interessante ter um cliente doente – tanto do
ponto de vista econômico quanto humano, motivo pelo qual tem investido cada
mais em programas de promoção de saúde e prevenção de doenças – para as
clínicas populares o que gera lucro é a doença, que faz com que as pessoas
necessitem de exames e de tratamentos. Dessa forma podemos enxergar claramente
duas visões de assistência de saúde privada: o plano de saúde e o plano de doença.
Os planos de saúde trabalham
justamente no viés contrário: quanto mais doente a população, maior seu custo
e, consequentemente, menor o resulto positivo. As operadoras têm isso bem claro
em sua estratégia e trabalham focadas na promoção da saúde, incentivando hábito
saudáveis, como alimentação correta, exercícios físicos e cuidados com doenças
crônicas (diabetes, hipertensão, depressão etc). A prevenção propriamente dita
também faz parte do dia a dia, o que significa conhecer a saúde de seus
beneficiários para propor um adequado acompanhamento de saúde, com a indicação
precoce de exames como medida de identificação de doenças. A mamografia, os
testes ginecológicos, o exame de toque retal são alguns exemplos. São
benefícios que apenas quem tem um plano de saúde pode contar.
Outro movimento forte nas
operadoras é o de popularizar a figura do médico gestor ou, simplesmente,
médico de família, um modelo de sucesso na área da saúde bastante difundido no
Canadá e em países da Europa, que tem um nível de resolubilidade muito superior
a encontrada atualmente no Brasil. O médico de família tem a capacidade de
cuidar dos pacientes de forma generalista, evitando a troca frequente de
profissionais e as consultas desnecessárias. Por conhecer o histórico do
paciente, o médico de família é quem irá avaliar e fazer o encaminhamento para
o especialista, se necessário.
A grande maioria da
população vai ao médico quando já estão com um problema e aí cabe ao
profissional (nem sempre o mais indicado) apenas tratar os sintomas. O que se
busca é que as pessoas cuidem de sua saúde de forma constante e o médico de
família seja o grande aliado nesse objetivo. Esse modelo de saúde proposto é
benéfico para a população, para as operadoras de planos de saúde e para a saúde
pública. O caminho é longo, pois envolve uma mudança cultural. Mas as
perspectivas são otimistas: a tendência é que baixe drasticamente os custos das
operadoras que poderão repassar essa economia aos beneficiários. Isso também
irá desafogar o SUS que poderá buscar maior equilíbrio e melhores práticas.
Outra solução plausível para
a realidade brasileira e que necessita de legislação da ANS é a utilização da
ampla rede de operadoras de saúde, com sua expertise em prevenção de doenças e
promoção à saúde, na oferta de consultas e exames pré-pagos nos mesmos moldes
do Sinam – Sistema Nacional de Atendimento Médico. Estes procedimentos poderiam
ser cobrados à parte junto ao plano hospitalar obrigatório, permitindo que o
beneficiário tenha a segurança de um plano de saúde em regime de internação
hospitalar, justamente onde há grande dificuldade no pagamento direto devido
aos altos custos envolvidos. Esta modalidade permitiria baixar em até 50% o
custo dos planos médicos, trazendo mútuo benefício para a população e a
operadora de saúde.
Cadri Massuda -
presidente do SINAMGE-Sindicato Nacional dos Planos de Saúde e presidente da
regional PR/SC da ABRAMGE-Associação Brasileira de Planos de Saúde.
Nenhum comentário:
Postar um comentário