Há filmes que
são absolutamente surpreendentes pela mudança de tom que apresentam no seu
desenrolar. É o caso da obra sul-coreana ‘Eu consigo falar’, de Kim Hyun Seok. O
que parece ser apenas uma comédia sobre uma senhora que decide aprender a falar
inglês com um jovem funcionário público se torna uma incisiva denúncia
humanitária.
O tema
central, ao contrário do que parece inicialmente, não é o domínio de uma nova
língua, no caso, o inglês; mas sim o fato de o Japão não reconhecer
publicamente a existência das chamadas ‘Mulheres do conforto’, escrevas sexuais
sul-coreanas exploradas pelos soldados japoneses durante a Segunda Guerra
Mundial.
Enquanto a
protagonista consegue aprender inglês para se pronunciar em Washington, EUA,
sua melhor amiga, que a salvara de cometer suicídio quando eram abusadas
sexualmente no Japão, deixa seu relato por escrito quando, vítima de Alzheimer,
começa a perceber que está perdendo a memória.
O
relacionamento entre o funcionário público, que cuida do irmão mais novo após
perder os pais, e a sua idosa aluna é repleto de delicadezas. Em paralelo à
violência da guerra, está o conflito cotidiano que envolve pessoas comuns e o
mercado imobiliário, por exemplo. Num mundo caótico, apenas as relações humanas
sinceras salvam.
Oscar D'Ambrosio - mestre em Artes Visuais e doutor em Educação, Arte e
História da Cultura, é Gerente de Comunicação e Marketing da Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo.
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