Um técnico, um capitão, jogadores na reserva,
11 homens em campo e um destino: ganhar. Este é o roteiro de uma partida de
futebol. Porém, modificando algumas peças, poderia ser também o perfil de uma
equipe corporativa atrás de um objetivo em comum. O coach Edson Moraes,
formado pelo Instituto EcoSocial e certificado pelo ICF – International Coach
Federation, responde algumas questões e mostra que as várias seleções que
participam do maior campeonato do mundo de futebol podem ensinar muito para
profissionais de diversas áreas. Confira:
1 – Como um time de
futebol pode inspirar uma equipe corporativa? Quais semelhanças?
Entendo que toda e qualquer modalidade desportiva, que seja disputada por equipes, sirva como metáfora para trabalhos relacionados à
liderança ou à busca de resultados em uma
corporação. Em ambos os casos há a figura de um ou mais líderes, papéis e
responsabilidades distintas, necessidade de trabalho colaborativo e foco no
resultado.
2 – O técnico define os jogadores, mas o
talento pessoal, conta. Porém, o individualismo pode prejudicar uma partida. E no ambiente profissional?
Depende da situação. Equipes comerciais tendem a ser
baseadas na atuação de talentos individuais,
pois o trabalho colaborativo é incomum nesses
casos, uma vez que as pessoas não querem compartilhar contatos nem
oportunidades de negócios com ninguém que seja uma ameaça ao seu resultado
pessoal. Equipes de produção, suporte ou apoio a negócios precisam ser mais
colaborativas. Nessas, o individualismo pode
prejudicar o resultado coletivo e a garantia dos processos.
3 – No caso do time de Portugal, muitos dizem
que Cristiano Ronaldo “carrega o time”. No mundo corporativo isso pode
acontecer?
Muito difícil encontrar este modelo em empresas grandes, mas
certamente ocorre em empresas de pequeno ou até médio porte. Tais empresas
muitas vezes estão baseadas nas habilidades, competências ou networking de seus
líderes e dependem deles para buscar resultados.
4 – Isso pode ser
prejudicial? E como evitar que isso aconteça?
Pode ser prejudicial se a empresa crescer e continuar a
depender de uma única pessoa. Aprender a delegar e descentralizar processos,
decisões e ações são requisitos fundamentais para o desenvolvimento da carreira
e da empresa.
5 – No futebol tem
se o líder principal (técnico) e outro dentro do campo (capitão)? E no mundo corporativo? Isso não
confunde?
O conflito (geralmente de egos) acontecerá se não houver
uma clara definição de papéis e responsabilidades. Um bom técnico precisa de um
jogador em campo que faça a diferença na liderança do time. Em uma empresa, o
principal gestor necessita de líderes que saibam conduzir suas equipes.
6 – O técnico da Espanha admitiu que assim que terminasse o campeonato,
deixaria o cargo para treinar o Real Madrid. Porém, ao saber disso, a Federação
Espanhola o demitiu às vésperas da Copa. Em um ambiente corporativo, quais as
consequências de algo similar? Os funcionários se recuperariam do susto
rapidamente?
Sim, os funcionários se recuperam rapidamente. Quanto à
atitude do técnico da Espanha, o que pesa é a ausência de lisura e ética no
processo. Um profissional deve honrar seus compromissos e sua palavra. Venho do
mercado financeiro, onde um “fechado” em um negócio não poderá nunca ser revisto.
Apesar da quantidade de contratos assinados em qualquer processo do mundo dos
negócios, honrar a palavra ainda tem um simbolismo importante em qualquer
meio.
7 – Quando um time ganha, de modo fácil ou
com muitos gols, é possível que ache o grande favorito. Essa soberba pode atrapalhar?
Trace paralelos.
Como no mercado de ações, ganhos passados não garantem
resultados futuros. Um investidor sabe disto e um empresário deve partir sempre
desta mesma premissa. Um bom resultado, mesmo que uma goleada, não garante que
o próximo negócio ou período traga resultado equivalente. A experiência conta
muito no mundo corporativo e faz com que evitemos cometer os mesmo erros
novamente, mas não garante que o resultado seja sempre o mesmo. Foco,
observação de mercado e presença ativa e consciente na gestão da empresa trazem
consistência nos resultados, mas não garantem vitórias sempre.
8 – O contrário também. Como se recuperar de
uma derrota, mesmo que pequena?
Da mesma forma, observar os erros, não se deixar abater e
manter o foco nos objetivos. Não há pessoa ou empresa que não tenha sofrido
algum revés. Saber avaliar a derrota, identificar os erros e ponderar se vale a
pena continuar no jogo são aspectos importantes. Muitas vezes, sair do jogo é
uma saída mais inteligente do que permanecer perdendo.
9 – E se a derrota for acachapante, como os
inesquecíveis 7 x 1 entre Alemanha e Brasil, em 2014? Como superar isso em um
ambiente de trabalho?
Certamente trocar o quadro de gestores será o primeiro
passo. Depois disto, estabelecer novos objetivos, redefinir o time, treinar e
voltar a campo.
10 – Faça um resumo do que podemos aprender,
profissionalmente, assistindo aos jogos e vendo as equipes em campo.
Tomando-se como base as competências essenciais definidas
pelo Fórum Econômico Mundial, devemos observar como são resolvidos os problemas
complexos de uma partida (como reverter um placar desfavorável); o uso da criatividade na construção de jogadas; perceber como o técnico monta seu time e quais
mudanças ele faz ao longo da partida (alguns jogadores essenciais saem
lesionados e outros por baixo desempenho);
observar como o time desenvolveu sua inteligência emocional e como reage às
pressões psicológicas da partida; como são
tomadas as decisões em campo; como negociam
entre eles e com o juiz; e como lidam com os
aspectos cognitivos (como fazer a leitura do adversário, dos árbitros, da
torcida e do próprio time). Enfim, um time pode nos ensinar muito sobre
habilidades sutis que podem ser empregadas em nosso dia a dia corporativo.
Fonte: Edson Moraes
é sócio do Espaço Meio - https://espacomeio.com.br , Executive Coach desde 2014 e Consultor (Gestão &
Governança) desde 2003. Foi Executivo do Bank of America entre 1982 e 2003.
Seguiu carreira na Área de Tecnologia da Informação, foi Head do Escritório de
Projetos e CIO por 4 anos. É Master em Project Management pela George
Washington University. Participou de programas de educação executiva na
área de TI ( Stanford University, Business School São Paulo e Fundação
Getúlio Vargas). Formado em Comunicação Social – Jornalismo pela PUC/SP. É
Conselheiro de Administração formado pelo IBGC, Coach pelo Instituto EcoSocial
e certificado pelo ICF. Articulista e palestrante nas áreas de
Governança, Tecnologia da Informação e Gestão de Projetos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário