Visão Geral da Carta de Conjuntura, divulgada nesta
quinta, 28, aponta fatores externos e internos para a revisão das projeções
A
combinação da piora do cenário externo com incertezas sobre o cenário interno
levaram o Grupo de Conjuntura do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) a revisar algumas das projeções macroeconômicas para 2018 e 2019. A
previsão para o crescimento do produto interno bruto (PIB) – o conjunto das
riquezas do país – foi reduzida de 3% para 1,7%, conforme a seção Visão Geral
da Carta de Conjuntura nº 39 do Ipea, divulgada nesta quinta-feira, 28,
em coletiva de imprensa no Rio de Janeiro.
Em relação ao cenário externo, o estudo aponta que dois fatores
com origem nos Estados Unidos parecem ter influenciado fortemente a economia
brasileira: a perspectiva de uma elevação mais rápida dos juros e o
recrudescimento das medidas protecionistas contra importações nos EUA. Essa
mudança no cenário internacional aumentou a pressão sobre a taxa de câmbio – o
real já se desvalorizou 20% ante o dólar desde o final de janeiro deste ano.
Essa desvalorização é o dobro da variação média de 10% da taxa de câmbio de
países emergentes, indicando que fatores específicos à economia brasileira
estariam amplificando os efeitos do choque externo.
A seção da Carta de Conjuntura mostra que, embora a percepção de
risco de diferentes países emergentes tenha aumentado, o risco específico
associado ao Brasil aumentou significativamente mais que o referente a outros
emergentes nos últimos meses. A indefinição sobre como será enfrentado o
problema fiscal no país, somada aos efeitos da greve dos caminhoneiros,
representou um choque de oferta negativo sobre a economia, com significativa
perda de produto e aumento de preços, com impactos diretos e indiretos sobre as
contas públicas.
O documento explica que o desempenho deste ano deve ser
impulsionado pelo consumo das famílias (2,3% de crescimento) e pelos
investimentos (alta de 3,6%). Haverá aumento também do PIB da indústria (1,4%)
e de serviços (1,8%). Já o consumo do governo deverá diminuir 0,5%, e a
expectativa para o PIB agropecuário é de queda de 1%. Para 2019, a projeção é
de um crescimento de 3% do PIB.
“No
ano passado tivemos uma deflação no setor de alimentos. Neste ano, prevemos um
aumento de 3,9% e, embora possa parecer, a greve dos caminhoneiros não é a
principal causa desse aumento. O que deve acontecer no restante do ano é uma
reversão da tendência de queda dos preços dos alimentos ao consumidor final, o
que já era esperado antes da greve”, afirma José
Ronaldo de Castro Souza Júnior, diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas
do Ipea.
A
Visão Geral projeta uma inflação (IPCA) de 4,20% em 2018 e 4,30% em 2019. O impacto da greve dos caminhoneiros, bem como o aumento do
dólar e quebras de safra, tanto no Brasil quanto na Argentina, afetou
negativamente a inflação de vários subgrupos para o mês de maio, com destaque
para “Tubérculos, Raízes e Legumes”, “Hortaliças e Frutas”, “Leite e
Derivados”, “Farinhas, Féculas e Massas”.
Segundo o trabalho, “a retomada de uma trajetória de crescimento
sustentado no país depende de forma crucial do equacionamento do desequilíbrio
estrutural das contas públicas, o que só poderá ser alcançado mediante a
aprovação de reformas importantes no Congresso Nacional – dentre as quais a
reforma previdenciária. Enquanto esta questão não for sanada, a economia
brasileira continuará vulnerável a vários tipos de choques externos e
domésticos, devendo apresentar crescimento baixo e volátil”.
Ipea - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
www.ipea.gov.br
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