O dia 20 de fevereiro vem para alertar
sobre o abuso das substâncias, sendo um dos riscos o surgimento de neoplasias.
Especialistas comentam a importância de investir na prevenção primária e de
contornar a situação com hábitos mais saudáveis
Apesar do desenvolvimento do câncer
levar semanas, meses ou até mesmo anos, é necessário investir em um estilo de
vida saudável como uma alternativa para evitar a doença. No entanto, para que
essa neoplasia aconteça, as células devem passar por uma mutação genética com alterações do DNA, resultando em uma falha no
controle e reprodução celular descontrolada.
Dentre as diversas causas de câncer, é
possível citar o consumo excessivo de álcool e drogas. Segundo a American
Cancer Society, 30% das mortes pela neoplasia podem ser relacionadas ao uso
abusivo de entorpecentes. Contudo, o desafio é ainda maior: deve-se olhar de
lupa para as chamadas drogas ilícitas.
De acordo com o Dr. Artur Ferreira,
oncologista da Oncoclínicas em São Paulo, a segunda maior causa de morte entre
pessoas de 15 a 29 anos no Brasil é o câncer, perdendo apenas para os óbitos
que ocorrem por acidentes e violência. "Cada um dos desafios é importante
para o combate de tumores malignos e não deve ser ignorado, por mais simples
que seja".
Até o momento, sabe-se que o álcool
aumenta o risco de vários tipos de câncer, como os tumores de cavidade oral,
laringe e faringe, colorretal e esôfago, além de fígado e mama. Segundo o
Instituto Nacional de Abuso de Álcool e Alcoolismo, durante a pandemia o
consumo aumentou e apontou que o uso indevido foi maior entre as mulheres do
que os homens. Vale pontuar que para o público masculino, beber excessivamente
é considerado mais do que quatro bebidas ao dia e 14 por semana. Já para o
público feminino, três bebidas por dia e sete por semana.
Impactos da
pandemia
Durante a pandemia, foi possível
observar ainda um cenário preocupante quanto ao câncer devido aos hábitos de
vida da população como um todo. "Com o isolamento social houve uma piora
significativa na qualidade de vida dos brasileiros, com um maior consumo de
alimentos ultraprocessados, bebidas alcóolicas e queda na prática de atividades
físicas. Para evitar que esses prejuízos continuem acontecendo, é necessário
urgentemente reverter essa situação. Por isso, devemos encarar esses desafios
como uma alternativa para prevenção ao câncer", aponta Artur.
Nas últimas duas décadas, os novos
diagnósticos de câncer quase dobraram, passando de 10 milhões estimados em 2000
para 19,3 milhões em 2020, segundo a Agência Internacional de Pesquisa sobre o
Câncer (Iarc, sigla do inglês), entidade ligada à Organização Mundial da Saúde
(OMS).
Para o futuro, as projeções também
preocupam. A partir do relatório da Globocan 2020, divulgado pela Iarc, a
tendência é de que haja um aumento na detecção dos casos de câncer, podendo
alcançar um patamar de quase 50% a mais em 2040 em comparação com o cenário atual.
É estimado que o mundo tenha uma média de 28,4 milhões de diagnósticos.
Contornando a
situação
O tabagismo pode
aumentar em até 20 vezes o risco de surgimento do câncer de pulmão e estima-se
que seja responsável por até 90% dos casos desta doença. Por isso, é necessário
também alertar quanto às drogas lícitas, como o cigarro.
De acordo com um estudo publicado no
periódico JAMA Oncology, parar de fumar antes dos 45 anos pode diminuir
expressivamente os riscos de morrer de câncer de pulmão e outros tipos de
neoplasias. No entanto, é importante reforçar que isso irá depender da idade,
ou seja, quanto antes esse hábito for deixado de lado, melhor.
"Além do cigarro tradicional, o
cigarro eletrônico tem causado curiosidade nos mais jovens, seja pela ausência
de informações ou ainda pelo formato diferenciado. Apesar da queda verificada no percentual de adultos fumantes no Brasil,
nas últimas décadas, é possível notar versões diferentes do mesmo
problema", alerta o oncologista da Oncoclínicas em São Paulo. No triênio
2020-2022, são esperados 30,2 mil novos casos ao ano de câncer de pulmão,
segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).
Quanto ao uso excessivo de álcool,
segundo a revista científica The Lancet Oncology, 4% dos casos de câncer
diagnosticados em 2020 (no mundo) foram causados pelo consumo de bebidas,
representando cerca de 741,3 mil casos.
"No organismo, o álcool pode
causar diversos tipos de danos, como prejuízos às células e alterações
hormonais. Além disso, a ingestão de bebida alcoólica pode atrapalhar a
absorção de nutrientes essenciais para o corpo como vitaminas. Por fornecer
calorias vazias, ele também contribui para o aumento de peso, elevando assim os
riscos de câncer", explica.
Mudança de hábitos
A somatória de todos os dados traz um
ponto importante em comum entre as pesquisas: a necessidade de rever os hábitos
inadequados de vida no dia a dia para frear as estatísticas. Por isso, o
objetivo é investir na prevenção primária para evitar assim que o câncer possa
se desenvolver.
"Alternativas
como a prática de exercícios físicos, alimentação adequada, consumo moderado de
bebidas alcóolicas, não uso de cigarro e outros tipos de drogas são capazes de
frear o aumento dos casos de câncer e também promover uma melhor qualidade de
vida para a população como um todo. De forma geral, investir nesse tipo de
informação pode ajudar ainda a evitar problemas de saúde mais comuns no dia a
dia, como hipertensão arterial, diabetes e obesidade", finaliza.