Várias
são as formas de abuso psicológico que um ser humano pode sofrer. No entanto,
temos um tipo de abuso que é muito característico por ser, de certa forma,
“invisível”, que não deixa marcas físicas, sendo, portanto, difícil de ser
analisado e penalizado.
É
o Gaslighting, tipo de abuso no qual a vítima quase nunca tem consciência de
estar sendo abusada. Ou pelo menos, não como se entende geralmente o termo, já
que não há uma agressão clara. Mas sim, a agressão existe, acontece muito e vem
disfarçada de ações que podem camuflar a perversidade do processo em si.
A
melhor definição seria de uma manipulação sutil, na qual o abusador enfraquece
a autoestima, o amor próprio e a confiança da vítima (pode ser o homem ou a
mulher), fazendo com que ela se coloque cada vez mais submissa, dependente e,
se anulando a tal ponto que, ela não consegue ter a clareza destes atos
perversos e colocando em dúvida suas próprias emoções e seus medos.
O
programa da Rede Globo Fantástico abordou essa semana o tema no seu quadro
sobre questões relacionadas à saúde mental e evidenciou esse tipo de violência
psicológica como uma prática devastadora e que se configura em um crime.
A
dinâmica mostra que na cabeça da vítima, o abuso não está acontecendo, e ela
acaba achando que ela é realmente culpada.
Em
grande parte das situações, ela deixa de ter voz, pois é menosprezada em seus
pontos de vista, chegando até a se fechar de tal forma que vai se anulando cada
vez mais.
A
dificuldade em se identificar ou denunciar este tipo de abuso psicológico está
exatamente no fato de que, a vítima quase nunca tem consciência de estar sendo
abusada.
Uma
das características deste processo é que o agressor usa de estratégias
perversas para fazer com que a vítima tenha dúvidas sobre os fatos e acredite
que tudo não passa de invenção, paranoia ou uma histeria de sua cabeça. Faz com
que ela pense estar sempre equivocada e exagerando em suas proposições.
E
no meio desta confusão de sentimentos, muitas vezes se fecha ou se cala, por
acreditar que está mesmo errada e que o abusador está com a razão. E, de forma
a reparar suas “falhas”, ela pode acabar entregando a ele sua capacidade de
discernimento sobre os fatos e sobre sua vida de forma geral.
Insultos,
agressões verbais, diminuições claras, depreciação, também são ingredientes que
podem ser encontrados nessa rede do Gaslighting. E é aqui que começam os
problemas e possíveis transtornos psicológicos.
Por
ser complicado provar, já que dificilmente existe uma violência explícita, esse
agressor se esconde atrás de uma vítima medrosa, sem energia, sem voz, confusa
em suas palavras e atitudes, com uma autoestima destruída e que, é levada a
pensar que a causa de tudo passa por ela.
Uma
das principais características desse abuso psicológico é a alteração da
percepção de realidade da vítima, que anula sua consciência e cria a negação de
que vive em meio a uma atmosfera abusiva.
Essa
violência é contínua. A sutilidade do caso aliado a um ciclo de repetição gera
nessa vítima as dúvidas que a levam a se sentir culpada e responsável pelo que
está sofrendo. A ponto de achar que o agressor age desta forma, porque ela
provoca de alguma maneira.
Tudo
se torna muito confuso aos seus olhos e seu entendimento e quem sofre com essa
violência, acredita firmemente que está louco (a). Se confunde se está no papel
de vítima ou de abusador (a).
E
como descrever quem sofre esse tipo de agressão psicológica? Elas, em sua
grande maioria, são pessoas que estão sempre esgotadas mentalmente, tristes,
inseguras e descrentes de suas verdades. Possuem muita dificuldade de se
expressar e de opinar sobre qualquer assunto.
A
consciência do abuso não existe e o fato de ser sempre invalidada em seu ponto
de vista e ideias, às vezes até de forma agressiva verbalmente, contribui para
que ela se feche ainda mais em sua insegurança e medo. A vítima se convence que
suas opiniões estão sempre equivocadas.
Por
todos estes fatos, podemos entender porque a Gaslighting é considerada uma
agressão psicológica silenciosa e incessante, que tem como consequências para
suas vítimas, efeitos de maus tratos mentais severos e em alguns casos até
irreversíveis.
O
praticante deste ato, através de sua perversidade, tenta passar para a vítima
que ele só quer ajudar, mostrando a ela que pode sim confiar nele.
As
vítimas podem ser homens também, não só mulheres e esse tipo de agressão
psicológica está presente em todo tipo de relação: trabalho, amizade, familiar
ou relacionamento afetivo.
Pesquisas
apontam inclusive que, esse tipo abuso também vem sendo praticado por mulheres,
onde os homens são suas vítimas e passam pelos mesmos transtornos psicológicos.
Enfim,
essa violência de gênero deve ser melhor divulgada e esclarecida para a
população, de forma a termos mais clareza. Aprendendo assim, a identificar os
seus mecanismos e suas consequências.
Quanto
mais orientados estivermos, mais fácil será para perceber se o abuso está, de
fato, ocorrendo. Ao menor sinal de agressão psicológica, deve-se buscar ajuda
profissional para seu fortalecimento enquanto ser humano, sem medo da exposição
ou de ser diminuído por expor os fatos.
Resgatando
assim, sua credibilidade, autonomia, liberdade de expressão e elevação da
autoestima. Trazendo para sua rotina de vida a harmonia junto a uma maior força
e consciência mental, abandonando o papel da opressão sofrida através da
perversão camuflada nos atos praticados por seu agressor.
Dra. Andrea
Ladislau - psicanalista, graduada em Letras e
Administração de Empresas, pós-graduada em Administração Hospitalar e
Psicanálise e doutora em Psicanálise Contemporânea. Possui especialização em
Psicopedagogia e Inclusão Digital. É palestrante, membro da Academia Fluminense
de Letras e escreve para diversos veículos. Na pandemia, criou no Whatsapp o
grupoReflexões Positivas,
para apoio emocional de pessoas do Brasil inteiro.