Cerca de 45% dos
pacientes após o AVC chegam tardiamente à reabilitação, 16% tiveram um encaminhamento
tardio ou não conseguiram agendar uma consulta. O tempo de espera para uma
consulta de reabilitação foi de 9 meses.1
O manejo do acidente
vascular cerebral (AVC) no Brasil envolve desafios que começam na demora do
reconhecimento precoce dos seus sinais e sintomas e atraso no encaminhamento
para atendimento médico. O acesso a tratamentos de ponta no SUS e mesmo em
muitos segmentos da rede privada é escasso, e podem ocorrer falhas na condução
da reabilitação. No período pós-AVC, além das medidas de prevenção de
recorrência de um novo AVC, uma série de terapias no contexto de atendimento
multidisciplinar contribuem para a saúde, qualidade de vida e reinserção do
paciente na sociedade.
Cerca de 30% dos pacientes podem desenvolver
espasticidade, que é um tipo de rigidez muscular que leva à postura inadequada
dos membros (mãos fechadas, pés em garra), causa dor, dificuldade para executar
atividades corriqueiras (como caminhar, comer, por exemplo), e consequentemente
reduz a qualidade de vida, aumenta a sobrecarga do cuidador, com possibilidade
de quedas, fraturas, além de impactos econômicos e financeiros. 2
Diante da falta de
dados no país sobre a jornada do paciente no pós-AVC, uma equipe médica
brasileira, da qual fez parte o médico fisiatra Marcelo Riberto, professor da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, no interior de São Paulo,
publicou recentemente um estudo multicêntrico e observacional envolvendo 11
centros de reabilitação do país (públicos e privados), com 204 voluntários, chamado
de BCcause cujo objetivo primário foi avaliar a taxa de resposta dos pacientes
com espasticidade crônica ao tratamento com toxina botulínica A (TBA).1
Um dado alarmante do
estudo mostrou que aproximadamente 45% dos pacientes recebem o encaminhamento
para a reabilitação tardiamente após o AVC, e o tempo mediano de espera para o
agendamento de uma consulta é de nove meses. Isso acontece por uma série de
fatores, como a distância e a dificuldade de transporte até o centro de
reabilitação, o tempo despendido para chegar ao centro de reabilitação e
problemas para agendar a consulta, entre outras questões.1
Segundo o Dr. Riberto,
muitos pacientes, familiares e profissionais de saúde desconhecem ou subestimam
os efeitos da reabilitação no pós-AVC. Por vezes, o encaminhamento para a
reabilitação não acontece porque os profissionais que atendem o paciente na
hora do AVC agudo não sabem da existência e possibilidades de encaminhamento
para os Centros de Reabilitação, tanto na rede privada como na rede pública.
É fato que existe
desequilíbrio entre o número de pacientes que necessitam de reabilitação no
país e a quantidade de centros de reabilitação, seja no setor público ou
privado. Neste contexto, a atual realidade do Brasil não favorece a
reabilitação precoce, mas mesmo assim, vemos que a reabilitação tardia traz
muitos benefícios para os pacientes.1
Além da dificuldade de
acesso aos centros de reabilitação, os tratamentos também variam de acordo com
a gravidade das sequelas, mas, em geral, a reabilitação consiste em sessões de
fisioterapia, de fonoaudiologia, terapia ocupacional e tratamento
medicamentoso, exemplo os medicamentos orais (baclofeno, tizanidina,
dantrolene, gabapentina e pregabalina) e a aplicação de toxina botulínica A. O
estudo BCause também indicou as vantagens da TBA no controle da espasticidade
crônica com apenas uma aplicação. Embora disponível no SUS, a toxina botulínica
é sub recomendada, em torno de 9 mil pacientes receberam aplicação de TBA para
espasticidade pós-AVC no SUS em 2020,3 o que representa apenas 1% da população
que sofre o AVC e pode desenvolver a espasticidade. Estima-se que há 1 milhão
de pacientes com espasticidade pós-AVC no Brasil. 2,4
Segundo o Dr. Riberto,
o uso da TBA, quando aplicada nos músculos espásticos e de acordo com a bula,
ajuda a prevenir o encurtamento muscular e a dor, evitando que o paciente
aprenda os movimentos errados e oferecendo mais liberdade para elesO tratamento
com toxina botulínica pode ser uma solução para melhorar a qualidade de vida de
diversos pacientes, para assim conseguirem retomar sua independência em
atividades rotineiras, como tomar banho, vestir-se ou calçar os sapatos.
Sobre o AVC
No caso do AVC, ocorre
uma alteração súbita do fluxo sanguíneo cerebral que pode ser tanto
isquêmico, quando falta sangue em uma região do cérebro por causa de uma
obstrução, quanto hemorrágico, quando um vaso sanguíneo é rompido. O tipo mais
prevalente desta doença é o AVC isquêmico5.
O AVC é a segunda
maior causa de mortes e a principal razão da incapacidade no mundo. De acordo
com o Ministério da Saúde, são mais de 400.000 casos por ano e 100.000 óbitos
no país, sendo que, a cada cinco minutos, ocorre uma morte decorrente de AVC5.
Referências:
• Khan P, et al. The
Effectiveness of Botulinum Toxin Type A (BoNT-A) Treatment in Brazilian
Patients with Chronic Post-Stroke Spasticity: Results from the Observational,
Multicenter, Prospective BCause Study. Toxins (Basel). 2020 Dec 4;12(12):770.
• Protocolo Clínico e
Diretrizes Terapêuticas de Espasticidade (PCDT), Ministério da Saúde, 2017.
• DataSUS, pacientes
tratodo com toxina botulínica em 2020 para os CIDs de AVC: G81.1 Hemiplegia
espastica, G82.1 Paraplegia espastica, G82.4 Tetraplegia espastica, I69.0
Sequelas de hemorragia subaranoidea, I69.1 Sequelas de hemorragia
intracerebral, I69.2 Sequelas outr hemorrag intracran nao traum, I69.3 Sequelas
de infarto cerebral, I69.4 Sequelas acid vasc cerebr NE c/hemorr isquem, I69.8
Sequelas outr doenc cerebrovasculares e NE.
• Diretrizes de
Atenção à Reabilitação da Pessoa com Acidente Vascular Cerebral, Ministério da
Saúde, 2013.
• Saúde, Biblioteca
Virtual em Saúde Ministério da. Acidente vascular cerebral (AVC). Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/avc-acidente-vascular-cerebral/.
Acesso em: 16 jul. 2021.