Acentuação e hifenização ainda são maiores
dificuldades apontadas por especialistas
No
dia 1º de janeiro de 2009, entrava em vigor no Brasil o novo Acordo
Ortográfico, medida que pretendia padronizar a grafia das palavras do Português
nos nove países que adotam o idioma como língua oficial. Estima-se que as novas
regras afetaram de 0,5% a 0,8% das palavras do Português brasileiro, bem menos
do que as alterações estimadas para o Português de Portugal, que ficaram em
1,5% - o que explicaria a menor resistência do brasileiro em abraçar o Acordo.
“Mudanças
na ortografia, por meio de leis e acordos, ocorrem de tempos em tempos no
Português. O último acordo, antes do vigente, datava de 1943, com alterações em
1971. Sempre haverá, nesses momentos, quem esperneie e blasfeme quanto às
mudanças, mas nenhum Acordo nesse sentido é feito para dificultar - e sim para
tornar as coisas mais simples, mais fluentes. O Português carecia de
uniformidade em sua modalidade escrita. São 250 milhões de usuários que
escreviam e liam com diferenças que atrapalhavam essa uniformidade do idioma. A
sintaxe, a forma de combinar as frases, o vocabulário de cada localidade
falante dos diversos tipos de Português não sofreram alteração. Sob o ponto de
vista simbólico, essa uniformização valoriza a Língua Portuguesa em sua
representatividade no cenário internacional”, avalia Yeso Osawa Ribeiro,
professor de Língua Portuguesa e Redação no Curso Positivo, de Curitiba (PR).
O
Acordo e as dificuldades
Gestado
desde 1990, como desdobramento de um encontro para unificação do Português
ocorrido em 1986, o Acordo Ortográfico deveria ter entrado em vigor em 1994. Em
vez disso, por questões burocráticas, ele só passou a ser adotado há uma
década, quando o Brasil iniciou a implantação, fazendo com que os outros países
iniciassem seus processos em seguida. Por alguns anos, as novas regras
conviviam com as antigas sem qualquer problema. Porém, desde 2016, quando
terminou o período de transição, somente o novo Acordo Ortográfico passou a ser
aceito no Brasil.
O
assessor pedagógico de Língua Portuguesa do Sistema Positivo de Ensino, Caio
Castro, afirma que, apesar de o novo Acordo Ortográfico pretender facilitar a
comunicação entre os países de Língua Portuguesa, é comum as pessoas
apresentarem dúvidas em relação à nova ortografia - principalmente aquelas que
estavam acostumadas com as normas antigas há mais tempo. Segundo ele, uma das
alterações que mais confunde as pessoas, atualmente, estão ligadas à
hifenização. "É muito comum nos perguntarem em que situações o hífen
deixou de ser usado, como em ‘antirreligioso’ e ‘autorretrato’, e em quais não,
como ‘bem-vindo’ e ‘anti-inflamatório’”, explica. Outro caso em que o hífen
deixou de ser usado e ainda gera confusão na população é quando o prefixo
termina em vogal e o sufixo começa com uma vogal diferente, como em
aeroespacial, lembra o especialista.
Com
as novas regras do Acordo Ortográfico, palavras como “assembleia”, “ideia” e
“jiboia” perderam o acento, por serem paroxítonas, enquanto “herói”, “chapéu” e
“anéis”, que são oxítonas, mantiveram o acento. Para Ribeiro, o caso que mais
trouxe dor de cabeça, principalmente aos adultos, foi o da mudança nos ditongos
abertos em "ei", "eu", "oi".
"Antes, todos
eles eram acentuados, indistintamente. Agora, apenas quando ocorrem em palavras
oxítonas”, explica o professor. Outra dificuldade de assimilação citada por ele
foi a extinção do acento circunflexo nos hiatos “oo” e “ee”, o que fez com que
palavras como “voo” e “leem” não sejam mais acentuadas; bem como o fim do
acento diferencial em palavras com a mesma grafia, mas pronúncia e significados
diferentes, como é o caso do verbo e da preposição para, ou do substantivo e da
preposição pelo. “As regras dos acentos diferenciais e dos hiatos em vogais
dobradas ainda causam problemas, embora a frequência seja muito menor do que os
dos ditongos”, explica Ribeiro.
Por
outro lado, diz ele, algumas alterações, como o fim do trema, só expressaram o
que já acontecia de fato e foram rapidamente absorvidas. “As pessoas, de um
modo em geral, não usavam trema; a regra, nesse sentido, facilitou o trabalho
para a maioria”.