Dados alarmantes revelaram que beneficiários do Bolsa Família gastaram impressionantes R$ 3 bilhões em apostas esportivas online apenas em agosto. Este montante, correspondente a 20% do valor total repassado pelo programa no mês, expõe uma realidade inquietante que vai além da simples escolha de entretenimento.
Entre os 20 milhões de beneficiários, cinco milhões optaram por fazer apostas, e 70% desses apostadores são chefes de família. Esses números revelam uma profunda vulnerabilidade financeira e um desvio preocupante das prioridades essenciais. A esperança e a “solução da vida” de pessoas que vivem em vulnerabilidade estão se transformando em jogos de azar, arriscando o pouco que têm e colocando em risco o sustento de suas famílias.
Como abordar a busca pelo verdadeiro bem-estar e dignidade quando tantos vivem à margem da esperança? Enquanto algumas filosofias enfatizam a busca por um florescimento humano autêntico, muitos se veem compelidos a arriscar tudo em apostas, na esperança de uma solução imediata para suas dificuldades. Esses gastos exorbitantes refletem não apenas uma fuga, mas uma busca desesperada por alternativas que, em última análise, oferecem apenas ilusões, enquanto as necessidades básicas e a dignidade permanecem em segundo plano.
A atração pelas apostas online pode ser vista como uma manifestação do viés psicológico conhecido como "véu da descrença", que distorce a percepção de risco e recompensa. Essa ilusão de ganho fácil seduz muitos que ignoram as consequências devastadoras que frequentemente acompanham as perdas.
Como Gabor Maté aponta, "a questão fundamental em todas as formas de vício não é por que o vício, mas por que a dor?" Isso revela que muitos recorrem ao vício como uma tentativa de escapar de sua dor emocional, em vez de lidarem com suas necessidades existenciais.
Essa dor não só sufoca a esperança, mas também contamina a vida pessoal, profissional, social e familiar. O adoecimento mental de uma parte significativa da população, associado aos jogos online, impacta a vida profissional de muitos e gera consequências negativas para a economia, desviando recursos do varejo brasileiro para as empresas de apostas que têm sede no exterior.
Dados
da pesquisa feita pela UNICEF revelam que 22% dos jovens apostaram pela
primeira vez aos 11 anos ou menos, e 78% começaram aos 12 anos ou mais. Essa
exposição precoce ao jogo pode levar a padrões de comportamento vicioso,
contribuindo para um ciclo de dependência que se agrava com o tempo.
Essa realidade é alarmante entre os alunos beneficiados pelo programa Pé-de-Meia, que incentiva estudantes de famílias de baixa renda a frequentar o ensino médio. Infelizmente, muitos desses jovens estão utilizando o dinheiro destinado à sua educação para jogar, exacerbando sua vulnerabilidade financeira e aumentando o risco de se tornarem dependentes dos jogos online.
Embora a maioria dos apostadores esteja na faixa dos 20 a 30 anos, o gasto médio mensal com apostas aumenta com a idade, indicando que essa armadilha se torna cada vez mais insidiosa. Os dados apresentados pelo Banco Central são preocupantes e revelam que as apostas se tornaram uma saída tentadora para aqueles em situação de vulnerabilidade financeira, exacerbando a precariedade em que muitas famílias vivem.
A mensagem do Banco Central é clara: o crescimento das apostas é uma preocupação significativa. Como destacado por Roberto Campos Neto, a inadimplência e as dificuldades financeiras são consequências diretas dessa cultura de enriquecimento rápido e ilusório, estimulado por influenciadores digitais irresponsáveis e de índole duvidosa.
Os princípios de virtude que sustentam uma vida equilibrada estão sendo cada vez mais ignorados. Sem eles, o caminho para o florescimento pessoal se torna mais distante. A Psicologia Positiva destaca a importância das virtudes e das forças de caráter no florescimento humano, e aqui se evidencia uma desconexão: ao invés de cultivar a resiliência, o autocontrole e a reflexão crítica, muitos se entregam a um ciclo vicioso de expectativas irreais.
É importante destacar que esse conceito de florescimento, embora possa parecer soft ou lúdico, implica que o indivíduo está consciente de suas habilidades e potenciais, estando capaz de realizar o melhor com seus recursos internos e externos. Esse estado emocional é crucial para mitigar as dores desta geração de jovens que vive em apatia, presa nas telas dos celulares e apresentando casos alarmantes de depressão, ansiedade e tendências ao suicídio.
É
hora de romper com esse ciclo destrutivo e redirecionar esforços para práticas
que cultivem a consciência, a gratidão e a busca por um propósito
significativo. Ao quebrar esse ciclo, criamos a oportunidade de gerar uma
espiral ascendente de afeto, que inspire comportamentos sustentáveis e
virtuosos, trazendo bem-estar e felicidade. Como observa Nora Volkow, o vício
"sequestra" nossa capacidade de experimentar satisfação nas conexões
autênticas e nas atividades que nutrem o verdadeiro bem-estar.
Para
garantir que o florescimento pessoal se torne uma realidade, precisamos
restaurar essas conexões. Reconectar-nos com nossas virtudes, com a comunidade
e conosco mesmos é essencial para quebrar esse ciclo destrutivo e gerar uma
espiral ascendente de afeto. Isso nos permitirá valorizar não apenas o
sobreviver, mas sim o verdadeiro bem-viver.
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