Brachycephalus
dacnis é a sétima espécie de
sapo-pulga identificada, maior apenas do que indivíduo de espécie próxima
encontrado no sul da Bahia. Trabalho publicado na PeerJ foi
liderado por grupo da UnicampNova espécie miniatura na palma da mão do pesquisador
(foto: Lucas Machado Botelho/Projeto Dacnis)
Um grupo liderado por
pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) descreveu o segundo
menor vertebrado do mundo. Um dos exemplares do sapo em miniatura usado no
trabalho, um adulto, tem 6,95 milímetros. Antes disso, uma espécie do mesmo
gênero havia sido descrita no sul da Bahia com um dos indivíduos tendo 6,45 milímetros.
O estudo, apoiado pela FAPESP,
foi publicado nesta sexta-feira (25/10)
na revista PeerJ.
Os sapos-pulga ou rãs-pulga, como são conhecidas algumas espécies do gênero Brachycephalus, possuem adultos com menos de um centímetro de comprimento. Para ter uma ideia, podem se acomodar sobre a unha de um humano adulto ou sobre uma moeda de 50 centavos.
Sapo-pulga Brachycephalus dacnis pode ter menos de 7 milímetros (foto: Luís Felipe Toledo/IB-Unicamp) |
A nova espécie foi
nomeada Brachycephalus dacnis em homenagem ao Projeto Dacnis,
que mantém áreas privadas de Mata Atlântica no Estado de São Paulo, incluindo a
que o animal foi encontrado, em Ubatuba, no litoral norte.
“Existem sapos pequenos com
todas as características de sapos grandes, apenas menores. Esse gênero é
diferente. Ao longo da evolução, ele passou pelo que chamamos de
miniaturização. São características como fusões e perdas de ossos, além da
falta de dígitos e outras partes da anatomia”, explica Luís Felipe Toledo,
professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp e coordenador do estudo.
O trabalho integra o projeto “Da história natural à conservação dos anfíbios brasileiros”, apoiado pela FAPESP no âmbito do Programa BIOTA, e contou
ainda com Bolsa de Doutorado para Julia Ernetti, coautora do estudo.
Esta é a sétima espécie de sapinho-pulga descrita dentro do gênero Brachycephalus. Até recentemente, o grupo era mais conhecido por espécies de cores vivas e que possuem veneno, como os sapinhos-pingo-de-ouro (Brachycephalus rotenbergae e B. ephippium) e o sapo-pitanga (B. pitanga). Mas o pequeno tamanho dos sapinhos-pulga está agora chamando a atenção dos pesquisadores.
Sapo-pulga Brachycephalus dacnis em seu ambiente natural (foto: Lucas Machado Botelho/Projeto Dacnis) |
Curiosamente, ainda que maiores
do que os sapos-pulga, os pingo-de-ouro possuem menos estruturas da anatomia,
como ausência de partes da orelha interna que os impossibilitam de escutar o próprio
canto, por exemplo (leia mais em: revistapesquisa.fapesp.br/sapinhos-da-mata-atlantica-sao-surdos-a-propria-voz/).
O canto da espécie descrita
agora foi o que chamou a atenção dos pesquisadores. Sua morfologia é igual à de
outra espécie, B. hermogenesi. Ambas possuem pele marrom amarelada,
vivem no folhiço da mata, não possuem girinos (saem dos ovos andando) e ocorrem
na mesma região. No entanto, o canto é diferente.
Quando sequenciaram o gene
normalmente utilizado para diferenciar espécies, os pesquisadores confirmaram
se tratar de uma nova entidade. No entanto, ao visitarem Picinguaba, em
Ubatuba, onde foram encontrados os sapos que permitiram a descrição de B.
hermogenesi, notaram que B. dacnis também ocorre ali.
“É possível que, entre os
exemplares que serviram de base para descrever B. hermogenesi em
1998, haja animais da nova espécie”, afirma Toledo. O pesquisador sugere o uso
de ferramentas de sequenciamento de DNA histórico, aquele contido em exemplares
depositados há muito tempo em coleções zoológicas, a fim de dirimir a dúvida.
Na descrição da nova espécie,
além das características anatômicas de praxe, os pesquisadores acrescentaram
informações do esqueleto e dos órgãos internos, além de dados moleculares e do
canto.
A ideia é que descrições de
novas espécies contenham também essas informações para que seja possível
diferenciá-las com mais precisão, uma vez que muitas são crípticas, ou
seja, não podem ser discriminadas apenas pela anatomia externa.
“A diversidade desses sapos em
miniatura pode ser bem maior do que imaginamos. Por isso, é importante ter o
maior número de características possíveis para agilizar o processo de descrição
e, assim, podermos atuar na conservação”, encerra.
O artigo Among the
world’s smallest vertebrates: a new miniaturized flea-toad (Brachycephalidae)
from the Atlantic rainforest pode ser lido em: https://peerj.com/articles/18265/.
André Julião
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/sapinho-da-mata-atlantica-com-menos-de-7-milimetros-e-o-segundo-menor-vertebrado-ja-descrito-no-mundo/53144
Nenhum comentário:
Postar um comentário