Psicóloga Vânia
Calazans, autora do livro "Mente Impulsiva, Comportamento Explosivo",
explica como identificar e controlar os sintomas de ansiedade, impulsividade e
fúria
O Transtorno Explosivo Intermitente (TEI) permanece
pouco conhecido pela área da saúde no Brasil, mas a medicina avança no
conhecimento e tratamento da patologia. De acordo com a Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (FMUSP), o TEI é considerado o distúrbio mais
prevalente entre os transtornos caracterizados pela impulsividade - cerca de 3%
da população - e nos Estados Unidos, estima-se 20 milhões de adultos
portadores.
Segundo a psicóloga Vânia Calazans, autora do livro
“Mente Impulsiva, Comportamento Explosivo”, lançamento da Editora Sinopsys, o
primeiro que aborda o Transtorno Explosivo Intermitente no País, casos de
impulsos agressivos estão ligados a pessoas que apresentam dificuldade para
expressar suas emoções e situações vivenciadas na infância, onde os pais ou
parentes próximos também apresentavam o comportamento impulsivo agressivo.
“Normalmente quem apresenta ter o Transtorno Explosivo Intermitente, possui
dificuldade para expressar suas emoções, seus sentimentos e guardam para si.
Essas emoções vão se acumulando internamente e de repente, um evento
estressante é o gatilho para que aconteça uma explosão de raiva. A dificuldade
para expressar sentimentos normalmente está relacionada a situações vivenciadas
na infância, onde a criança aprendeu por modelação e entende que essa é a
maneira correta de expressar seu descontentamento diante de situações que geram
frustração”, explica.
A agressividade pode também estar relacionada com
alterações neurológicas, segundo estudos citados na obra “Mente Impulsiva,
Comportamento Agressivo” (2017). Conheça quais são elas.
Disfunção do lobo frontal: O lobo
frontal atinge a maturidade completa no final da adolescência e é responsável
por monitorar, avaliar, ajustar e controlar o comportamento do indivíduo,
modular seu afeto, pela capacidade de tomada de decisões, planejamento,
sequência, continuidade e coerência aos atos através do tempo e de acordo com
motivadores internos e externos. Lesões em áreas pré-frontais prejudicam o
controle de áreas subcorticais, aumentando reações emocionais negativas e
comportamentos violentos (Luquiari, 2013).
Disfunção em lobo temporal: A
presença de lesões do lobo temporal em sua porção medial está relacionada a
descontrole episódico dos impulsos com sintomas de raiva extrema não provocada
e a comportamentos agressivos sem causa e objetivo definido.
Alterações hormonais, nutricionais e intoxicações: Mendes
et al. (2009), em uma revisão de literatura sobre possíveis fatores que
contribuem para o comportamento agressivo, descrevem que alterações nos níveis
hormonais devem ser considerados. Os autores apontam para altos níveis de
testosterona relacionados a comportamentos agressivos. Mulheres que já
cometeram crimes tendem a ficarem mais agressivas na fase menstrual e isso pode
estar relacionado aos baixos níveis de progesterona neste período. Altos níveis
de cortisol podem estar relacionados a comportamento agressivo e persistente em
homens. No que concerne aos fatores nutricionais, os autores enfatizam que
deficiências nutricionais são fatores de risco para o desenvolvimento do
comportamento agressivo e as intoxicações por metais como chumbo, cobre e zinco
predispõem a aumento do comportamento agressivo violento.
Explosão de raiva é sintoma de diferentes
transtornos psiquiátricos. Para que seja considerado TEI é necessário que a
pessoa preencha os critérios diagnósticos do transtorno que estão descritos no
DSM-5. O tratamento realizado pela psicóloga Vânia Calazans, une a Terapia
Cognitivo-Comportamental, sessões de relaxamento e a hipnose clínica, uma
ferramenta nova que tem comprovado a eficácia para gerenciamento de ansiedade,
impulsividade e estresse. “A hipnose, no que se refere à psicologia, deve ser
utilizada como ferramenta auxiliar de qualquer abordagem terapêutica, para, por
exemplo, a dessensibilização sistemática, o treino de assertividade, inoculação
do estresse, ressignificação emocional de vivências traumáticas, etc.”,
conta.
Em estudos recentes, publicados pelo Dr. Emil F.
Coccaro, professor CE Manning e Cadeira de Psiquiatria e Neurociênca
Comportamental da Universidade de Chicago, os portadores de TEI são mais
propensos a desenvolverem distúrbios alimentares, principalmente bulimia e
TCAP. Em virtude dessas descobertas, os pesquisadores estão se aprofundando nos
estudos, pois a detecção precoce do TEI ou agressão impulsiva pode oferecer
informações clinicamente úteis para prevenir desordens alimentares e determinar
intervenções de tratamentos mais eficazes.