Considerando que
uma pessoa respira cerca de 10 mil litros de ar diariamente, questões como a
qualidade do ar respirado, filtragem de poluentes, conforto térmico, bem-estar
e controle de doenças respiratórias devem ser observados, e podem ser
controlados com o uso do ar-condicionado em um ambiente escolar.
Assim como no dia a dia, em especial no retorno ao
ambiente escolar ainda neste período de pandemia da Covid-19, aliado agora às
altas temperaturas, o uso de sistemas de climatização artificial torna-se
essencial e exige alguns cuidados e atenção. E, por este motivo a ABRAVA –
Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e
Aquecimento destaca algumas medidas preventivas no uso do ar-condicionado, e
faz um alerta para que ambientes escolares que não disponham de renovação de ar
por ventilação mecânica ou mesmo que ainda de forma natural através de portas e
janelas, não devem ser ocupados, pois esta condição é indispensável para o uso
seguro do ar-condicionado e no controle de doenças transmissíveis pelo
ar.
O ar-condicionado nas escolas
E são as Escolas,
um dos ambientes que mais apresentam implicações quando se trata da diferença
entre bom e mau desempenho relacionados à QAI. Os alunos permanecem cerca de 4
a 5 horas diárias, cinco dias por semana, 40 semanas por ano, durante
aproximadamente 13 anos em salas de aula. As características desses espaços são
muito importantes e determinantes para o desenvolvimento escolar e crescimento
físico saudável dos alunos.
Estudo da Universidade Técnica da Dinamarca, mostra
ganhos de performance dos alunos em 14,5% em ambientes com uma boa qualidade do
ar. Isso representa que um aluno em escola com boa QAI é capaz de aprender em
06 anos o que ele aprenderia em 07. Nem precisa ser bom em matemática, para
enxergarmos o ganho financeiro para um país com investimentos na qualidade do
ar interno!
A Resolução 09 da ANVISA – Agência Nacional de
Vigilância Sanitária, publicada em 16 de janeiro de 2003, recomenda, por
exemplo, que ambientes internos tenham o máximo de 1000 partes por milhão (ppm)
de CO2 (dióxido de carbônico).
A ventilação inadequada faz com que CO2 e
contaminantes do ar interior se acumulem nos ambientes ocupados por pessoas.
Em muitas escolas, os níveis de dióxido de carbono elevados impactam
diretamente na redução de rendimento escolar dos alunos, conforme estudos
apresentados Lawrence Berkeley National Laboratory1.
Uma consequência adicional da ventilação inadequada
em ambientes é o acúmulo de outros contaminantes do ar interior, como os
compostos orgânicos voláteis - COVs, incluindo os formaldeídos, que podem ser
encontrados em diversos produtos de construção e manutenção utilizados nas
salas de aula, incluindo tapetes, vinil, tintas, selantes, plásticos, produtos
de madeira, móveis, eletrônicos, agentes de limpeza e tantos outros.
Outro problema é a capacidade do ar interior em
concentrar infecções virais, como a COVID19, fúngicas e bacterianas, sendo a
proliferação de mofo um fator de contribuição especial. Há uma crescente
incidência de condições de saúde crônicas, como asma, viroses, alergias e
outras sensibilidades. A asma é a principal causa de faltas nas escolas, entre
as crianças dos Estados Unidos.
A realidade vivida atualmente é de salas de aula
com grande quantidade de alunos e com menor espaço interno, além das janelas
reduzidas, o que implica em um ambiente com ar saturado.
O papel do sistema de climatização
As escolas que optam por usar
aparelho de ar-condicionado, na maioria absoluta das vezes instalam
equipamentos do tipo Split. Apesar de ser uma ação com
objetivo de trazer conforto térmico aos alunos e professores, é uma catástrofe
em relação à qualidade do ar interna.
Poucas escolas, as de maior porte e capacidade
financeira, seguem os procedimentos corretos ao iniciar o processo de análise
de escolha de que tipo de sistema de climatização usar com a elaboração de um
projeto de ar-condicionado. Sim, é desta forma que todos os estabelecimentos
deveriam agir, e com o projeto em mãos, definir qual melhor sistema para o
local.
A escolha do uso de aparelhos do tipo Split em
ambientes não residenciais, requer alguns cuidados prévios, como a instalação
que deve ser realizada com adaptações como sistemas de filtração e renovação de
ar eficientes, que permitam ao ambiente a melhor distribuição e circulação do
ar, com material particulado e gases em níveis adequados às necessidades
humana.
O aparelho Split convencional não possui filtragem
adequada, distribuição de ar e nem renovação de ar. Infelizmente em nosso país,
esse tipo de equipamento é utilizado em aplicações não residenciais em larga
escala, dado que representa mais de 90% das vendas de aparelho de
ar-condicionado no Brasil. Isso resulta em diversos ambientes comerciais com
instalações sujeitas a irregularidades, fora das normas técnicas e legislações
brasileiras. Haja visto, neste período de pandemia, momento que esse problema
foi escancarado com a necessidade de manter os ambientes ventilados.
Os protocolos sanitários, inclusive de renomados
hospitais e centros de saúde, têm orientado, infelizmente, as escolas a
desligarem o ar-condicionado, e abrir portas e janelas como solução para
melhorar a ventilação do local. Ocorre que muitos desses ambientes não foram
projetados para a ventilação natural, essa ação só será eficiente dependendo do
clima, disposição de fachada, portas e janelas em faces opostas, tamanho do
ambiente, entre outros fatores que possam contribuir com a troca de ar entre os
ambientes interno e externo.
Além disso, portas e janelas abertas, combinados ao
ar-condicionado desligado nas salas de aula, podem levar a alguns fatores que reduzem
a capacidade de aprendizado, como:
- Temperaturas elevadas, que tornam o ambiente
desconfortável;
- Ruídos externos, prejudicam a concentração dos
alunos;
- Poluição do ar externo, causam danos ao sistema
respiratório dos alunos, levando à ausência do aluno.
Neste momento de preocupação com a pandemia e
necessidade de retorno as salas de aulas, a recomendação da ABRAVA é a correção
e adequação dos sistemas de climatização existentes nas escolas e não o seu
desligamento.
Basicamente, a solução para salas de aula que
contam com equipamentos do tipo SPLIT é a instalação de sistemas de renovação e
filtração do ar adequados, conforme normas técnicas e legislação no país. Ou
ainda, a utilização de equipamentos de purificação de ar dentro dos ambientes,
como por exemplo filtros de alta eficiência ou ainda foto-catálise, colaborando
no tratamento do ar. A decisão deve ser feita com a orientação de um consultor
técnico ou profissional legalmente habilitado em sistemas de ar-condicionado.
O custo dessas ações é muito pequeno se comparado
ao custo total de uma instalação de sistema de ar-condicionado e aos benefícios
com a garantia da saúde e melhorias no rendimento escolar, além de, ser a única
maneira de garantir tecnicamente uma boa qualidade do Ar dentro das salas de
aulas.
O uso do ar-condicionado é bom e faz bem! A ABRAVA
recomenda sempre a busca de informações com especialistas e órgãos que
representam o setor.
Cuidados para com o uso ao ar-condicionado em um
ambiente escolar
O usuário final/colaborador/aluno de um ambiente
escolar deve:
- Manter
a temperatura em torno de 24ºC (indicada pela OMS – Organização Mundial da
Saúde), em conformidade com a Portaria 3.523/98 e Resolução 09/03 da
ANVISA, evitando temperaturas muito abaixo ou mesmo muito acima do
recomendado;
- Observar
e exigir o bom estado de conservação e limpeza dos equipamentos e
acessórios;
- Sempre
que achar necessário, solicitar o PMOC – Plano de Manutenção, Operação,
Manutenção e Controle assinado por responsável técnico legalmente
habilitado e o laudo da qualidade do ar interno previsto de acordo com a
Lei 13.589/18 para ambientes com mais de 60.000 Btus/hora.
- O
primeiro ocupante que chegar ao ambiente, neste caso os colaboradores da
escola, deve ligar o equipamento de ar-condicionado, abrir portas e
janelas para a troca do ar interno por um tempo aproximado de 15 minutos.
O responsável operacional/diretor do ambiente
escolar deve:
- Cumprir
os requisitos legais para utilização de sistemas de climatização como:
- A
Portaria 3.523/98 e a RE-09 da ANVISA determinam a existência de
periodicidades mínimas a ser observadas para alguns componentes do
sistema, que são classificados como pontos disseminadores de poluentes. A
saber: bandeja de condensado, filtros de ar, serpentinas, ventiladores,
rede de dutos, salas de máquinas, umidificadores e tomada de ar externo
(TAE). Para filtros de ar, caso sejam descartáveis, o período máximo de
uso independentemente da saturação é de 90 dias.
- Manter
atualizada as análises da qualidade do ar interno, no mínimo semestralmente,
e fazer as correções dos desvios identificados nos laudos, conforme
Resolução 09 da ANVISA. Recomendamos monitorar constantemente a qualidade
do ar.
- Manter
o PMOC – Plano de Manutenção, Operação e Controle previsto na Lei Federal
13.589/18 atualizado e em local de fácil acesso. O PMOC obriga a
manutenção de sistemas de ar-condicionado em todos os edifícios de uso
público e coletivo, em garantia a segurança e saúde das pessoas
- Em
casos de o ambiente escolar ter um equipamento simples, o responsável deve
mantê-lo limpo, em especial lavar bandejas e filtros com produtos
adequados. Caso não sinta-se preparado para tal ação, contrate um
especialista.
- Para
manutenção de outros componentes do equipamento como troca de filtros de
ar, trocadores de calor, ventiladores, gabinetes e acessórios, a
manutenção deve ser realizada apenas por profissionais especializados.
- Observar
se no sistema de climatização do ambiente existe o dispositivo de
renovação de ar interna instalado. Se necessário ajustar a renovação do ar
externo em maior vazão possível, com atenção para áreas altamente
poluídas. Em caso negativo é necessário providenciar sua adequação com
urgência.
Caso não seja possível instalar o dispositivo ou
sistema para a renovação de ar, manter o(s) equipamento(s) de ar-condicionado
em modo ventilação, e abrir portas e janelas para garantir uma ventilação
natural. Quanto maior a ventilação do ambiente interno, menor o risco de
transmissão de patógenos. Para ter certeza de que a aberta de portas e
janelas está sendo eficiente, consulte um profissional especializado.
Importante manter filtros de ar no equipamento para retenção de material
particulado.
- Manter
as salas de máquinas dos equipamentos limpos com restrição de acesso. A
sala de máquina deve conter apenas os equipamentos de ar-condicionado.
- Qualquer
alteração ou modificação nos equipamentos e sistemas de climatização
acima, deve ser realizada somente por profissional especializado e
legalmente habilitado.
- Seguir
as recomendações previstas em relação a manutenção, classificadas em 3
etapas:
- Preventiva – momento em que os
procedimentos são previamente planejados e ações técnicas necessárias à
garantia de desempenho e de durabilidade dos equipamentos,
- Corretiva - procedimentos não agendados
e sob demanda, destinados a recolocar os equipamentos em seu perfeito
estado de uso.
- Preditiva - procedimentos de análise
de parâmetros dos sistemas
No caso de dúvidas como, qual o tipo de sistema que
está instalado? Qual a melhor decisão a ser tomada em relação ao ambiente? Ou
qualquer outra dúvida, por mais simples que possa parecer, a ABRAVA recomenda
consultar um profissional habilitado. Alterações no modo de operação dos
sistemas de climatização requerem conhecimentos especializados associados a responsabilidade
técnica definida. A contratação de profissionais habilitados para a realização
destes tipos de serviços é recomendada para prevenção de futuros problemas com
a sua aplicabilidade e seu bom uso. Mais informações podem ser conferidas no www.abrava.com.br
Recomendações feitas por:
Eng° Leonardo Cozac – membro do Qualindoor –
Departamento de Qualidade do Ar Interno e Diretor de Operações da ABRAVA
Eng° Arnaldo L. Parra – especialista em PMOC e
Diretor de Relações Institucionais da ABRAVA