Mais de 70 mil brasileiros com câncer podem ter deixado de receber o diagnóstico nos quatro primeiros meses da crise sanitária.
Nesta quinta-feira,
4 de fevereiro, entidades e médicos no mundo todo chamam a atenção para a importância de
não atrasar diagnósticos e controle do câncer, mesmo em meio à pandemia do novo
coronavírus. No Dia Mundial de Combate ao Câncer, a preocupação é evitar o
surgimento de uma pandemia de tumores em estágio avançado. Isso porque, em
2020, as medidas de
distanciamento social impactaram a rotina de muitos pacientes oncológicos e
reduziram drasticamente os diagnósticos e tratamentos.
Uma pesquisa realizada
pelo Instituto Oncoguia apontou que 43% das pessoas em tratamento relataram que
sua rotina de cuidados médicos foi impactada pela pandemia. Entre as
justificativas para o cancelamento ou adiamento dos tratamentos, 43% disseram
que foi uma decisão do hospital ou clínica por conta de risco de contágio,
priorização de pacientes, redução de equipe e impacto na infraestrutura. Já 12%
afirmaram que foi uma decisão pessoal e 3% declararam que foi uma escolha
compartilhada com o médico.
Além do impacto sobre
os tratamentos, a pandemia também prejudicou a identificação de novos casos de
câncer. Dados Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e Sociedade
Brasileira de Patologia (SBP) estimam que ao menos 70 mil brasileiros com
câncer deixaram de receber o diagnóstico nos quatro primeiros meses de
pandemia. Para se ter uma
ideia do que isso pode representar no futuro, basta considerar que são
previstos 625 mil novos casos da doença no Brasil ao ano até 2022, de acordo
com o Instituto Nacional de Câncer (INCA).
É preocupante,
portanto, a estimativa de que uma parte significativa desses casos deixou de
ser identificada e, consequentemente, tratada. Com esse represamento, os
especialistas temem um aumento expressivo no número de pacientes com câncer em
estágio avançado, já que alguns tumores podem evoluir de forma agressiva em
poucos meses.
De acordo com um
estudo publicado na revista médica britânica BMJ, atrasar o tratamento de um
câncer por um mês pode aumentar o risco de morte entre 6% e 13%. Ainda segundo
os autores da pesquisa, adiar por 12 semanas a cirurgia de uma mulher com
câncer de mama se traduz em 6.100 mortes adicionais nos Estados Unidos e 1.400
no Reino Unido. Em tempos de Covid-19, a recomendação das sociedades médicas é
a manutenção da rotina de acompanhamento e da não interrupção do tratamento por
conta própria, de modo que médico e paciente determinem juntos a melhor forma
de continuar realizando os cuidados, mas com segurança.
"A taxa de
contaminação por Covid-19 nas clínicas oncológicas é bastante baixa graças a
todas as manobras de distanciamento social. Portanto, tanto as clínicas de
oncologia quanto as unidades hospitalares são tidos como ambientes bastante
seguros. O nível de cuidado nesses ambientes é tão elevado que a taxa de infecção
pelo novo coronavírus tem sido relativamente baixa", explica o médico
oncologista Luiz Henrique de Lima Araújo, que também é pesquisador do INCA.
O normal mudou, o
câncer não
Diante desse
cenário, a campanha "O Normal Mudou, o Câncer Não" foi criada para sensibilizar a
sociedade sobre a importância de não interromper os tratamentos oncológicos
mesmo durante a pandemia e estimular uma mobilização social em prol do apoio
aos pacientes com câncer. A campanha é realizada pela AstraZeneca em parceria
com o Instituto Lado a Lado Pela Vida, Instituto Vencer o Câncer, Oncoguia,
Femama e diversas associações médicas.
A ideia é promover uma
abordagem positiva sobre a retomada do tratamento oncológico para fazer de 2021
o ano do cuidado. No site https://www.programafazbem.com.br/onormalmudouocancernao, pacientes,
familiares e amigos encontram informações e um vídeo gravado pelo Dr. Dráuzio
Varella sobre a importância da retomada e manutenção dos tratamentos
oncológicos durante a pandemia.
A campanha inclui
ações nas redes sociais, mídia impressa e veiculação de spots em rádio, que
contam com a participação do Dr. Fernando Maluf, médico oncologista e fundador
do Instituto Vencer o Câncer. Tem ainda o apoio de diversos influenciadores,
como Letícia Birkeuer, Viviane Pasmanter, Julianne Trevisol, Cinara Leal,
Renata Boldrini, Heslaine Vieira e Maria Joana.
"A grande
mensagem é que os pacientes não devem mais postergar seus exames de rotina, suas
mamografias, colonoscopia, biópsias e qualquer outro procedimento que tenha
indicação médica. O mais importante é que você converse com o seu médico, mesmo
durante a pandemia", reforça o oncologista e pesquisador Luiz Henrique de
Lima Araújo.