Uso de hastes flexíveis e soluções caseiras podem gerar danos graves aos pacientes com acúmulo da substância
A chegada do Verão costuma aumentar o número de
atendimentos de pacientes em prontos-socorros com a reclamação de ouvido
tampado devido ao acúmulo de cera. Por conta do desconhecimento, muitas pessoas
acabam piorando a situação ao tentar “resolver” o problema com soluções
caseiras.
Para esclarecer os principais mitos e verdades a
respeito do assunto, a otorrinolaringologista Marcéli Nicole Peixoto Paiva, do
Hospital Paulista, aborda a seguir as principais consequências do excesso de
cera nos ouvidos, assim como os tratamentos possíveis.
“A cera nos ouvidos só gera prejuízos” – Mito
A cera é uma substância benéfica, produzida pela
pele do canal auditivo, que ajuda na proteção do ouvido e contém substâncias
com propriedades antibacterianas.
“A cera precisa ser retirada periodicamente com
hastes flexíveis” – Mito
De acordo com a otorrinolaringologista, o ouvido
tem mecanismos próprios que permitem a expulsão lenta e periódica do excesso de
cera. O uso de hastes flexíveis e semelhantes prejudica a atuação desses
mecanismos. “Por isso, a remoção da cera por conta própria pelo paciente deve
ser evitada ao máximo. Nos casos em que a cera esteja em excesso, prejudicando
a audição e causando incômodo, o paciente deve procurar o
otorrinolaringologista para que seja feita a remoção com os instrumentos e
técnicas adequadas, após uma correta avaliação.”
Algumas pessoas podem ter uma produção maior de
cera, mas há hábitos que favorecem o acúmulo e a compactação da cera no canal
auditivo, como o uso de hastes flexíveis e a manipulação dos ouvidos com outros
objetos, seja na tentativa de aliviar a coceira ou de retirar o cerume por conta
própria. “Deve-se evitar ao máximo esses hábitos a fim de prevenir não apenas o
acúmulo de cera, como também prevenir lesões na pele do conduto e na membrana
timpânica, e até mesmo a perda auditiva.”
“O acúmulo de cera gera prejuízo momentâneo à
audição” – Verdade
O mais comum é o acúmulo de cera e não uma produção
em excesso da substância. Nesses casos, o paciente tem uma sensação de ouvido
tampado, com consequente diminuição e abafamento da audição, que gera bastante
incômodo. De acordo com a médica, alguns casos podem vir associados à coceira e
à dor, geralmente de leve intensidade. Em outros, podem estar associados à
inflamação do canal auditivo.
“A produção de cera depende de vários fatores” –
Verdade
A produção depende de fatores como condições de
pele, estado febril, irritações locais e até mesmo o estado emocional do
paciente. Banhos de imersão em mar, piscinas e lagos não afetam a produção do
cerume, mas podem causar sensação de ouvido tampado, o que leva a um aumento
significativo da procura ao atendimento de otorrinolaringologia durante o
Verão.
“A água não afeta a condição da cera nos ouvidos” –
Mito
A entrada de água pode deslocar a cera já existente
no canal auditivo, gerando o seu bloqueio. Da mesma forma, a simples presença
da água já pode gerar uma sensação transitória de entupimento do ouvido. Isso
costuma ser breve, melhorando após a evaporação ou escorrimento natural da
água. Nesses casos, o ato de virar a cabeça com a orelha afetada para baixo e
puxá-la levemente para trás pode ajudar no escoamento da água. Caso a sensação
de obstrução da audição permaneça mesmo após essa manobra e não melhore após
algumas horas, deve-se suspeitar da presença de cera impactada e até mesmo de
outras condições como inflamações do canal auditivo, se houver também dor ou
coceira. Assim, o paciente deverá procurar auxílio para o devido tratamento.
“O uso de fones interfere na situação da cera nos
ouvidos” – Verdade
O uso de fones de ouvido do tipo intra-auricular,
ou seja, aqueles que penetram o canal auditivo, pode ser danoso, pois eles
“empurram” a cera para dentro, podendo gerar acúmulo da substância. De acordo
com a médica, estes são os principais cuidados em relação aos fones de ouvidos:
- Dar preferência aos fones que não penetram o
canal auditivo, como os que se encaixam na cartilagem da concha, os que se
apoiam atrás da orelha e os que cobrem a orelha;
- Fazer a higienização periódica dos fones
auditivos com álcool após o uso para evitar infecções;
- Escolher o modelo de fone de ouvido que mais lhe
cause conforto. Caso algum determinado modelo cause dor persistente, evitar o
uso e procurar auxílio com o otorrinolaringologista;
- Independente do modelo do fone de ouvido, deve-se
evitar o volume demasiadamente alto nos fones, assim como a exposição
prolongada ao som, pois intensidades sonoras altas e prolongadas muito próximas
ao órgão auditivo podem causar lesões como perda auditiva e zumbido, que podem
ser irreversíveis.
“Na maioria das vezes, o tratamento para o excesso
de cera é indolor” – Verdade
A remoção da cera de ouvido é um procedimento
rápido, na maioria das vezes indolor, e gera um alívio imediato dos sintomas. O
médico irá detectar a causa das sensações relatadas pelo paciente e proceder à
sua remoção, caso haja excesso. Nesse caso, o médico pode empregar as seguintes
técnicas e instrumentos, dependendo de cada paciente:
1 - Irrigação (lavagem) com água limpa na
temperatura corporal (através do auxílio de seringas ou duchas automáticas);
2 - Sucção da cera com uma sonda de aspiração fina;
3 - Remoção mecânica da cera com uma cureta
delicada.
Em alguns casos, quando a cera está muito
petrificada ou impactada, pode ser necessária a prescrição de gotas otológicas
para “amolecimento” da mesma, alguns dias antes do procedimento, a fim de
facilitar a remoção.
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