Artigo publicado no Scientific Reports (Nature) relata o aprimoramento da ação epigenética e abre caminho para monitorar o processo de envelhecimento, hábitos e qualidade de vida que interferem no aumento da suscetibilidade ao câncer relacionada à idade
Um grupo de médicos e cientistas publicou recentemente no periódico Scientific Reports, base de artigos científicos da revista “Nature”, uma nova pesquisa¹ sobre o biomarcador LINE-1, para demonstrar a erosão epigenética durante o processo de envelhecimento. A metilação desses genes tem sido associada a diversas síndromes de hipo e hipercrescimento, alterações neurológicas e tumorais.
O artigo publicado no Scientific Reports [Aging-associated distinctive DNA methylation changes of LINE-1 retrotransposons in pure cell-free DNA from human blood¹] apresenta dados da melhoria metodológica que resolve um problema fundamental da análise amplamente difundida em todo o mundo usando biópsia minimamente invasiva de fluidos corporais (biópsia líquida). Esta análise mais precisa irá facilitar e melhorar o emprego como exemplo do único marcador patenteado no mundo para identificar o câncer de próstata com base em Epigenética.
Segundo o cientista principal, Simeon Santourlidis, da Universidade Heinrich Heine, de Düsseldorf, Alemanha, a biópsia líquida é de importância central para o diagnóstico, prognóstico e terapia de várias entidades tumorais, a fim de alcançar uma redução significativa na morbidade e mortalidade nos pacientes afetados. A análise da biópsia líquida pode ser utilizada ainda nas áreas de medicina regenerativa e pesquisa de idade.
Pela primeira vez, foi possível avaliar a fração de DNA livre de células completamente separada de todas as outras frações de DNA do sangue periférico. Assim, a metodologia viabiliza a análise da característica tumoral e de envelhecimento, como assinaturas epigenéticas.
Esta melhoria técnica da análise da biópsia líquida já existia, mas com o auxílio de tecnologias exclusivas poderá ser aplicada no mundo todo e servir para inúmeros ensaios clínicos, inclusive para novas aplicações com biópsia líquida em pacientes em tratamento de câncer de mama, de próstata, entre outros.
Para chegar aos resultados os pesquisadores aplicaram partes maiores do DNA humano (retrotransposons LINE-1) para demonstrar a erosão (degeneração) epigenética durante o processo de envelhecimento.
“Esta detecção aprimorada da epigenética do LINE-1 pode ser usada como um biomarcador de várias maneiras, por exemplo, para monitorar o processo de envelhecimento, os hábitos e a qualidade de vida de todas as pessoas, bem como monitorar o aumento da suscetibilidade ao câncer relacionado à idade”, explica Santourlidis.
Para o uro-oncologista e também coautor da pesquisa, o brasileiro Marcelo Bendhack, ainda serão necessárias pesquisas complementares para identificar outros fatores adicionais, a partir de DNA livre e que circula no sangue, para auxiliar no diagnóstico e tomada de decisões para o tratamento do câncer de próstata e de bexiga. Agora, a partir deste progresso científico do método, outras doenças malignas também poderão ser tecnicamente melhor avaliadas pela biópsia líquida.
“O
objetivo é adiantar e avaliar com precisão tanto o diagnóstico quando o
prognóstico do paciente, através da coleta de sangue. Este método analisa e
extrai melhor o DNA livre circulante, com mais pureza. Naturalmente, mais
estudos serão necessários, mas serão estudos com qualidade mais elevada,
próprio de evolução do estudo inicial”, explica o médico brasileiro Marcelo
Bendhack, do Departamento de Urologia do Hospital Universitário Positivo, em
Curitiba (PR), coautor da pesquisa que resultou na patente do marcador
epigenético para o câncer de próstata e doutor em urologia pela Universidade
Federal do Paraná (UFPR) e pela Faculdade de Medicina Heinrich-Heine,
Düsseldorf (Alemanha).
Epigenética
A
epigenética é definida como o estudo das modificações do DNA e histonas (tipo
de proteína encontrada nos cromossomos), que são herdáveis e não alteram a
sequência de bases do DNA. As modificações que as histonas podem sofrer estão
associadas à metilação, fosforilação e acetilação. Na molécula de DNA, o grau
de metilação influencia e ativa (ou não) a transcrição gênica, que pode ser
ativada ou produzir uma proteína correspondente, de genes promotores
(oncogenes) ou supressores de tumores.
¹Aging-associated
distinctive DNA methylation changes of LINE-1 retrotransposons in pure
cell-free DNA from human blood
https://www.nature.com/articles/s41598-020-79126-z
Wardah
Mahmood, Lars Erichsen, Pauline Ott, Wolfgang A.
Schulz, Johannes C. Fischer, Marcos J. Arauzo-Bravo, Marcelo L.
Bendhack, Mohamed Hassan & Simeon Santourlidis.
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