Em uma semana onde muito tem se falado sobre
assédio em ambiente corporativo, como identificar quando a intimidade no local
de trabalho entre os colegas, passa dos limites e ultrapassa a barreira de uma
simples brincadeira ou descontração para ser um assédio moral, psicológico ou
até sexual? Vamos primeiro falar o que vem a ser o assédio. Assediar é o fato
de expor o indivíduo a situações de constrangimento e/ou humilhações. O
constrangimento e humilhação em alguns casos pode estar associado ao ambiente
laboral da pessoa, que acaba sendo exposta a situações hierárquicas
autoritárias e sem simetrias, permeadas de relações desumanas, sem ética,
negativas e psicologicamente prejudiciais ao trabalhador.
Muitos confundem o assédio como sendo legitimado
apenas por ações realizadas através de piadas, críticas, insultos e ameaças.
Mas não é só isso, o assédio pode estar vinculado a pressão excessiva, a uma
proposital sobrecarga de tarefas, imposições de horários absurdos, isolamentos,
instruções imprecisas, que podem induzir ao erro, exposição da pessoa, e também
a utilização do seu poder de liderança para assediar sexualmente um parceiro de
trabalho. Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento
sexual, prevalecendo o agente de sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função
Olhando com um olhar mais apurado e cuidado para o
assédio sexual ou moral, que é praticado no local de trabalho, podemos afirmar
que é um processo deliberado por perseguição, mesclado por atos repetitivos e,
sobretudo, prolongados. Constata-se nele o objetivo de humilhar, constranger,
inferiorizar e isolar o alvo, seja ele quem for no grupo social. Portanto, se
devidamente comprovado, subordinado ou superior, são passíveis de receber
indenização, no caso de quem seja a vítima.
Pesquisas apontam que 42% dos trabalhadores
brasileiros já sofreram ou sofrem algum tipo de assédio no mundo corporativo
hoje. Um número extremamente expressivo e que pode acarretar consequências
psicológicas e sociais em quem passa por este tipo de
violência.
O Assédio é toda e qualquer conduta abusiva de
gestos, palavras, escritos, comportamentos e atitudes, que de forma intencional
e frequente venha a ferir a dignidade e integridade física e psíquica de uma
pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho, seja de forma
direta (através de insultos, acusações, gritos, humilhações públicas e
exposição do outro ao ridículo), ou mesmo de forma indireta (através de
isolamentos, fofocas, propagação de boatos, recusa na comunicação, exclusão
social, acuamento sexual, propostas indecentes...).
E quando podemos caracterizar o fato como um
assédio ou uma brincadeira? Primeiro, temos que observar se a ação é repetitiva
e se está gerando constrangimento e angústia na vítima. A questão deixa de ser
uma brincadeira quanto está carregada de mau gosto, de um caráter vexatório que
acaba fazendo com que a pessoa não se sinta mais confortável naquele ambiente,
não tenha mais vontade de produzir ou não tenha mais condições psicológicas
para isso
Em alguns casos é tão grave que o profissional
perde a vontade de levantar da cama para cumprir seu horário de trabalho, pois
lembra-se do ambiente, do que pode vir a sofrer naquele dia e com isso alguns
sintomas começam a se desenvolver. São eles: depressão, síndrome do pânico,
ansiedade excessiva, medo generalizado, estresse, distúrbios bipolares e alterações
de humor. De fato, são danos e violência de natureza psicológica
que atentam contra a dignidade psíquica do indivíduo, por meio de ações
as mais diversas, compreendendo gestos, palavras e atitudes, que humilham,
degradam e atingem reiteradamente a vítima, visando desestabilizá-la, isolá-la
ou eliminá-la do local de trabalho. Se as “brincadeiras” no local de trabalho
estão causando em você sensações e sentimentos como, crises de choro, dores
generalizadas, palpitações, tremores, sentimentos de inutilidade, insônia ou
sonolência excessiva, depressão, diminuição da libido, sede de vingança,
aumento da pressão arterial, dores de cabeça frequentes, distúrbios digestivos,
tonturas, ideia de suicídio, falta de apetite, falta de ar, necessidade de fuga
para a bebida. Enfim, se o ambiente de trabalho lhe causa mais de um destes
sintomas, as investidas não devem ser consideradas como “brincadeiras”. Elas
são sim assédio, pois causam desconforto, exposição vexatória, isso quando não
causa o afastamento do trabalho para tratamento de saúde, uma vez que a vítima
de assédio trabalha com medo, acuada, estressada, abatida, confusa, perde sua
tranquilidade, fica insegura, sem possuir, portanto, as condições ideais para
que desempenhe adequadamente suas funções. Esse quadro adverso afeta o
trabalhador e reduz a sua produtividade. Aumentando também as tensões dos
relacionamentos interpessoais. E, não se engane, o assédio não escolhe sua
vítima, pode acontecer tanto com homens, quanto com mulheres.
Ao perceber que está passando por um processo de
assédio no trabalho, a vítima deve tomar algumas medidas, como: anotar, com
detalhes, todas as humilhações e investidas sofridas: dia, mês, ano, hora,
local, nome do agressor, testemunhas e conteúdo das conversas; Dar visibilidade
às situações, procurando a ajuda de colegas que testemunharam ou que sofrem as
mesmas humilhações ou constrangimentos; ou que possam perceber que existe
também, além de moral, uma conotação sexual ou moral no contexto. Evitar
conversas particulares com o agressor e agente do constrangimento.
Enfim, devemos estar atentos ás situações nas quais
somos envolvidos em nosso cotidiano corporativo. Como vimos, nem sempre uma
simples brincadeira é uma simples brincadeira. Se ela for repetitiva e causar
danos morais e mentais, como os citados, não tenha dúvidas de que está sofrendo
assédio. E, infelizmente, seja em empresas pequenas ou grandes, isso é muito
comum acontecer. Bem verdade que, empresas menores o assédio pode ser
facilitado pelo fato de que a intimidade pode ser maior entre as pessoas e,
desta forma, pode ultrapassar os limites do permitido.
A falta de respeito, falta de sensibilidade e
empatia são, certamente pilares utilizados por estes assediadores, seja ele de
qual tipo for, moral ou sexual. Busque ajuda, comente com as pessoas mais
próximas o que está acontecendo, buscando assim apoio e testemunhas possíveis.
Calar-se não é a melhor estratégia. A ajuda profissional de um psicólogo ou
psicanalista será de suma importância para que você perceba que não está
sozinho e, mais que isso, conquiste sua autoestima, seu amor próprio e enxergue
que nada vale mais que sua saúde mental, que seu equilíbrio físico e emocional.
Não se deixe adoecer pelas atitudes do outro. Passamos muitas horas de nosso
dia dentro do ambiente de trabalho rodeado de outras pessoas que, naturalmente,
possuem crenças, valores, sonhos e desejos, divergentes dos nossos. Além disso,
para viver feliz e consciente de seu papel dentro do universo corporativo, a
harmonia, o respeito e o limite nas relações e nos ambientes, não podem, de
forma alguma, estarem desvinculados da produtividade e dos resultados.
Dra Andrea Ladislau - * Doutora em Psicanálise
* Membro da Academia Fluminense de Letras - cadeira de numero 15 de Ciências
Sociais * Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde * Pós Graduada em
Psicopedagogia e Inclusão Social * Professora na Graduação em Psicanálise *
Embaixadora e Diplomata In The World Academy of Human Sciences US Ambassador In
Niterói * Professora Associada no Instituto Universitário de Pesquisa em
Psicanálise da Universidade Católica de Sanctae Mariae do Congo. * Professora
Associada do Departamento de Psicanálise du Saint Peter and Saint Paul Lutheran
Institute au Canada, situado em souhaites.