Pesquisar no Blog

segunda-feira, 18 de novembro de 2024

Quando a estabilidade não basta

 A difícil jornada no escuro de quem buscar empreender


Há poucas décadas, a regra para o sucesso era muito clara: bastava se dedicar aos estudos, conseguir emprego numa boa empresa e comemorar cada ano de casa até se aposentar. Se o candidato tivesse Inglês fluente então, o triunfo era quase inevitável. E foi assim que, munidos dessa fórmula já bem testada, esses profissionais educaram os próprios filhos. Contudo, o mundo mudou. E muito. O pacote para ser alcançar um sucesso profissional e financeiro está cada vez mais exigente e rebuscado. Com a grande oferta de profissionais qualificados, a empresa não mais ocupa esse lugar quase arquetípico da Grande Mãe e o mercado de trabalho hoje passou a ter uma maior volatilidade. O investimento de tempo e dinheiro para se galgar um currículo invejável podem ser astronômicos. E ainda assim, após atingido o tal sonhado sucesso na carreira, encontramos hoje milhares de profissionais totalmente insatisfeitos nas organizações. 

Com Débora Telles não foi diferente. Desde muito cedo, se esmerou em cursar uma boa faculdade seguida por um CBA e se dedicou arduamente à carreira. Estava, por fim, onde sempre desejou; tinha uma posição executiva em uma grande multinacional. Contudo, com o passar dos anos, não sentia a realização profissional que esperava: “Eu entrava na minha sala, fechava a porta e me sentia muito culpada por não estar feliz. Estava numa posição que muita gente queria e ainda assim não me sentia satisfeita”. Débora conta que havia optado pela Psicologia porque tinha o desejo de atuar na clínica atendendo pacientes, mas temia o retorno financeiro – possivelmente bem menor do que o que ela já tinha na empresa.

“Comecei a marcar cafés e almoços com colegas que tinham seu próprio consultório e queria, com minha cabeça pré-formatada, que me explicassem como funcionava a gestão e a estratégia para eu pensar na viabilidade de fazer esse movimento” – Ri Débora. “Minha mente era tão enrijecida com a realidade que eu estava acostumada que não conseguia entender como era possível trabalhar o tal crescimento orgânico que eles tinham. Porque a empresa acaba tendo uma coerção interna muito grande. Enquanto você está lá, a sensação que lhe é vendida o tempo todo é que não existe vida fora, que ali é o melhor lugar para se estar e qualquer coisa diferente disso é extremamente ameaçadora. Lembra um pouco o Mito da Caverna de Platão”.

Apesar de sua estabilidade profissional, sentia que precisava de coragem para fazer uma mudança de carreira. “Por anos eu me dediquei a desenvolver talentos e lideranças, mas sentia que faltava um pedaço importante da minha própria realização”, conta.

Foi em 2015, num misto de coragem e dúvidas, que tomou uma das decisões mais desafiadoras de sua vida: deixar o mundo corporativo para abrir sua própria clínica de psicologia. "Foi um salto no escuro, mas era algo que eu precisava fazer por mim", relembra. A transição não foi fácil. Acostumada aos mimos e benefícios do ambiente organizacional, ela teve que enfrentar inseguranças, aprender sobre gestão e lidar com o medo do incerto. Mas foi ali, em seu consultório, que ela se encontrou de verdade.

No início, ela ainda carregava o peso das dúvidas sobre sua própria capacidade. Conta que quando as pessoas perguntavam socialmente com o que trabalhava, por vezes ainda referenciava à antiga posição. “Quando você diz que você é uma Executiva de uma multinacional famosa, todos sabem onde te plotar na vida, sabem o status da sua carreira. Já se eu dizia “Psicóloga”, para mim era como se isso não dissesse muito. Estava ainda muito presa à minha antiga identidade. Isso somado ao medo do consultório não dar certo”, compartilha. Mesmo com medo, foi aliançando seus dois mundos que ela transformou seu consultório em um espaço de acolhimento e crescimento, tanto para seus pacientes quanto para si mesma.

Segundo Débora, “às vezes precisamos ter a audácia de encerrar uma fase da vida que não faz mais sentido e ter coragem de buscar algo novo. O emprego em uma empresa parece estável, mas isso é uma fantasia conveniente, já que nada é garantido. O consultório passou a dar certo mesmo quando entendi que os anos em que eu passei longe da prática clínica, tendo outras experiências e conhecimentos, agregam – e muito – nos atendimentos. Não era algo a ser escondido, muito pelo contrário: é um diferencial".

Hoje, passados alguns anos, não só superou esses desafios, como alcançou resultados que não imaginava serem possíveis. Seu consultório gera uma renda mais de dez vezes superior à média do mercado, uma conquista que reflete não só o sucesso financeiro, mas a realização de um sonho. “Não se trata apenas de números. Sempre explico para os pacientes que a terapia nem sempre é fácil, mas sempre vale a pena. E vê-los fazendo avanços significativos é muito gratificante e me lembra o porquê da escolha que fiz”, diz emocionada.

Essa é uma das milhares de histórias que servem de inspiração para mulheres que, como ela, buscam atender à uma demanda interna de terem o próprio negócio. Atesta mais uma prova de que, mesmo em meio às incertezas, é possível transformar o medo em combustível para crescer. “Hoje, olho para trás com orgulho. Aquela decisão que parecia tão assustadora e distante se tornou o maior presente que já me dei”, conclui a profissional.

 

Débora Gusmão Telles - Psicóloga Clínica e empreendedora com ampla experiência no mundo corporativo. Formada em Psicologia pela PUC-SP e com CBA pelo Insper-SP, construiu uma carreira sólida em grandes multinacionais, em Recursos Humanos. Com mestrado em Psicologia Clínica e especialização em Terapia Familiar e de Casal. Desde 2015, concluiu mestrado em Psicologia Clínica e obteve o título de Especialista em Terapia de Casal e Familiar e abriu seu próprio consultório de psicologia, atendendo adolescentes, adultos e casais. Débora também é autora do livro Escolha Profissional: O que você precisa saber para não errar (2024), e co-autora dos livros Família e Comunidade: Interfaces da Psicologia Clínica (2022) e Com-vivendo com a adolescência nos dias atuais (2021).

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados