A difícil jornada no escuro de quem buscar empreender
Há poucas décadas, a regra para o sucesso era muito
clara: bastava se dedicar aos estudos, conseguir emprego numa boa empresa e
comemorar cada ano de casa até se aposentar. Se o candidato tivesse Inglês
fluente então, o triunfo era quase inevitável. E foi assim que, munidos dessa
fórmula já bem testada, esses profissionais educaram os próprios filhos.
Contudo, o mundo mudou. E muito. O pacote para ser alcançar um sucesso
profissional e financeiro está cada vez mais exigente e rebuscado. Com a grande
oferta de profissionais qualificados, a empresa não mais ocupa esse lugar quase
arquetípico da Grande Mãe e o mercado de trabalho hoje passou a ter uma maior
volatilidade. O investimento de tempo e dinheiro para se galgar um currículo
invejável podem ser astronômicos. E ainda assim, após atingido o tal sonhado
sucesso na carreira, encontramos hoje milhares de profissionais totalmente
insatisfeitos nas organizações.
Com Débora Telles não foi diferente. Desde muito
cedo, se esmerou em cursar uma boa faculdade seguida por um CBA e se dedicou
arduamente à carreira. Estava, por fim, onde sempre desejou; tinha uma posição
executiva em uma grande multinacional. Contudo, com o passar dos anos, não
sentia a realização profissional que esperava: “Eu entrava na minha sala,
fechava a porta e me sentia muito culpada por não estar feliz. Estava numa
posição que muita gente queria e ainda assim não me sentia satisfeita”. Débora
conta que havia optado pela Psicologia porque tinha o desejo de atuar na
clínica atendendo pacientes, mas temia o retorno financeiro – possivelmente bem
menor do que o que ela já tinha na empresa.
“Comecei a marcar cafés e almoços com colegas que
tinham seu próprio consultório e queria, com minha cabeça pré-formatada, que me
explicassem como funcionava a gestão e a estratégia para eu pensar na
viabilidade de fazer esse movimento” – Ri Débora. “Minha mente era tão
enrijecida com a realidade que eu estava acostumada que não conseguia entender
como era possível trabalhar o tal crescimento orgânico que eles tinham. Porque
a empresa acaba tendo uma coerção interna muito grande. Enquanto você está lá,
a sensação que lhe é vendida o tempo todo é que não existe vida fora, que ali é
o melhor lugar para se estar e qualquer coisa diferente disso é extremamente
ameaçadora. Lembra um pouco o Mito da Caverna de Platão”.
Apesar de sua estabilidade profissional, sentia que
precisava de coragem para fazer uma mudança de carreira. “Por anos eu me
dediquei a desenvolver talentos e lideranças, mas sentia que faltava um pedaço
importante da minha própria realização”, conta.
Foi em 2015, num misto de coragem e dúvidas, que
tomou uma das decisões mais desafiadoras de sua vida: deixar o mundo
corporativo para abrir sua própria clínica de psicologia. "Foi um salto no
escuro, mas era algo que eu precisava fazer por mim", relembra. A
transição não foi fácil. Acostumada aos mimos e benefícios do ambiente
organizacional, ela teve que enfrentar inseguranças, aprender sobre gestão e
lidar com o medo do incerto. Mas foi ali, em seu consultório, que ela se
encontrou de verdade.
No início, ela ainda carregava o peso das dúvidas
sobre sua própria capacidade. Conta que quando as pessoas perguntavam
socialmente com o que trabalhava, por vezes ainda referenciava à antiga
posição. “Quando você diz que você é uma Executiva de uma multinacional famosa,
todos sabem onde te plotar na vida, sabem o status da sua carreira. Já se eu
dizia “Psicóloga”, para mim era como se isso não dissesse muito. Estava ainda
muito presa à minha antiga identidade. Isso somado ao medo do consultório não
dar certo”, compartilha. Mesmo com medo, foi aliançando seus dois mundos que
ela transformou seu consultório em um espaço de acolhimento e crescimento,
tanto para seus pacientes quanto para si mesma.
Segundo Débora, “às vezes precisamos ter a audácia
de encerrar uma fase da vida que não faz mais sentido e ter coragem de buscar
algo novo. O emprego em uma empresa parece estável, mas isso é uma fantasia
conveniente, já que nada é garantido. O consultório passou a dar certo mesmo
quando entendi que os anos em que eu passei longe da prática clínica, tendo
outras experiências e conhecimentos, agregam – e muito – nos atendimentos. Não
era algo a ser escondido, muito pelo contrário: é um diferencial".
Hoje, passados alguns anos, não só superou esses
desafios, como alcançou resultados que não imaginava serem possíveis. Seu
consultório gera uma renda mais de dez vezes superior à média do mercado, uma
conquista que reflete não só o sucesso financeiro, mas a realização de um
sonho. “Não se trata apenas de números. Sempre explico para os pacientes que a
terapia nem sempre é fácil, mas sempre vale a pena. E vê-los fazendo avanços
significativos é muito gratificante e me lembra o porquê da escolha que fiz”,
diz emocionada.
Essa é uma das milhares de histórias que servem de
inspiração para mulheres que, como ela, buscam atender à uma demanda interna de
terem o próprio negócio. Atesta mais uma prova de que, mesmo em meio às
incertezas, é possível transformar o medo em combustível para crescer. “Hoje,
olho para trás com orgulho. Aquela decisão que parecia tão assustadora e distante
se tornou o maior presente que já me dei”, conclui a profissional.
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