No Dia Mundial da
doença, organizações defendem protagonismo da saúde básica para dar
visibilidade e ofertar cuidado de qualidade a pacientes
Mais de um século depois da descoberta da Doença de
Chagas, milhões de pessoas ainda permanecem infectadas, principalmente na
América Latina, e a grande maioria delas não sabe sequer que tem a doença. Para
tentar reverter essa situação de desconhecimento em relação ao problema e
escassez de oferta de cuidados e diagnóstico aos pacientes, um grupo de
organizações se une nesse 14 de abril, Dia Mundial da Doença de Chagas, para
chamar a atenção para a necessidade de integrar o atendimento de pacientes de
Chagas à Atenção Primária à Saúde.
Se devidamente implantada, a integração permitirá
que uma pessoa com Chagas tenha sua condição detectada no nível mais elementar
de atendimento, que no Brasil é realizado nas Unidades Básicas de Saúde (UBS),
passando a ter acesso a diagnóstico oportuno, tratamento da doença e
acompanhamento em estruturas de saúde perto dos lares dos pacientes.
A experiência de organizações como DNDi, Médicos
Sem Fronteiras (MSF) e CUIDA Chagas, no Brasil e em outros países, tem
demonstrado ser primordial implementar, já na saúde básica, ações de prevenção
e de vigilância de pessoas e territórios em risco para doença de Chagas. Da
mesma forma, a saúde básica deve ter mais protagonismo em políticas de
diagnóstico, tratamento e cuidado das pessoas acometidas.
“Entendemos que a detecção e o tratamento de Chagas
podem e devem ser feitos na Atenção Básica de Saúde. Atualmente, só existem
cuidados para esses pacientes em centros especializados, que ficam distantes de
seus locais de moradia. Eles precisam viajar para conseguir tratamento ou ficam
sem atendimento,” explica Andrea Silvestre, Investigadora Principal do CUIDA
Chagas.
Chagas é uma doença tropical negligenciada (DTN) de
abrangência global, mas que afeta principalmente as populações vulneráveis da
América Latina, onde estima-se que apenas 10% de seus portadores sabem de sua
condição e só 1% recebe tratamento. No mundo todo, de 6 milhões a 8 milhões de
pessoas são acometidas e mais de 75 milhões moram em áreas de risco de
contágio, sendo que 1,12 milhão são mulheres em idade fértil.
Na América Latina, aproximadamente 12 mil pessoas
morrem todos os anos por causa dessa doença e entre 8 mil e 15 mil bebês são
infectados por meio da chamada transmissão vertical, aquela que pode acontecer
durante a gravidez ou o parto. Sem tratamento, entre 30% e 40% dos afetados
desenvolvem sérias complicações de saúde, principalmente no coração e no
sistema digestivo. Mesmo diante de um cenário comum a outras DTNs, de pouco
investimento em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos, há tratamentos
disponíveis que permitem controlar e até mesmo curar a doença, se ela for
diagnosticada cedo, em sua etapa inicial.
“Nossa única chance de retirar do esquecimento
milhões de pessoas é a implementação de metas e incentivos para notificação,
controle e eliminação da doença a partir da atenção primária de saúde, apoiada
em Linhas de Cuidado que fortaleçam uma atenção descentralizada”, afirma Sergio
Sosa-Estani Diretor Executivo da DNDi na América Latina. Ele também chama a
atenção para a queda dos investimentos no desenvolvimento de novos fármacos e
provas diagnósticas para Chagas e DTNs em geral. “É essencial a implantação de
mecanismos de financiamento para pesquisas relacionadas a essas doenças, pois
somente com um fluxo de recursos contínuo conseguiremos atingir as metas de
controle e eliminação”, diz ele.
O diagnóstico, o tratamento e o cuidado integral da
doença de Chagas trazem benefícios importantes, incluindo a prevenção da
transmissão vertical, a grande possibilidade de cura em bebês e o controle e
redução da progressão para formas avançadas da doença em adultos. Todos esses
benefícios podem ser conquistados caso exista conhecimento sobre as
particularidades de cada contexto epidemiológico, protocolos adequados,
conscientização social e maior investimento público e privado. Para isso,
mecanismos de articulação institucional, pesquisa científica e inovação
tecnológica são fundamentais para melhorar a informação disponível sobre o
impacto socio-sanitário da doença e para viabilizar a implementação de mais
ações e políticas concretas.
“É importante reconhecer que alguns avanços estão
ocorrendo, mas é preciso ir além”, afirma Clara Alves, especialista de advocacy
e assuntos humanitários de MSF. “É necessário garantir atendimento para todos
em todo o país, e só será possível alcançar esse objetivo com a capacitação
adequada dos profissionais de saúde e trazendo o atendimento para a ponta, ou
seja, para as Unidades Básica de Saúde. Também é urgente avançar em estratégias
de busca ativa para diagnóstico e garantir a sustentabilidade da oferta de
tratamento ", afirma Clara.
Para marcar o Dia Mundial da Doença de Chagas, o
Ministério da Saúde por meio do GT Chagas, realiza um evento internacional, que
acontece nesta sexta-feira, dia 14, em Brasília.
Na abertura, haverá representantes do Ministério,
da OPAS/OMS, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), do Conselho
Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS) e da Federação
Internacional de Associações de Pessoas Afetadas pela Doença de Chagas
(FINDECHAGAS). Na sequência, ocorrem duas mesas de debate: uma sobre a
importância da inserção da doença na atenção primária e outra para tratar sobre
os avanços na prevenção das diversas formas de transmissão. Para acompanhar os
debates, é necessário cadastrar-se no link https://webinar.aids.gov.br
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