Thiago Braga, autor do Sistema de Ensino pH, elenca os principais assuntos: mobilidade urbana, preconceito linguístico, bullying, automedicação, obesidade, gravidez na adolescência, sistema carcerário brasileiro e potencial dos influenciadores
O
Enem 2022, que será realizado nos dias 13 e 20 de novembro, é uma prova
importante para os mais de três milhões de inscritos, uma vez que serve como porta
de entrada para as universidades públicas do país. De olho na nota mil, muitos
candidatos têm em comum uma preocupação: a redação, que é sempre alvo de muitas
especulações e motivo de tensão entre os jovens. Com o objetivo de ajudá-los a
se prepararem um pouco mais e, inclusive, treinarem a dissertação, Thiago
Braga, professor de redação e autor do Sistema de Ensino pH, sugere oito temas
que, em sua visão, têm grande probabilidade de aparecerem no exame deste ano.
Confira abaixo:
1.
Mobilidade urbana
No Brasil, muitos centros urbanos têm grandes dificuldades no transporte e no deslocamento de pessoas, porque ainda são adeptos de transportes poluentes. Uma prova disso é o modesto incentivo à ciclovia e o baixo desenvolvimento das malhas metroviárias e ferroviárias pelo território. A título de comparação: toda a rede de transporte urbano sobre trilhos para passageiros, no Brasil, equivale ao metrô disponível apenas na cidade de Nova York, a maior rede do mundo, com 24 linhas e mais de 460 estações. “Nós temos sistemas sucateados, sistemas de transporte lotados e precários que hoje são caros para o trabalhador que ganha o salário mínimo. O Brasil ainda está em fase de desenvolvimento no aspecto da mobilidade urbana. Esse é um problema grande das cidades que poderia ser trabalhado, sem dúvida, na redação do Enem”, afirma o autor.
2.
Automedicação
A
população brasileira é uma das que mais se automedica, sendo um hábito comum a
77% dos brasileiros, de acordo com a pesquisa feita pelo Conselho Federal de
Farmácia (CFF). Alguns remédios não são controlados como deveriam, o que pode
promover o mascaramento de condições clínicas severas e causar danos para a
saúde. Outro problema comum, que está na casa de muitos brasileiros, é a
‘maletinha de remédios’: esses itens, com o passar do tempo, vão se degradando
e podem gerar substâncias tóxicas. “É uma questão cultural de saúde que pode
trazer diversas consequências, até mesmo irreversíveis, para o organismo.
Portanto, é um assunto importante que deve ser estudado”, ressalta o
professor.
3.
Obesidade na sociedade brasileira atual
O
estudo A Epidemia de Obesidade e as DCNT – Causas, custos e sobrecarga no SUS
mostra que, no Brasil, a prevalência do excesso de peso aumentou de 42,6% em
2006 para 55,4% em 2019. Já a obesidade saltou de 11,8% para 20,3% no mesmo
período. Thiago Braga aponta que esta questão gera uma série de comorbidades
que acabam saturando o sistema de saúde, público para muitos brasileiros,
porque “não se pensa em prevenção e não se tem uma ampla divulgação sobre
alimentação saudável, da forma como foram propostas, por exemplo, as
estratégias de prevenção contra o tabagismo, talvez por um receio de ser
associado com um debate estético”. Como o excesso de peso e a obesidade são uma
preocupação de saúde significativa para o país, Thiago afirma ser um tema que
certamente poderia ser trabalhado na prova do Enem.
4.
Gravidez na adolescência
“Vivemos
em um país em que a educação sexual não está presente nem nas escolas privadas,
muito menos nas escolas públicas”. Entre os efeitos da desinformação e de não
se educar uma população sobre o tema estão: a violência sexual, as ISTs
(Infecções Sexualmente Transmissíveis), o início precoce da vida sexual e a
gravidez na adolescência. “Assim como o tema do ano passado, sobre registro
civil, esta é uma temática que está ligada a grupos menos abastados da
sociedade, às classes mais pobres, que são as que, infelizmente, têm um maior
número de gravidez indesejada entre os 15 e 19 anos. Para além disso, essas
camadas têm de lidar com a questão sem o devido auxílio da sociedade e do
Estado.” Segundo Thiago, a discussão é de extrema importância para os
adolescentes brasileiros e não pode ser deixada de lado.
5.
Preconceito linguístico
“Uma
bandeira do Enem desde quando a prova começou é o tema do preconceito
linguístico, do uso da língua como elemento hierarquizador, da valorização de
determinados falares brasileiros em detrimento de outros. Esse também é um
ponto a ser considerado no sentido de conscientizar os jovens brasileiros de
que qualquer produção de fala dentro do país tem valor”, pontua Thiago. Como o
preconceito linguístico é um assunto que aparece na prova de linguagens com
frequência e tem muita relevância para o Enem, o autor sugere que seja uma discussão
estudada e que gere sempre atenção dos vestibulandos.
6.
Desafios do sistema carcerário brasileiro
O
Brasil tem uma das maiores populações carcerárias, ocupando a 3ª posição no
ranking mundial, e um sistema muito pouco eficiente, no sentido de preparar
para uma ressocialização, de garantir a segurança e os direitos humanos dos
presidiários. “Dois problemas muito comuns, nesse contexto, são as facções
criminosas inseridas dentro das prisões e a pouca disponibilidade de
oferecimento de educação para os cidadãos que estão presos. Então, essa é uma
discussão pertinente, por ser interesse da sociedade uma reinserção e um
cuidado na ressocialização – algo que, infelizmente, não acontece.”
7.
Influência dos youtubers e influenciadores sobre os jovens e os adolescentes
A
onda de influenciadores tem mudado os hábitos de consumo da sociedade, tem
feito com que as pessoas tenham seus comportamentos conduzidos e moldados por
eles. Segundo Braga, da mesma forma que podem fazer o bem, os influenciadores
digitais podem também reforçar estereótipos e padrões de beleza e de
comportamento, gerando mais insegurança na sociedade. “Esse é um tópico que
toca bastante a juventude. Seria interessante se fosse discutido no Enem,
porque promoveria uma reflexão feita pelos próprios jovens sobre o papel desses
ícones virtuais e o impacto que exercem em suas vidas.”
8.
Bullying e cyberbullying nas escolas
“É
um tema muito esperado ao longo dos últimos dez anos, porque o Enem trabalhou
poucos temas de educação. Merece atenção, uma vez que a gente já está
enfrentando algumas reações mais explícitas nesse âmbito. Existem poucos
programas nacionais de combate e conscientização em relação a ambos”, destaca o
autor. O problema do bullying está ligado à questão da alteridade, do respeito
ao outro, do diferente, e se configura como uma questão muito sensível, porque,
de acordo com o autor, ainda temos uma sociedade bastante preconceituosa e
pouco acolhedora. “Sem dúvidas nenhuma, é um assunto que já deveria ter caído”,
conclui.
Sistema de Ensino pH
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