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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

No dia Internacional da Superdotação, famílias apontam falta de inclusão nas escolas

Alunos com Altas Habilidade ou Superdotação têm direito à educação especial, mas famílias reclamam de falhas nas Políticas Públicas e despreparo das escolas

 

Hoje, dia 10 de agosto, é celebrado o Dia Internacional da Superdotação. Porém, no Brasil, há pouco a se comemorar. Dados que revelam esse sentimento são de uma pesquisa nacional realizada pelo Grupo de Apoio via app (Whatsapp) “Crescer Feliz”, com mais de 150 famílias de norte a sul do país, entre os dias 04 e 05 de agosto. Dentre as principais queixas estão as Políticas Públicas e Legislação para crianças com Altas Habilidades ou Superdotação (AH ou SD), com 85,2% das famílias avaliando a divulgação delas como ruim ou péssima.

Infelizmente no Brasil, as poucas Políticas Públicas que existem para pessoas com AH ou SD dizem respeito ao contexto educacional e ainda assim são limitadas como aceleração de série, plano de educação individualizado e o atendimento em sala de recursos. Porém, muito em função do preconceito, esses poucos direitos muitas vezes são negados”, afirma o psicólogo e neuropsicólogo Damião Silva, que também é superdotado.

O especialista ainda ressalta que a falta de Políticas Públicas se dá também pela ausência de registro dessas pessoas, que não são instruídas muitas vezes pelas escolas, por exemplo, para realizar esse cadastro frente ao Ministério da Educação.

“Nós só teremos apoio quando souberem que não somos apenas 24 mil e sim milhões de pessoas de norte a sul do País que não podem ser simplesmente jogadas no “limbo”. Então, neste dia 10 de agosto, que os governantes possam refletir e pensar em investimentos para a formação de educadores, profissionais de saúde que tragam o suporte necessário para essas crianças atípicas. Uma criança identificada e atendida será uma criança feliz”, finaliza Silva.

Além disso, praticamente oito em cada dez famílias (78,9%) consideram que as escolas não se esforçam como deveriam em adaptar e enriquecer o currículo para atendimento das necessidades de educação especial desse público.

Para que as escolas estejam de fato preparadas a atender crianças com perfil de superdotação é necessário treinamento e capacitação desses profissionais. Porém, a avaliação de 75,2% das famílias de superdotados consultadas na enquete é de que, em geral, a direção, a coordenação e o corpo docente das escolas sequer compreendem as características e necessidades de educação especial para esses alunos.

“O maior obstáculo para a efetividade dos programas de formação desses profissionais está, em primeiro lugar, na concepção da superdotação que afeta a identificação desse público. Enquanto as escolas estiverem fixadas no conceito de SD como um “super talento” e não como uma condição “neuroatípica” que, se não atendida por adequações curriculares compatíveis com o perfil de cada superdotado, afeta em todos os aspectos a vida de crianças e adolescentes, a situação não vai mudar”, comenta a Neuropsicopedagoga especialista em avaliação da superdotação, Dra. Olzeni Ribeiro.

Ainda segundo a especialista, é a concepção que está limitada e a efetividade, naturalmente, também vai estar. “As escolas precisam ampliar o entendimento de que estão com alunos da Educação Especial que também precisam de acessibilidade -- LDB, Art. 28, II -- aprimoramento dos sistemas educacionais, visando a garantir condições de acesso, permanência, participação e aprendizagem, por meio da oferta de serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem as barreiras e promovam a inclusão plena -- alunos superdotados precisam desses recursos, porque eles não estão tendo inclusão e isso depende de uma diferenciação profunda no modelo de ensino. As escolas não conseguem compreender, porque os conceitos deturpados estão incompatíveis com o que a escola, de fato, enxerga no aluno. Precisamos reduzir as discrepâncias em todos os sentidos”, finaliza.

Não é difícil entender um outro dado que aponta essa angústia das mães e pais de superdotados no Brasil. Para 82,9% dos entrevistados, não há ofertas em suas regiões de escolas preparadas para receber seus filhos. Por fim, a pesquisa traz um dado importante sobre a deficiência de Políticas Públicas para testagem e laudos que comprovem a AH ou SD no Brasil. Entre as famílias que participaram do levantamento, 67,4% classificam como ruim ou péssimo o acesso nas regiões em que vivem a avaliações e atendimento especializados de crianças com esse perfil.

"As famílias de crianças que apresentam sinais de AH ou SD necessitam realizar uma Avaliação Neuropsicológica ou Multidisciplinar Diagnóstica, com a aplicação de instrumentos técnicos que comprovem suas capacidades cognitivas; e infelizmente o acesso a esse tipo de avaliação no Brasil ainda é muito difícil. As instituições clínicas que fazem de forma particular cobram valores que a maioria dos pais não consegue arcar com esses altos custos. Então muitos dependem de aguardar vaga em algumas instituições públicas (porém as vagas são poucas e o processo se torna demorado). Aqui na clínica temos um projeto que recebe algumas famílias de baixa renda e faz as avaliações em caráter social. É a nossa contribuição possível para tentar amenizar a angústia dessas famílias”, afirma Mariana Casagrande, neuropsicopedagoga, especialista em Superdotação.

A solução para muitas é a busca por entidades de trabalho assistencial e profissionais voluntários. Aqui na Clínica Casagrande temos o Projeto Casa de Generosidade que recebe as famílias de baixa renda e faz as avaliações em caráter social. No Brasil, de acordo com o Censo Escolar 2020, existem pouco mais de 24 mil estudantes com perfil de altas habilidades ou superdotação matriculados na educação especial, mas o número real pode ser muito maior. A Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que 5% da população têm algum tipo de alta habilidade ou superdotação. Segundo o Ministério da Educação (MEC), se forem considerados os mais de 47 milhões de alunos da educação básica (Censo Escolar, Inep 2020) cerca de 2,3 milhões de estudantes devem compor esse grupo. Pesquisa completa aqui.

 

Altas Habilidades ou Superdotação

O Plano Nacional de Educação (PNE) prevê matricular todas as crianças de 4 a 17 anos com deficiências, transtornos de comportamento ou altas habilidades ou superdotação e ofertar atendimento especializado até 2024. Mas, segundo o observatório que monitora o andamento das metas, faltam pesquisas e indicadores que apontem se o objetivo está sendo cumprido.

O conceito de altas habilidades ou superdotação só passou a fazer parte da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), que regulamenta a educação no país, em 2013. Naquele ano, foi promulgada a lei nº 12.796, que altera a LDB e estabelece "atendimento educacional especializado gratuito aos educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, transversal a todos os níveis, etapas e modalidades, preferencialmente na rede regular de ensino". Dois anos depois, em 2015, a lei 13.234 foi promulgada para tornar obrigatório identificar, cadastrar e atender estudantes com estas características.

 

Grupo Crescer Feliz

Roberta Castro

 

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