Francisco Gomes
Júnior, advogado especialista em direito digital, explica as formas de
abordagem, apelos emocionais e sofisticação dos golpes utilizadosShutterstock
Todos os meses são publicadas muitas notícias sobre
golpes digitais e os cuidados que devemos ter para evitarmos nos tornar vítima
dos golpistas. Rememorando as precauções, nunca se deve clicar em links
desconhecidos ou duvidosos, fornecer dados por telefone e deve-se desconfiar
quando o benefício oferecido é exagerado (como a venda de um produto por valor
muito abaixo ao cobrado por outras lojas).
Mas, mesmo com esses cuidados, os golpes não param
de aumentar e ganhar ‘roupagem’ nova, o que indica que há um “mercado” rentável
para os bandidos que não estão sendo combatidos. Lembre-se sempre que o
fraudador não tem acesso aos dados ou celular/computador, portanto, alguma
atitude da vítima que permite esse acesso.
De acordo com Francisco Gomes Junior, advogado
especialista em direito digital e presidente da ADDP (Associação de Defesa de
Dados Pessoais e Consumidor), as armadilhas mais comuns mexem com o emocional
da vítima. “Seja porque diz que você ganhou um prêmio ou está recebendo algum
auxílio público; seja oferecendo uma grande oferta, proposta de emprego ou
mesmo indicando que há um problema em sua conta bancária. Essas situações
provocam alegria ou preocupação na vítima, ou seja, o primeiro passo é mexer
com o emocional e induzir a pessoa a cometer um ato por impulso.”
Ainda segundo o especialista, não se deve deixar
levar pelo impulso eufórico de algum benefício que não se esperava, assim como
as pessoas não devem se achar mais espertas que outras porque descobriu um
investimento que rende o que os demais nem imaginam. É preciso pensar por que
estão te oferecendo algo e agir racionalmente. Em dúvida, vale a consulta a
sites das empresas indicadas, falar com o gerente da conta bancária e não tomar
nenhuma atitude sem ter certeza da segurança.
“Os golpes estão se sofisticando. Muitos deles
agora se dão por meio de contatos repetitivos, ou seja, a vítima começa a
comunicar-se com o golpista por aplicativo. As conversas ocorrem durante dias e
a vítima vai adquirindo confiança, tornando-se vulnerável ao fraudador. Quando
a confiança é estabelecida, pode surgir um golpe do amor (aquele em que se
aproveitando-se da carência afetiva da vítima o fraudador estabelece algum
relacionamento com ela), um pedido de empréstimo por alguma urgência (como por
exemplo doença na família) ou ainda a promessa de um investimento em
criptomoedas que irá dobrar o valor investido. Para conseguir essa confiança, o
golpista tem que saber conversar e analisar a vítima para identificar seus
pontos vulneráveis, o que demonstra uma preparação, por vezes, um roteiro a ser
seguido. Até o ghosting é usado em muitas situações”, complementa Gomes Júnior.
O ghosting é um fenômeno típico da era digital,
época em que muitos mantem o hábito de manter várias conversas por aplicativo e
que a toda hora “dão uma olhadinha” no celular para ver se há respostas ou
novas conversas. No ghosting (que vem do ghost, fantasma em inglês), o golpista
corta totalmente o contato com a outra pessoa, sem nenhuma explicação ou
motivo. O que poderia ser uma coisa normal, na era digital não é. O
desaparecimento desse ‘contato’ gera efeito psicológico no interlocutor, que se
sente rejeitado, ofendido e sem entender o que aconteceu, trazendo um
sentimento ruim.
“O golpista vem conversando todos os dias com
a vítima, estabelecem uma relação. De repente, some sem dar sinais, o que deixa
a vítima preocupada. E ele torna a aparecer dias depois, contando alguma
história mirabolante para arrancar algum dinheiro da vítima. Situações como
esta ocorrem inclusive como no filme O golpista do Tinder”, finaliza o
advogado.
Como se pode notar, não somente novos golpes
aparecem a cada mês, mas também a forma de abordagem dos golpistas variam de
caso a caso. As precauções devem ser redobradas.
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