Muita gente vive uma espécie de “luto” quando é desligado de um trabalho
Passamos até mais de um terço do dia
dedicados ao trabalho. A rotina do emprego e as obrigações do ofício acabam nos
conectando de forma muito forte com a empresa, os colegas e as tarefas que
desempenhamos. Por isso, muitas pessoas se sentem “sem chão” quando uma
demissão inesperada acontece.
Segundo a psicóloga e coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, Sueli Cominetti Corrêa, o trabalho pode ocupar lugar de destaque na identidade de uma pessoa e quando uma mudança, alteração inesperada ou um desligamento ocorre, a noção que a pessoa tem de si mesma também se altera.
“Vamos a um exemplo: comumente, quando pedem para que nos apresentemos, falamos nosso nome, nossa idade e... nossa profissão! Mencionamos, como forma de apresentação pessoal, ou seja, como uma forma de sermos identificados, o que fazemos, onde trabalhamos. É parte do que nos distingue das outras pessoas; é como nos reconhecemos. O trabalho, por questões culturais, históricas e sociais, é um componente importante da identidade e nem sempre percebemos o tamanho do espaço emocional que ele ocupa”, explica a psicóloga.
A especialista pontua que ter orgulho do que faz e de onde trabalha é muito bom, mas vale lembrar de outros aspectos da vida e de que somos muito mais do que um crachá diz. Em algumas situações, as pessoas preenchem com a profissão ou com o local de trabalho suas carências e vazios, e passam a se sentir ativas apenas neste contexto.
“Tudo na vida implica em coragem, atenção e equilíbrio. É muito importante que passemos a perceber a importância que damos às coisas, pessoas, afazeres... relembrando que somos muito mais do que apenas um aspecto”, comenta a psicóloga.
Quando isso ocorre, uma demissão pode causar uma verdadeira crise emocional. Essa sensação de perda, de vazio, se assemelha muitas vezes a um luto real, porque a pessoa sente que suas certezas perderam o sentido e não se reconhece enquanto ser, sem ser aquele colaborador e profissional.
Da mesma forma que o luto, demissões também podem ser seguidas de reações de negação: dificuldade em aceitar a notícia do desligamento e sofrimento por sentir que está se “separando” das pessoas de convívio diário.
“A comunicação da demissão deve ser sempre muito clara, objetiva e ética, pois a dificuldade de lidar com a informação pode ocorrer. Outra reação que já foi observada no ambiente de trabalho é a raiva que o demitido sente, muitas vezes até de si mesmo, despertada pela notícia do desligamento. A dificuldade em lidar com a perda pode provocar ainda impulsividade, culpabilizações e até a não-escuta dos critérios adotados”, pontua.
Na opinião de Sueli, nesse cenário, o colaborador não pode perder a razão e deve respirar fundo, serenando as reações, que nunca devem ser desrespeitosas, hostis ou imaturas. A insistência, barganha e tentativas de revogar o desligamento também são analogias do sofrimento vivenciado no luto.
“No entanto, haverá um momento no qual a percepção ocorrerá e pode haver reações como tristeza, choro e abatimento. Novamente, a postura profissional do comunicante é essencial, bem como encaminhamento para serviços de acolhimento e reorientação profissional”, pontua a especialista.
Mas há sempre uma luz no fim do túnel: mesmo sendo adversa, a situação de demissão implica em maturidade e controle, até porque o trabalhador não pode esquecer que a forma como ele lida com as situações também serve como um cartão de visita -- ele é observado e a forma como ele reage com os imprevistos, o quanto ele se reergue frente às adversidades e seu nível de segurança podem abrir novas portas.
“Entretanto, se a dor frente à demissão for extrema, a pessoa deve procurar ajuda não só para enfrentamento, mas para entender que espaço o trabalho ocupa dentro dela, e o que tem dedicado para outras coisas importantes que a completa. Também é muito maduro reavaliar o desempenho profissional, seus diferenciais e as habilidades socioemocionais que são condições essenciais hoje para o mercado de trabalho”, acrescenta.
Por fim, a psicóloga ressalta que a
demissão não necessariamente é um fim: ela pode significar um recomeço, a
reafirmação de escolhas ou até mesmo o início de novas trajetórias
profissionais.
Anhanguera
https://www.anhanguera.com/ e https://blog.anhanguera.com/category/noticias/
Kroton
www.kroton.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário