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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Avanço da vacinação contra Covid-19 não refletiu ainda em retomada dos diagnósticos de cânceres exclusivamente masculinos

Número de casos de cânceres urológicos masculinos registrados no país continua abaixo do esperado: diagnóstico de câncer de próstata caiu 47,8%; de pênis, 13%; e de testículo, 28,6%, quando comparados os meses de janeiro a maio de 2019 e 2022. Os dados foram compilados do Painel Oncologia Brasil/Datasus


O impacto negativo da pandemia no diagnóstico precoce dos cânceres exclusivamente masculinos – próstata, pênis e testículo – ainda não foi revertido diante do calendário vacinal e do afrouxamento de medidas de isolamento em todo o país. Nos primeiros cinco meses de 2022 comparados com igual período de 2019, ou seja, antes da pandemia e após o início da vacinação, o cenário continua a ser de queda significativa no volume de casos registrados das doenças.

No país, em relação ao câncer de próstata, os diagnósticos caíram 47,8% (de 16.880 casos, em 2019, para 8.801, em 2022). Em relação ao câncer de pênis, 13% (de 391 para 340), e câncer de testículo, 28,6% (de 725 para 517). Os dados foram compilados do Painel Oncologia Brasil/Datasus.  

Essa redução chama a atenção porque pode ocasionar uma onda de diagnósticos mais tardios, com doenças mais graves devido à demora no tratamento e desfechos menos favoráveis para os pacientes, segundo o cirurgião oncológico Gustavo Guimarães, diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR) e coordenador geral dos Departamentos Cirúrgicos Oncológicos do grupo BP-A Beneficência Portuguesa de São Paulo. “Tradicionalmente, os homens são mais negligentes nos cuidados relacionados à saúde do que as mulheres. E com base nos dados do Datasus, é possível inferir que mesmo após a vacinação e a retirada das medidas de isolamento social, eles continuam afastados dos consultórios médicos e isso terá consequências”, avalia.


Números por região

O cenário em relação a esses diagnósticos, de acordo com a mesma base de dados, revela o seguinte:


Diagnóstico de câncer de próstata *

Região

Janeiro a   maio 2019 

Janeiro a maio 2020

Janeiro a maio 2021

 

 

Janeiro a  maio 2021

 

 

% de queda   (2019 x 2022)

Norte

549

468

407

 169

69,2

Nordeste

4.302

2.845

3.357

2.045

52,4

Sudeste

8.380

6.986

6.903

4.733

43,5

Sul

2.663

2.265

2.008

1.291

51,5

Centro-Oeste

986

794

761

563

42,9

Total

16.880

13.358

13.436

8.801

47,8

*Painel Oncologia Brasil/Datasus – Casos segundo UF da residência



Diagnóstico de câncer de testículo*

Região

Janeiro a maio 2019

Janeiro a maio 2020

Janeiro a maio 2021

 

 

Janeiro a  maio 2021

 

 

% de queda   (2019 x 2022)

Norte

22

32

24

        18

18,1

Nordeste

89

80

72

49

44,9

Sudeste

324

316

273

250

22,8

Sul

248

265

180

162

34,6

Centro-Oeste

42

44

45

38

9,5

Total

725

737

524

517

28,6

*Painel Oncologia Brasil/Datasus – Casos segundo UF da residência

 


Diagnóstico de câncer de pênis*

Região

Janeiro a maio 2019

Janeiro a maio 2020

Janeiro a maio 2021

 

 

Janeiro a  maio 2021

 

 

% de queda (2019 x 2022)

Norte

19

37

41

 8

57,8

Nordeste

121

123

126

96

20,6

Sudeste

140

146

143

142

+ 1,4**

Sul

82

67

80

64

21,9

Centro-Oeste

29

24

47

30

+ 3,4**

Total

391

397

437

340

13

*Painel Oncologia Brasil/Datasus – Casos segundo UF da residência

** Regiões que registraram alta

 


A importância do checkup regular

De acordo com Guimarães, fazer os exames de rotina como hemograma, eletrocardiograma, colesterol e glicemia, ajuda a criar um histórico da saúde e entender melhor quando algo desanda. “Especialmente para o homem, é importante um acompanhamento constante com um médico, para conferir se tudo está realmente bem”, afirma.

No caso das doenças oncológicas, o diagnóstico precoce tem impacto determinante no tratamento. Isso porque diagnósticos mais tardios de tumores estão relacionados a pior prognóstico, a tratamentos mais agressivos, caros e com pior resultado. “Nesses casos, temos um custo irreparável que é a vida perdida. Um câncer em fase mais adiantada, mesmo quando o resultado do tratamento é satisfatório, pode levar a maior prejuízo tanto para o paciente quanto para a família em função de sequelas”, afirma.

Os tumores de pênis, por exemplo, quando restritos ao órgão, a cura pode ser atingida em mais de 70% dos casos. Porém, quando compromete linfonodos inguinais, a sobrevida é menor que 50% em cinco anos. Se acomete linfonodos pélvicos, a sobrevida não chega a 20%. “Em geral, metade dos diagnósticos desse tipo de tumor são feitos depois de um ano do início da doença. O atraso maior ainda provocado pelo cenário da pandemia, pode custar ao paciente a necessidade de mutilação cirúrgica (amputação do órgão)”, explica o especialista.

O câncer de testículo tem maior prevalência no mundo entre os homens de 15 a 34 anos, superando a leucemia, que é o câncer pediátrico mais comum. Um fator que dificulta o diagnóstico precoce no Brasil é o fato de ser muito comum o homem associar qualquer alteração no testículo com alguma doença venérea ou trauma recente. “A maioria tem medo de falar sobre o assunto, principalmente com as esposas”, afirma Guimarães. Embora o câncer de testículo tenha baixa mortalidade, o sucesso do tratamento é maior quando a doença é descoberta precocemente.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, apesar dos avanços terapêuticos em relação ao câncer de próstata, cerca de 25% dos pacientes ainda morrem devido à doença. No Brasil, por mais que o câncer de próstata seja, biologicamente, uma doença com perfil indolente (de crescimento lento), cerca de 20% dos casos são diagnosticados em fase avançada. A desigualdade de acesso aos serviços de saúde é um dos fatores que levou ao aumento da mortalidade por câncer de próstata no país nas últimas três décadas.

Guimarães alerta que é fundamental realizar o exame de sangue que avalia a proteína produzida pelo tecido prostático (PSA) e o exame de toque retal, que propiciam descobrir a doença em fase mais inicial, reduzindo assim a mortalidade. A confirmação diagnóstica se dá por biópsia. “Muito se fala que há excesso de diagnóstico e que muitos tumores, de tão indolentes, poderiam não ser tratados. Em alguns casos, isso até pode ocorrer, mas em um país com desigualdade de acesso aos programas de rastreamento, como é o caso do Brasil, devemos sim incentivar a população a fazer os exames”, destaca Guimarães.

 

IUCR - O Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica Dr. Gustavo Guimarães

 

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