- Também conhecida como osteomalácia induzida por tumor (TIO), a condição se caracteriza pelo desenvolvimento de tumores pequenos e de difícil localização;
- Desconhecimento da doença pode atrasar o diagnóstico correto;
Pouco falada e
comumente confundida com outras doenças[1], a osteomalácia oncogênica,
ou apenas TIO, do inglês tumor-induced osteomalacia, é uma
síndrome paraneoplásica rara, causada por pequenos tumores que produzem
quantidades excessivas de FGF23, uma proteína que regula o fosfato e a vitamina
D, importantes para a saúde óssea. De prevalência desconhecida no Brasil,
estima-se que no mundo haja menos de 1000 casos descritos. Porém, há de se
alertar para o desconhecimento da doença, que pode levar à falta do diagnóstico
preciso.
Dores nos membros, fadiga, níveis baixos de
fosfato no sangue, fraqueza muscular e fragilidade óssea são os principais
sinais e sintomas da TIO, resultado do aparecimento de um ou mais tumores,
geralmente pequenos e benignos e, muitas vezes, de difícil localização. Os
tumores podem aparecer em qualquer parte do corpo, da cabeça aos pés, tanto nos
ossos quanto em órgãos e tecidos moles, e produzem em excesso o FGF23,
responsável pela regulação do fósforo no organismo.
"Levando em consideração que a rigidez e a
integridade dos ossos dependem de fósforo, os níveis diminuídos deste elemento
terão impacto na qualidade óssea. O fósforo também faz parte da geração de
energia para o adequado funcionamento do organismo, que também será impactada
com sua redução. Além disso, a elevação de FGF23 compromete a produção de
vitamina D na sua forma ativa, prejudicando a absorção pelo intestino do cálcio
e do fósforo ingeridos na alimentação", explica a Dra. Maria Marta Sarquis
Soares, professora titular no departamento de Clínica Médica da Universidade
Federal de Minas Gerais e endocrinologista.
Como consequência desta condição, os ossos se
tornam frágeis, ficando sujeitos a fraturas múltiplas, incluindo lesões na
coluna vertebral, redução da altura e dores ósseas difusas. Também são comuns
dores e fraquezas musculares, além de dificuldade para caminhar. "É
importante salientar que, devido aos sintomas muitas vezes inespecíficos, a TIO
pode ser confundida com outras doenças, como osteoporose, artrite inflamatória,
fibromialgia, doenças reumatológicas e neurológicas. Estes diagnósticos
errôneos podem atrasar em muitos anos o diagnóstico correto e o tratamento
adequado da condição", alerta a especialista.
Apesar de rara e complexa, a TIO pode ser
diagnosticada por meio de exames de sangue e de urina, que avaliam os níveis de
fósforo, cálcio, vitamina D e o FGF23, além de exames de imagem, como
tomografia computadorizada e cintilografia (para investigar o tumor). "É
importante lembrar que a identificação precoce da doença permite uma melhor
qualidade de vida ao paciente e que qualquer indivíduo pode ser afetado pela
TIO. Entretanto, o pico de incidência da condição varia entre 40 e 45 anos.
Diante de qualquer suspeita, é importante procurar um especialista",
reforça Dra. Marta.
A endocrinologista ainda explica que nem sempre
é possível remover o tumor porque, muitas vezes, eles são bem pequenos e podem
não ser localizados ou, ainda, estarem em regiões inoperáveis. Contudo, já
existe medicamento capaz de tratar a condição. "O tratamento inibe a
atividade biológica do FGF23, restaurando a reabsorção renal de fosfato e
elevando a produção de vitamina D ativa, garantindo, assim, mais qualidade de
vida ao paciente e aos familiares. O diagnóstico e seguimento geralmente são
feitos por médicos endocrinologistas, nefrologistas, reumatologistas ou
ortopedistas, e o tratamento multidisciplinar é de extrema importância para que
se possa discutir as melhores opções de cuidado", conclui.
Referências
[1]Feng J, Jiang Y, Wang O, et al. The diagnostic dilemma of tumor induced
osteomalacia a retrospective analysis of 144 cases. Endocr J. 2017,64(7):675-683.
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