Esportistas
tendem a sentir a ausência do apoio da torcida
Após um tempo de pandemia da covid-19 e
as medidas rígidas de isolamento social, as competições esportivas voltaram a
ser realizadas em boa parte do país, porém com uma ausência gigante no
espetáculo esportivo: como forma de evitar aglomeração, os jogos só puderam
acontecer sem a presença da torcida, parte fundamental de qualquer esporte.
A cena então se tornou comum, desde que as partidas foram autorizadas
novamente: estádios vazios, arquibancadas enfeitadas com mosaicos e bandeiras
imóveis, e um silêncio que em nada combinava com o clima da disputa. Algumas
equipes até tentaram superar esse estranho vazio, colocando cantos da torcida
nos alto-falantes das arenas.
"O esporte só é completo quando compartilhado com seu público",
afirma o professor Alexandre Amaro, da Coordenadoria de Esportes e Relações
Comunitárias (CERC), da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), que estuda
a relação entre Neurociência e o esporte.
De acordo com ele, a ausência de público nos estados, nas mais diversas
competições esportivas, eliminou o fator de mando de campo, que tinha um efeito
bem importante na performance dos atletas. O mackenzista explica que jogar em
casa, junto de sua torcida, aumentava as chances de vitória de uma equipe ou a
melhorava na performance individual de um atleta. No entanto, a torcida
adversária também poderia ser um fator motivador para o time visitante.
"Enquanto alguns atletas retraem-se frente às pressões da torcida
adversária, outros podem utilizá-la como combustível para superar os
adversários ou seus próprios limites", indica Amaro.
Um exemplo do impacto da ausência do público nos estádios foi verificado sobre
a performance de atletas negros. Pesquisas que compararam o rendimento de
atletas pretos jogando com e sem torcida, verificaram que a ausência dos
torcedores permitiu a esse grupo uma melhor performance, já que a possibilidade
de ocorrência de casos de racismo caiu bastante. "O resultado demonstra
que o crime de racismo tem impacto no rendimento do atleta e, consequentemente,
no desempenho da equipe", diz o professor.
Neste novo cenário, tornou-se necessário uma nova forma de conectar torcida e
atletas e as redes sociais tiveram um papel fundamental nisso.
Sem a possibilidade de frequentarem os estádios, os torcedores tiveram que se
virar para acompanhar seu time do coração e dar um apoio para seus atletas
preferidos. As redes sociais se tornaram, então, um meio da torcida se
manifestar. "As adaptações acompanham o perfil dos usuários. Observa-se um
público mais velho, menos familiar com a tecnologia e que, por isso, enfrenta
mais dificuldade em acessar essas novas plataformas e, há um público jovem
ávido por novas plataformas e ansioso por acompanhar sua equipe", explica
o professor Alexandre Amaro.
As torcidas virtuais invadiram estádios e arenas, com projeções em painéis de
torcedores que acompanhavam a partida, via plataforma de transmissão virtual,
como o Zoom ou Teams. Em Tóquio, os atletas vitoriosos saíam das provas e
podiam conversar com a família que acompanhava a competição de casa. Foi uma
forma de prestar apoio para os esportistas, que tinham a oportunidade de
experimentar um pouco do carinho e afeto da torcida. "Acredito que
estejamos vivendo o início de uma nova era na cobertura", crava o docente
mackenzista.
Se as redes sociais se tornaram uma forma do torcedor manifestar seu apoio
pelos seus atletas mais queridos, muitos esportistas também souberam usar as
redes a seu favor. Vários aproveitaram as mídias sociais para contar os bastidores
das competições, mostrar o dia a dia e contar um pouco sobre a rotina de
treinos. Os torcedores aprovaram e deram um grande engajamento para esses
atletas.
"Por meio das mídias sociais dos atletas, suas postagens e da
possibilidade de interação instantânea, atletas-fãs, temos tido a oportunidade
de acompanhar o dia a dia dos atletas como nunca antes", comenta o
professor Amaro, que acredita que essa nova possibilidade influenciará
profundamente as transmissões esportivas.
Todavia, apesar da vantagem de poder se conectar com seus torcedores-fãs, o uso
excessivo das redes sociais pode provocar um excesso de cansaço e afetar a
performance do atleta. "O uso extensivo de dispositivos eletrônicos tem
sido associado com fadiga mental e decréscimo do desempenho esportivo. Os
mecanismos ainda não são completamente compreendidos", conclui o docente.
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