Resultado foi obtido em estudo realizado por pesquisadores da Unesp com 20 voluntários. Tratamento indolor é feito com eletrodos posicionados em regiões específicas do crânio e que liberam uma corrente elétrica de baixa potência (Os pontos 1 e 2 marcam o local em que são posicionados os eletrodos e a região em amarelo é a que recebe a estimulação transcraniana; imagem: acervo do pesqisador)
A estimulação transcraniana por
corrente contínua potencializou o benefício do exercício aeróbico e melhorou o
andar de pacientes com Parkinson imediatamente após a sessão. Houve ganho na
variabilidade da marcha, no tempo de reação e no controle executivo do andar.
O resultado foi observado em estudo
feito por pesquisadores do Instituto de Biociências da Universidade Estadual
Paulista (Unesp), no campus de Rio Claro, com 20 voluntários. O artigo
foi publicado na
revista científica Neurorehabilitation &
Neural Repair.
Os
participantes compareceram a duas sessões de 30 minutos de exercícios aeróbicos
(ciclismo em intensidade moderada) combinados com diferentes condições de
estimulação transcraniana (tDCS, na sigla em inglês) ativa ou placebo, com
intervalo de uma semana.
Antes e
imediatamente após cada sessão, foram avaliadas funções cognitivas e a
atividade cerebral durante o andar. Parâmetros espaço-temporais também foram
incluídos na análise para acompanhar a quantidade e o comprimento do passo e
medir a velocidade da marcha. No estudo, cruzado randomizado e duplo-cego,
houve controle por placebo.
“Em comparação com a pré-avaliação,
os participantes diminuíram a variabilidade do tempo do passo, reduziram o
tempo de reação simples e de escolha, além de aumentar a atividade na área do
cérebro estimulada durante a caminhada após o exercício aeróbico combinado à
tDCS ativa”, escrevem os pesquisadores no artigo, que teve apoio da
FAPESP.
Um dos orientadores do
trabalho, Rodrigo Vitório explica que,
para permitir a comparação sem viés, os voluntários receberam intervenções
ativas e, em dias separados, uma espécie de placebo, ou seja, estimulação
simulada por apenas dez segundos, enquanto nos pacientes pesquisados o tempo
foi de 20 minutos. Metade da amostra fez a sequência ativa-placebo, e a outra
metade, placebo-ativa.
A
estimulação transcraniana é feita por meio de dois pequenos eletrodos
retangulares, posicionados em locais específicos do crânio. O aparelho,
portátil e movido a bateria, é ligado aos eletrodos fixados sobre o couro
cabeludo, criando um circuito elétrico que atravessa o cérebro. A corrente é
muito baixa, 2 miliampere (mA), mas suficiente para estimular os neurônios,
deixando-os preparados para atuar caso o organismo demande um movimento.
“Mesmo com
as limitações do tamanho da amostra, vimos que a estimulação transcraniana
aumentou a atividade do córtex pré-frontal, uma área do cérebro que pacientes
com Parkinson usam mais para controlar o andar do que indivíduos saudáveis. Com
uma única sessão associada ao exercício, observamos melhoras, inclusive das
funções cognitivas”, diz Vitório, que atualmente é pesquisador da Faculdade de
Ciências e Saúde da Universidade Northumbria (no Reino Unido).
Em entrevista à Agência FAPESP, ele afirma que um dos objetivos do
trabalho era entender os efeitos da técnica de estimulação cerebral após
estudos anteriores realizados por grupos do qual fez parte já demonstrarem que
o exercício aeróbico ajuda na atividade motora de pacientes com Parkinson.
“A estimulação
transcraniana, além de segura, se mostra promissora no sentido de potencializar
os efeitos de intervenções e tratamentos. Já é prescrita, por exemplo, em casos
de depressão”, diz Vitório.
Dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS) apontavam que cerca de 1% da população
mundial com idade superior a 65 anos tinha Parkinson em 2019. No Brasil, por
não haver uma notificação compulsória de casos, estima-se que 250 mil pessoas
sejam afetadas.
O que é
A doença
de Parkinson leva a uma degeneração do sistema nervoso central, crônica e
progressiva, causada pela queda da produção de dopamina, substância que atua na
transmissão de mensagens entre as células nervosas (neurotransmissor).
A dopamina
contribui na realização de movimentos voluntários do corpo de forma automática,
ou seja, não é preciso pensar no movimento que os músculos devem fazer. Na
falta dela, o indivíduo perde o controle motor. Os medicamentos indicados para
tratamento da doença geralmente atuam no sentido de repor a dopamina.
Pacientes
com Parkinson têm degenerações específicas em áreas do cérebro envolvidas nesse
controle automático dos movimentos. Para compensar esse déficit, usam recursos
de atenção. Na pesquisa, o exercício aeróbico associado à estimulação aumentou
essa capacidade compensatória dos voluntários.
Entre os
principais sintomas da doença estão lentidão motora, rigidez em articulações do
punho, cotovelo, ombro, coxa e tornozelo, tremores de repouso nas mãos,
chegando ao desequilíbrio. Por isso, melhorar o andar desses pacientes pode
fazer diferença na qualidade de vida, evitando quedas, por exemplo.
Recentemente,
um outro grupo de pesquisadores da Unesp, no campus de Bauru, concluiu que a
sinergia do comprimento do passo de pacientes com Parkinson durante a travessia
de obstáculos é 53% menor do que em pessoas saudáveis da mesma idade e peso.
Essa sinergia se refere à capacidade
do sistema locomotor de adaptar o movimento – combinando fatores como
velocidade e posicionamento do pé – quando é preciso cruzar um obstáculo, como
subir a guia da calçada (leia mais em agencia.fapesp.br/36083/).
O artigo Aerobic Exercise Combined With Transcranial Direct Current
Stimulation Over the Prefrontal Cortex in Parkinson Disease: Effects on
Cortical Activity, Gait, and Cognition está disponível
em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/15459683211019344?journalCode=nnrb.
Luciana
Constantino
Agência
FAPESP
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