“Aleitamento materno: pediatra, faça a diferença” é tema de campanha do chamado Agosto Dourado, campanha promovida pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) dedicada ao aleitamento materno no Brasil. A cor dourada está relacionada ao padrão ouro da qualidade do leite materno: estudos comprovam que ele é capaz de salvar vidas de cerca de 13% das crianças, menores de cinco anos, em todo o mundo.
No mês, também se realiza a Semana Mundial do Aleitamento Materno
(SMAM), trazendo o tema “Proteger a amamentação: uma responsabilidade de
todos”. A temática foi definida pela Aliança Mundial para Ação de Aleitamento
Materno (WABA, em inglês), que tomou como princípio que o aleitamento materno é
um direito humano que precisa ser respeitado, protegido e cumprido por todos.
Por isso, a SBP criou suas ações destacando a responsabilidade do
pediatra no aleitamento materno.
Dez passos
O SBP propõe para esse ano dez passos para que os pediatras façam a diferença na promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno exclusivo até os 6 meses e complementada até pelo menos 2 anos. São eles: reconhecer que a amamentação é a melhor forma de alimentação da criança pequena, sendo inigualável; ter uma visão ampliada da amamentação, acreditando que amamentar é muito mais que alimentar a criança; praticar o aconselhamento em todas as consultas envolvendo a amamentação, auxiliando as mulheres/famílias a tomarem decisões informadas; respeitar e apoiar as opções das mulheres, sem gerar culpas; acolher e confortar as mulheres que, por alguma razão, não amamentaram ou amamentaram menos do que o recomendado.
Os passos também recomendam aos pediatras: manter-se atualizado, adotando práticas baseadas nas melhores evidências científicas disponíveis; ter conhecimento e habilidades clínicas necessários para apoiar as mulheres nas dificuldades relacionadas à amamentação; adotar as boas práticas hospitalares em amamentação, compatíveis com as legislações de proteção da amamentação; e acreditar que amamentação é um processo que precisa ser compartilhado, valorizando a rede de apoio da mulher.
“Apoiar e promover a amamentação vai além de incentivar. O
pediatra deve ter claro que o leite materno é o padrão-ouro da nutrição
infantil e que atualização constante sobre o assunto leva ao sucesso da
amamentação. Principalmente porque amamentar não é uma tarefa fácil. Muitos
obstáculos podem aparecer no percurso e devemos estar aptos e atualizados para
fazer a melhor orientação. O desmame muitas vezes acontece por falta de
avaliação e acompanhamento da família que está no processo de amamentação”,
ressalta Renata Gonçalves Ribeiro, pediatra, neonatologista e coordenadora
médica da UTI neonatal do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC).
Preocupado em auxiliar as mães no momento após o nascimento dos
bebês, o hospital desenvolveu um programa de acompanhamento sistêmico das
crianças, denominado “Nascer e Crescer no Dona Helena”. O propósito é ajudar as
mães em todos os cuidados necessários no período inicial, com atenção especial
à amamentação do bebê. O hospital compreende a importância deste processo para
mães e filhos, viabilizando um acompanhamento contínuo, integral e humanizado
com seus profissionais pediatras, o que possibilita um trabalho preventivo que
garante o crescimento saudável da criança.
Leite materno: um alimento perfeito para as crianças
Além de possuir os nutrientes básicos essenciais, como hidratos de
carbono, proteínas e gorduras, bem como água, o leite materno possui milhões de
células vivas, incluindo os glóbulos brancos, que reforçam o sistema
imunitário, e células estaminais, que auxiliam no desenvolvimento e regeneração
dos órgãos. “O leite materno é e sempre vai ser o alimento ideal para iniciar a
dieta de um bebê. É o alimento mais completo, vivo e ativo. Começa como
colostro, que é uma pequena quantidade, rica em anticorpos (o que o bebê
inicialmente precisa), e evolui para um leite mais maduro, mais rico em gordura
e proteína, acompanhando, assim, o crescimento normal do ser humano”, detalha
Renata.
Os anticorpos estão presentes somente no leite materno, garantindo
a proteção inicial do bebê, ainda indefeso e imaturo, que nasce com uma pequena
quantidade fornecida pela mãe via placenta. “O bebê só começa a produzir uma
quantidade maior de anticorpos a partir do sexto mês, então é muito importante
que esse bebê seja amamentado”, frisa Renata. Além do benefício relacionado ao
sistema imune, sabe-se que o bebê que é amamentado no seio materno tem melhores
índices de desenvolvimento cognitivo, psicomotor, auditivo e visual. Também tem
menos chance de desenvolver outras doenças. “As crianças têm oito vezes menos
chances de desenvolver tumores na infância, principalmente as leucemias e os
linfomas.”
Segundo a médica, um bebê deve receber leite materno exclusivo até
o sexto mês. A partir de então, a alimentação complementar deve ser
introduzida. “Mas se estimula que o leite materno seja mantido até dois anos ou
mais, depende de cada caso”, aponta. A profissional reitera a importância da
qualidade do leite materno, cuja composição independe da alimentação da mãe: “É
um alimento perfeito para a criança.” No entanto, orienta que as mães mantenham
uma alimentação saudável e regrada. “A preocupação maior é com a quantidade.
Alguns alimentos ricos em ômega, como peixe, podem fazer com que a mãe tenha
mais facilidade para produzir o leite”, justifica.
É preciso incentivar a amamentação
Para Renata, as mães precisam se empoderar em função da
maternagem. “Normalmente o leite seca na cabeça antes de secar no peito. A mãe
precisa ter muita vontade, ver que aquela criança tem necessidades para
enfrentar essa transição do período fetal para o meio extrauterino. Muitas
vezes, as mães não estão preparadas para isso, pois não é uma tarefa fácil,
exige muito esforço, físico inclusive, para atender prontamente ao bebê sempre
que ele precisar. É a principal dificuldade”, conta, citando que, por vezes,
também existem obstáculos com a própria mama, em relação ao tipo de bico e
fissuras, que podem provocar dores na hora de amamentar.
O aleitamento materno é indicado para todas as mães, com poucas
exceções. “Há contraindicação para as mães HIV positivo. Algumas doenças
neonatais, como galactosemia [incapacidade do organismo de metabolizar a
galactose em glicose] e a intolerância congênita à lactose são também
contraindicações à amamentação. Mas é um diagnóstico feito pelo acompanhamento
ao pediatra e são condições extremamente raras. Alguns medicamentos também
podem contra indicar a amamentação, mas é necessário sempre discutir com o
obstetra e o pediatra para ver se realmente é preciso suspender a amamentação”,
explica a pediatra e neonatologista.
O incentivo à amamentação também é necessário para o abastecimento
dos bancos de leite. “Eles coletam o leite de doadoras, processam e pasteurizam
o leite para que possa ser fornecido para crianças com diagnósticos de maior
gravidade, como, por exemplo, prematuros internados em UTI neonatal. Os
profissionais que atuam nos bancos de leite estão preparados também para ajudar
as mães com as questões de amamentação, dando as melhores orientações, como a
pega correta do bebê ao seio, por exemplo”, informa.
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