Reduzir as mortes e acidentes de trânsito no Brasil, além de ser uma questão urgente de saúde pública, é uma das formas mais imediatas de ajudar o processo de retomada do crescimento econômico em meio à pandemia. A queda no número de acidentes desafoga não só os gastos com saúde e previdência, como ajuda a manter ativa grande parte da força de produção, uma vez que as maiores vítimas do trânsito são jovens. “Uma redução no número de acidentes liberaria recursos para investimentos em setores estratégicos e alavancaria a economia, além de permitir a ampliação de programas de auxílio e renda”, avalia Alysson Coimbra, coordenador da Mobilização Nacional de Médicos e Psicólogos Especialistas em Trânsito e diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (AMMETRA).
A ocupação de leitos para tratamento
de acidentados, além de onerar o Sistema Único de Saúde (SUS), obriga os
governos a criarem leitos adicionais para cuidar das vítimas da Covid-19, uma
vez que as vítimas de acidentes ocupam historicamente 60% dos leitos públicos e
privados no Brasil. O tempo de ocupação desses leitos é mais um fator
dificultador para o acolhimento de outras enfermidades, pois a ocupação média
em UTI é de 6 dias, e pode chegar a 6 meses em leitos de enfermaria.
Segundo a ONU, o Brasil gasta cerca de R$ 220 bilhões com acidentes de trânsito (Foto: Jefferson Santos/Fotos Públicas) |
Esse cenário tem um custo elevado.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o Brasil
gaste cerca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de R$ 220 bilhões, com
acidentes de trânsito. Com esse valor, o governo poderia construir
730 hospitais com mais de 225 leitos, ou ainda aumentar em 50% os investimentos
nacionais em Educação. “Se reduzirmos em 10% o número de acidentes
por ano, teríamos uma economia anual estimada de R$ 22 bilhões. Salvar vidas
tem um impacto direto na nossa economia”, pontua o especialista.
Institutos de pesquisa como o IPEA já demonstram que cada
morte no trânsito custa, aproximadamente, R$ 785 mil. Esse dado leva
em consideração os gastos com a saúde, a perda de produção, os danos materiais
e os danos à propriedade pública e privada. “Os prejuízos com a
epidemia do trânsito são inúmeros. Todos os anos, pelo menos 40 mil morrem em
decorrência da insegurança viária no Brasil. Isso só vai mudar quando os
governantes tratarem o assunto como uma questão de saúde pública. Nesse cenário
ações integradas entre os poderes, especialistas e sociedade civil são
urgentes”, comenta.
Exército de mutilados
O crescimento anual do número de
invalidez permanente em decorrência de acidentes de trânsito pressiona a
Previdência Social. Somente em 2020, segundo dados da Seguradora Líder, os
acidentes deixaram 210.042 pessoas inválidas. “Muitas das
vítimas são os responsáveis pelo sustento do lar. De uma hora para outra,
milhares de famílias são arrastadas para abaixo da linha da pobreza”, avalia
Coimbra.
Por outro lado, o acesso de
acidentados aos benefícios previdenciários está cada vez mais difícil. Reportagem recente publicada no site Metrópoles mostrou
que em 2020 o INSS negou mais de 4,465 milhões de pedidos de benefícios,
o maior número de indeferimentos dos últimos 14 anos. “O número
crescente de pessoas impossibilitadas de trabalhar onera a Previdência e reduz
a força produtiva deste país. Se nada for feito para frear o número de
acidentes, em poucos anos teremos um número cada vez maior de dependentes do
INSS, o que certamente provocará um colapso social e econômico”,
finaliza o especialista em Medicina do Tráfego.
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