A campanha Fevereiro Laranja é dedicada ao alerta à população sobre a leucemia, tipo de câncer que ataca os glóbulos brancos e que se inicia nas células-tronco da medula óssea. A doença se caracteriza pela quebra do equilíbrio da produção dos elementos do sangue, causada pela proliferação descontrolada de células. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa é de quase 11 mil novos casos por ano. Em tempos de pandemia da Covid-19, especialistas alertam para a importância de se procurar por ajuda médica em caso de suspeita e dos pacientes não interromperem os tratamentos em andamento.
Segundo Ana Carolina Moreira de Carvalho Cardoso, médica
especialista em hematologia e transplante de medula óssea, que integra o
OncoCenter Dona Helena, em Joinville (SC), portadores de leucemias,
principalmente nas formas agudas, em que há necessidade de quimioterapia
intensiva, ficam mais propensos a quadros infecciosos. “Deve-se avaliar caso a
caso ao diagnóstico para traçar a melhor estratégia para aquele paciente, ainda
mais em tempos de pandemia. É importante ressaltar que as leucemias
(principalmente as agudas), têm urgência para se iniciar o tratamento, por
isso, independente do momento em que estamos vivendo, todos os pacientes com
suspeita de leucemia devem ser cuidadosamente avaliados”, ressalta a
profissional.
Tipos de leucemia
De acordo com a médica hematologista, as leucemias podem ser
classificadas de acordo com a evolução e o tipo de efeito nos glóbulos brancos.
Quanto à evolução, existe a leucemia aguda e a crônica. Na aguda, mais comum da
infância, as células malignas se encontram numa fase muito imatura e se
multiplicam rapidamente, causando uma enfermidade agressiva. Já nas leucemias
crônicas, rara na infância, a transformação maligna ocorre em células-tronco
mais maduras. Nesse caso, a doença costuma evoluir lentamente, com complicações
que podem levar meses ou anos para ocorrer.
Os primeiros sintomas, de acordo com a profissional, geralmente
são inespecíficos e, na maioria das vezes, os pacientes não apresentam fatores
de risco identificáveis. Pela redução de glóbulos vermelhos, pode ocorrer a
anemia e, com ela, vem o cansaço, aumento dos batimentos cardíacos, entre
outros sintomas associados. A redução das plaquetas ocasiona sangramentos,
principalmente pela gengiva e pelo nariz (epistaxe), além de equimoses. Já a
redução dos glóbulos brancos aumenta a taxa de infecções. Também pode haver um
aumento dos gânglios linfáticos, fígado ou baço, perda de peso, febre e
sudorese noturna. “Nas leucemias agudas, a doença progride rapidamente e o
tratamento deverá ser iniciado o mais breve possível. Nas crônicas, os sintomas
podem ser mais brandos e, por vezes, o paciente poderá ser assintomático”,
ressalta a especialista.
A leucemia também é classificada de acordo com o efeito que causa
nos glóbulos brancos: a leucemia linfoide, linfocítica ou linfoblástica afeta
as células linfoides, sendo mais frequente em crianças; e a leucemia mieloide
ou mieloblástica afeta as células mieloides e é mais comum em adultos. Ainda há
subtipos que requerem prognóstico e tratamentos diferenciados. A origem da
leucemia aguda ainda é desconhecida, porém, existem alguns fatores de risco que
estão comprovadamente associados. “No caso das leucemias agudas mieloides temos
alguns fatores, como tabagismo, benzeno, radiação ionizante, alguns
quimioterápicos, Síndrome de Down, história familiar e idade. No caso das
leucemias agudas linfoides, uso de alguns quimioterápicos, radiação ionizante,
entre outras”, esclarece Ana.
Diagnóstico e tratamento
A médica, especialista em transplante de medula óssea, frisa a
importância da avaliação de um hematologista diante da suspeita de leucemia.
Para realizar o diagnóstico, é preciso fazer um exame chamado hemograma e uma
análise do sangue periférico. Depois, o paciente realiza o mielograma (exame da
medula óssea), para avaliação da citologia, citogenética, avaliação molecular
(mutações) e imunofenotipagem (avaliação do fenótipo das células).
O tratamento difere de acordo com o subtipo da leucemia, passando
por procedimentos como uso de quimioterápicos, observação do paciente, uso de
anticorpos monoclonais e uso de inibidores de tirosino quinase. No caso das
leucemias agudas, o transplante alogênico de medula óssea poderá ser indicado
nos casos refratários ou de subtipos mais agressivos. “Nas leucemias crônicas o
objetivo é que o paciente entre em remissão, porém sabemos que, por ser uma
doença crônica, pode ocorrer períodos de surtos e remissões. Já nas leucemias
agudas o objetivo é a cura do paciente.”
Leucemia e Covid-19: cuidados redobrados
A médica hematologista frisa aos pacientes que fazem quimioterapia
ou que estão na fase pós-tratamento que é preciso aumentar os cuidados
habituais, como lavar as mãos frequentemente com água e sabão ou álcool em gel,
manter uma boa ingesta hídrica, uso de máscaras ao sair, além de evitar
aglomerações e lugares fechados. “Qualquer sintoma apresentado pelo paciente
deve ser relatado ao seu médico assistente, evitando assim idas desnecessárias
às emergências”, frisa.
“Os estoques dos bancos de sangue tiveram uma queda durante a
pandemia. Estamos sempre lembrando a população de como uma doação pode salvar
algumas vidas, pois, principalmente nos primeiros meses do diagnóstico de
leucemia, o paciente precisa muito dos hemocomponentes que são preparadas
através do sangue total do doador”, observa Ana. “Apesar de estarmos
atravessando um período difícil causado pela pandemia de Covid-19, as outras
doenças não desapareceram. Devemos manter a atenção redobrada”, finaliza
a médica.
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