Entre as válvulas de
escape buscadas pelas pessoas no isolamento causado pela pandemia do novo
coronavírus, o consumo excessivo e frequente do álcool tem se demonstrado
nocivo também à saúde mental. No Dia Nacional de Combate às Drogas e ao
Alcoolismo (20/02), o médico psiquiatra do Vera Cruz Hospital Petrus Raulino
alerta para riscos de ansiedade e depressão. Segundo o especialista, pesquisas
internacionais apontam que um em cada
seis adultos apresentou aumento do consumo de álcool na pandemia. "O
estudo demonstrou, ainda, que quanto maior o consumo de álcool, maior a
associação com transtornos mentais, como a depressão. Ou seja, o que seria uma
tentativa de fugir da ansiedade pode se tornar justamente uma forma de se
intensificar estes problemas", explica o especialista.
Ainda de acordo com o
psiquiatra, existem diversas maneiras de identificar a dependência do álcool: o
indivíduo bebe mais do que gostaria, ou deseja controlar o uso, mas não
consegue; desejo intenso de beber; interferência negativa na rotina
profissional, familiar ou social pelo uso do álcool; tolerância, quando se
consome quantidades maiores para obter o mesmo efeito; e síndromes de
abstinência ao se interromper o consumo, com sinais como tremores, por exemplo.
"É importante alertar que o preço que se paga pelo alcoolismo deixa de ser
somente financeiro, uma vez que o consumo excessivo prejudica a qualidade do
sono, exatamente quando o cérebro deveria se regenerar. Além disso, podem
surgir problemas, como cirrose, cardiopatias, perdas cognitivas, doenças no
fígado, coração, pâncreas e cérebro", afirma.
Diálogo e exercício
Segundo a Organização
Mundial da Saúde, em todo o mundo, 3 milhões de mortes anuais resultam do uso
nocivo do álcool, o que representa 5,3% de todas as mortes. Os caminhos
indicados pelo psiquiatra do Vera Cruz Hospital para reverter esses índices
são: diálogo, mudança de hábito e até não expor o cérebro ao consumo. Além
disso, o médico reforça que na adolescência e acima dos 60 anos, quando o
cérebro ainda está, respectivamente, em formação ou com sinais de neurodegeneração, o
consumo é mais prejudicial do que em qualquer outro período da vida. "O
grande erro dos pais está, por exemplo, em permitir que seus filhos adolescentes consumam bebidas
alcoólicas dentro de casa por considerarem ali um lugar seguro. O ideal é não
permitir e abrir um canal de comunicação, afinal, estamos na era do
conhecimento e, muitas vezes, os adolescentes precisam ser entendidos e não
submetidos a experiências como essas", explica.
Ainda segundo ele,
atividades físicas, técnicas de relaxamento, acompanhamento psicológico e até
atividades ligadas a espiritualidade podem ser grandes aliados para uma redução
no consumo. Já em casos mais intensos, Raulino recomenda a busca voluntária por
tratamento médico psiquiátrico do quadro, com o uso de medicamentos e até
abordagem psicoterápica. "O mais recomendado, sem dúvida, é encorajar para
que a pessoa que precisa de ajuda tome essa decisão, pois se sentindo parte
dela, já é um grande sinal de que o tratamento será efetivo", conclui.
Vera Cruz Hospital
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