Psiquiatra Josianne Martins também fala sobre principais sintomas, causas e tratamentos
Na próxima quinta-feira, 18 de fevereiro, é lembrado o Dia Internacional da
Síndrome de Asperger, tipo de autismo que atualmente está classificado
dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) sem comprometimento de
linguagem ou de inteligência. Josianne Martins, médica psiquiatra e tesoureira
da Associação Psiquiátrica de Brasília, a APBr, explica que o TEA engloba, além
da Síndrome de Asperger, outros transtornos.
"Eles são caracterizados por déficits na comunicação e interação social,
padrões repetitivos e restritos de comportamento, interesses e atividades, que
variam de intensidade, gerando prejuízos leves ou graves para a pessoa
acometida", pontua. Mas como ele se manifesta? De acordo com a médica, há
basicamente dois pilares de sintomas:
- Déficits persistentes na comunicação e interação social, que pode se
apresentar por prejuízo na empatia (dificuldade de se colocar no lugar do
outro), falta de interesse pelas interações, dificuldade de estabelecer uma
conversa normal, de compartilhar interesses, emoções ou afeto, manter o contato
visual e de interpretar ironias ou metáforas.
- E, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou
atividades, que pode se manifestar por estereotipia motora (movimentos
repetitivos e sem um objetivo claro, como balançar as mãos e o tronco, alinhar
brinquedos ou girar objetos), ecolalia (repetição de palavras ou frases sem
contexto e sem a intenção de se comunicar), apego a rotinas, inflexibilidade
com regras, necessidade de fazer o mesmo caminho ou ingerir sempre mesmos
alimentos, interesses fixos e restritos por determinados assuntos ou objetos,
hipersensibilidade ao som, vivência incomum para odores e texturas.
Segundo a especialista, o que difere a Síndrome de Asperger dos outros tipos de
autismo é a ausência de atrasos, tanto na aquisição da fala, quanto no
desenvolvimento cognitivo. "Geralmente, as pessoas acometidas pelo
transtorno possuem inteligência na média ou acima da média", destaca.
É possível definir uma causa?
Conforme Dra Josianne não há ainda uma causa definida, porém se sabe que
fatores genéticos são fundamentais associados a condições da gestação e do
parto, como idade avançada dos pais, uso de algumas medicações ou substâncias e
baixo peso ao nascer.
"A criança que apresenta algum comportamento ou sintoma divergente da sua
fase de desenvolvimento deve ser avaliada o mais precocemente possível por um
médico psiquiatra e/ou neurologista", afirma. Ela continua: "quanto
mais cedo os estímulos forem direcionados para as áreas deficitárias da criança
maior a possibilidade dela se desenvolver e ter uma vida normal na fase
adulta".
Quais os tratamentos para o transtorno?
Segundo a psiquiatra, o tratamento para a Síndrome de Asperger deve ser
individualizado, pois deve focar no estímulo para o desenvolvimento das
habilidades que estão mais prejudicadas na pessoa em questão. "Dessa
forma, a depender de cada indivíduo, alguns profissionais podem estar envolvidos
no tratamento: médico psiquiatra, médico neurologista, psicólogo,
fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo e outros", pontua.
Ela acrescenta que não há medicação específica para o transtorno, porém,
algumas vezes é necessário tratar sintomas ou outros diagnósticos associados,
como alterações de comportamento, depressão e ansiedade.
Há cura?
Dra Josianne aponta que geralmente, com o amadurecimento cerebral, os estímulos
terapêuticos e a medicação (quando necessária) a tendência é a redução dos
sintomas na fase adulta ou já no final da adolescência. Apesar de algumas
pessoas apresentarem melhora significativa, algumas características
permanecerão e a pessoa sempre será portadora do TEA.
E quanto à pandemia? Houve aumento ou queda no número de diagnósticos?
De acordo com a especialista, a síndrome de asperger, assim como qualquer outro
diagnóstico dentro do TEA, é um transtorno do neurodesenvolvimento, ou seja, a
pessoa já nasce com ele, porém os sintomas se manifestam na medida em que a criança
se desenvolve e se expõe às exigências sociais. Portanto, por não depender de
fatores externos, a pandemia não aumentou o número de pessoas com o
diagnóstico.
"O fato de ficar isolado em casa, com pouco ou nenhum contato social e uso
exagerado de eletrônicos pode levar algumas crianças com Síndrome de Asperger a
uma regressão nas suas habilidades sociais já adquiridas", comenta. Ela
conclui: "por outro lado, por não estarem expostas às interações sociais,
o isolamento pode ser uma situação mais cômoda e conveniente para elas,
reduzindo o estresse e a ansiedade que as exigências sociais porventura
causam".
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