Em
março de 2020 nos tornamos “Terranautas” – exploradores do local no qual
vivemos – e fomos convocados a ir para casa, com destino ao nosso interior e
com o objetivo de reaprender a viver em comunidade.
Essa
complexa missão já dura cerca de 60 dias e, desta vez, ao contrário daqueles
chamados astronautas, que já foram à Lua, não nos preparamos para esse momento.
Hoje,
estamos em casa, no planeta Terra, e a nossa missão é lidar com o
afastamento social, o confinamento e as incertezas.
Alguns
de nós possuem abrigo, alimento e companheiros de jornada, mas, em geral,
os “Terranautas” também sentem falta dos amigos, amores e de outros familiares.
Neste
período de distanciamento, ainda que em casa, cada de um nós precisa
administrar uma série de sentimentos e situações:
Precisamos
entender as frustrações
Viver
em um espaço confinado com outras pessoas exige respeito e tolerância. Como os
“Terranautas” nem sempre selecionam toda a tripulação, saber cooperar é uma
competência importante para um ser humano, com isso, a comunicação é essencial:
precisamos entender não só as frustrações do outro, mas também o que nos
chateia e o que ajuda a nos tranquilizar.
Compartilhar
pode se tornar uma experiência de aproximação
Em
tempos difíceis, a tarefa é de ajudar os outros tripulantes. Sabemos que
dependemos um do outro para nossas vidas e, neste momento mais do que nunca, o
trabalho em equipe é importante.
Ainda temos
algum controle
Mesmo
com as tarefas distribuídas entre os “Terranautas”, relembro que temos
controle sobre algumas coisas, como escolher o tipo de comida, o que bebemos e
quando desejamos dormir, pois, mesmo ‘presos’ em casa, ninguém está nos dizendo
qual livro ler ou a que horas acordar. Existe um grande objetivo em nossa
viagem: “aprender a ser mais humanos”. Podemos ter metas e realizar conquistas
todos os dias.
Eu tinha planos
Um
“Terranauta” não precisa estar alarmado ou ansioso com os riscos da “viagem ao
seu eu” porque sabemos o que fazer em situações de emergência. Relembro que
temos contatos de fácil acesso e devemos distribuir atividades, caso não
consigamos realizar algo sozinhos como cozinhar ou descobrir a melhor forma de
cuidar de um aquário. A ajuda de um outro “Terranauta” pode tornar tudo mais
fácil, assim como apoiar o pode ser bem prazeroso.
Planejar algo
agradável para o futuro
Com
algum tempo de sobra, podemos fazer o que sempre desejamos, mas antes estávamos
muito ocupados. Os “Terranautas” em missões longas, como a de agora, por
exemplo, podem assistir a filmes e ler livros. O “Terranauta” pode resolver
problemas complexos, ser mais criativo, aprender a conviver e o mais
importante: ser mais humano.
Temos tempo para
apreciar as coisas
Uma
das coisas que “minha equipe” (família) e eu adoramos fazer no final do dia de
trabalho é olhar para o horizonte. Vemos as luzes da cidade surgirem e quando
entramos no entardecer é mágico! Ainda podemos ver o nascer do sol e as nuvens
de um lugar privilegiado e, por vezes, subestimado: a janela.
Outro ponto importante é ver que nossa
felicidade não necessita de riquezas e objetos valiosos. De volta à Terra
“normal” seremos confrontados novamente pelo materialismo. Certamente
rebaixaremos o valor relativo das ‘coisas’ em nossas vidas, um sinal que o
impacto causado pela Covid-19 terá um efeito significativo sobre cada um.
Eu
sou um “Terranauta” e acredito que quando a pandemia terminar, o mundo será um
lugar melhor para se viver; com menos consumismo e mais benfeitorias
ao meio ambiente.
Tenho
confiança que sentiremos a mudança na sociedade, que será mais comunitária,
mais coerente e muito mais amável.
Prof. Carlos Walter Dorlass -
Diretor Geral do Colégio Marista Arquidiocesano, localizado em São Paulo (SP).
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