Como a doença afeta o emocional de quem
está em isolamento social e de quem continua trabalhando
Muitas das pessoas que assistiram por mais de 20 minutos às cenas do
ataque às Torres Gêmeas em 2001 desenvolveram estresse pós-traumático como se
estivessem presentes no local, de acordo com cientistas. Agora imagine os
efeitos psicológicos de estar efetivamente vivendo uma pandemia mundial em
isolamento social e constante bombardeio de informações sobre o vírus que a
motivou.
A dra. Alexandrina Maria Augusto da Silva, médica psiquiatra e
vice-presidente da Comissão da Saúde Mental do Médico da Associação Brasileira
de Psiquiatria (ABP) e 2° Secretária do Departamento Científico de
Psiquiatria da Associação Paulista de Medicina (APM), explica que qualquer
notícia de grande impacto, quando consumida em excesso, gera consequências para
o psiquismo humano, como ansiedade, quadros depressivos, fobias e somatizações
do estado emocional.
De acordo com a especialista, o ideal é ter uma fonte confiável de
notícias sobre o novo coronavírus, a qual deve ser consultada em um único
horário do dia, fazendo um apanhado geral das novidades. “Se você já sabe o que
está acontecendo, não precisa se sobrecarregar”, pontua.
Saúde mental dentro de casa
Para a maioria da população, que está em isolamento social, os efeitos
psicológicos podem ser intensos, visto que o confinamento pode ser um fator
estressante. A aproximação de familiares, por exemplo, pode tanto ser positiva
quanto negativa, aumentando fontes de atrito e discórdia.
“O indivíduo tem que desenvolver uma rotina: levantar, trocar de roupa,
tomar seu café matinal, praticar atividades físicas. É importante entrar em
contato ‘voz a voz’ com familiares, amigos e vizinhos. Fazer comunicações
verbais, mesmo à distância, é saudável”, destaca dra. Alexandrina.
No home office, a organização é fundamental. É comum que as pessoas se
sintam mais esgotadas, por falta de horários e pelo fato de a comunicação entre
colegas ser mais difícil. Sem programação, o trabalho remoto pode ser
prejudicial para equipes que não estiverem sincronizadas.
A especialista ainda chama a atenção para a diversidade de tarefas que
podem ser feitas no dia a dia. “A criatividade de cada um é o que definirá as
diferentes atividades”, afirma.
E aqueles que não pararam de trabalhar?
“Uma parte da população não deixou de trabalhar. São eles os
profissionais do setor de alimentação, farmácia, limpeza, entre outros. Estão
trabalhando contrariados e podem desenvolver sintomas de medo e fobia. Enquanto
todos fazem a quarentena, eles estão se expondo. Que mensagem fica na cabeça
dessas pessoas?”, questiona dra. Alexandrina.
Profissionais da saúde também não escapam, tendo em vista que são os
mais expostos à doença. Segundo a psiquiatra, em caso de ansiedade, depressão
ou fobia, eles também precisam procurar ajuda.
Quando tudo isso passar...
“O medo de voltar às atividades pode acontecer. Cada um terá de lidar da
melhor forma: se alimentando, se cuidando, mantendo o sono em dia e tendo
hábitos saudáveis”, pontua a especialista. “De acordo com os estudos, 80% da
população terá contato com o vírus. O que a gente não quer é o desenvolvimento
da doença, para evitar situações catastróficas como a da Itália e da Espanha”,
destaca.
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