O domingo de cada uma delas, seguramente, vai ser
diferente. Inclua nessa lista suas amigas, vizinhas, parentes distantes,
colegas de trabalho, todas as mulheres, enfim, que você conhece ou não. A única
exigência para que façam parte dessa conta – e experimentem essa gostosa
sensação - é que sejam mães. Só isso basta para que possam saborear um domingo
particular, o momento solitário de poder dizer para si mesma, emocionada, que valeu
a pena uma vida inteira de dedicação e desprendimento.
Não falo de diferenças ditadas por contrastes
sociais, econômicos ou culturais, pelo status que cada uma atingiu, pelo
dinheiro maior ou menor que conseguiu reunir, pelas tradições que suas origens
lhes impõem. É claro que não serão iguais os domingos das pobres e das ricas,
das que têm saúde ou estão enfermas: cada uma, invariavelmente, vai viver
momentos marcados pela fartura ou dificuldade que rege sua vida. Mas é certo
que nada disso a elas importa, não é o conforto maior ou menor a recompensa que
as motiva.
Umas, passarão o dia em casas confortáveis,
aconchegantes; outras, em espaços bem modestos, na periferia; muitas em
habitações sub-humanas, torcendo para que não venha a chuva e as goteiras não
estraguem a festa. Há ainda as que passarão horas em filas nas portas de
presídios ou à beira de um leito de hospital, fazendo a visita que o filho ou
filha está impedido de fazer ou confortando aquele que ansiosamente busca
alguma cura. Mas o que realmente as diferencia não é nada disso, é a história
que cada uma carrega na lembrança.
São histórias com nuances particulares, todas
movidas por um amor incondicional por suas crias, é verdade, mas com diferentes
armadilhas que a vida nos impõe pelo percurso. E mesmo tendo razões de sobra
para acreditar que sempre fizeram bem mais do que podiam, é bem possível que se
punam por não ter feito mais ainda. Umas pelo tempo que não conseguiram
economizar para lhes dedicar mais afeto e carinho; outras pela tolerância que
faltou na hora de compreender suas inseguranças; mais algumas pelos recursos
que não conseguiram amealhar para bancar seus sonhos ou saciar sua fome.
São mães, é assim mesmo, faz parte de sua natureza.
Não se permitem justificativas baseadas no que a vida lhes negou, nesses tempos
em que os governantes são cada vez mais insensíveis para facilitar a vocação
materna instintiva que as guiam, essa doação permanente, essa entrega que
coloca a felicidade dos que gerou acima de tudo. E se contentam com
pouco, vamos constatar novamente domingo agora, quando simplesmente as
abraçarmos e percebermos as emoções que as envolverão, o nó na garganta que vai
tomar conta delas.
Por isso, mais que qualquer presente, é
importante nos abrirmos para um abraço pleno, como nem sempre fazemos no resto
do ano. E com elas chorar, rir, ter saudades, projetar sonhos, fazer promessas,
demonstrar gratidão eterna por tudo de que abdicaram para que nossa vida fosse
plena. É só isso que estarão esperando, no domingo cedo, enquanto começam a
preparar nosso prato preferido. E é disso que irão se alimentar no dia
seguinte, quando é bem possível que inventem de tricotar uma nova blusa, para
nos proteger do frio que está chegando.
Marlene Campos Machado
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