Maio chegou e em situações normais veríamos os
shoppings lotados, os centros comerciais aquecidos e uma grande circulação de
pessoas. Entretanto, a pandemia de Covid-19 tem trazido muitas novidades, nem
sempre tão boas para nossa economia. É óbvio que há setores em expansão, mas o
que vemos de forma geral, é uma previsão de queda bastante complicada para
nosso comércio e para a economia. O momento pede calma e planejamento. Tudo muda
neste cenário: o presente, a forma de comprá-lo e o preço.
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de
Bens, Serviços e Turismo (CNC), as vendas do Dia das Mães devem sofrer um
impacto de até 60% de queda. Em outras palavras, a segunda data mais importante
do ano para o comércio sofrerá um impacto de vendas muito complicado, faturando
menos do que a metade que faturou em 2019. Expectativa um tanto complexa para
um mercado que já teve redução de 31,6% na Páscoa, segundo a mesma fonte.
Uma pesquisa da Bain&Company mostra que existem
quatro tipos de setores impactados economicamente pela pandemia: aqueles em
que a demanda explodiu na pandemia e vai se manter em alta; aqueles em que a
demanda explodiu na pandemia mas deve voltar ao antigo normal depois que tudo
isso acabar; aqueles em que a demanda teve queda mas pode ter um grande pico
quando sairmos desta situação; e aqueles em que a demanda teve queda e as
expectativas são de dificuldade na recuperação.
Olhando para a “metade cheia do copo”, temos o
ensino a distância (EAD) e o entretenimento online como mercados em que a
demanda aumentou e deve se manter em alta. Produtos de limpeza e alimentação
tiveram altas que não devem se manter no longo prazo. Já naqueles mercados
impactados negativamente pela pandemia, vemos eletrodomésticos, roupas e salões
de beleza (setores que devem ter um pico subsequente), além de restaurantes,
cinemas, academias e eventos (com uma recuperação lenta, segundo previsão).
Se as condições mudam, pessoas reagem de formas
diferentes. E se há diferença de comportamento e de prioridades, existe impacto
no consumo. Essa é uma lei simples de entender, mas dolorosa de sentir. Isso
porque costumamos aprender nossas maiores lições em meio a grandes crises, ou
seja, quando a situação já não é tão confortável. É seguindo esses pontos que
podemos prever algumas mudanças de consumo adquiridas com esta pandemia, que
vão impactar no Dia das Mães.
Pensando no distanciamento social, vemos uma
tendência cada vez maior da realização de compras no ambiente online, como não
podia ser diferente com o comércio praticamente todo fechado. Os famosos
e-commerces ou os aplicativos de entrega estão se destacando em meio a essa
enchente de novidades. Não apenas por uma questão de conforto e conveniência,
que era o principal argumento de vendas destas plataformas, mas por uma questão
de necessidade em tempos atuais, onde o ambiente online está entre as previsões
mais otimistas quando pensamos em crescimento. A partir do momento que o
usuário cria uma conta nessas plataformas e passa a conhecer o serviço, a
chance de consumir novamente no futuro, mesmo após a pandemia passar, é
significativa. Afinal, se a experiência for positiva, conveniente e agradável,
porque não repeti-la? Em outras palavras, mesmo aquelas pessoas que olhavam
para as compras online com desconfiança, por necessidade tiveram que utilizar
este meio.
Se os meios eletrônicos significam uma tendência,
podemos analisar um pouco melhor a pesquisa da Bain&Company a partir disso.
Alguns setores, que antes seriam os preferidos ao presentear nossas mães, se
tornam grandes desafios com o distanciamento social. É o caso de roupas e acessórios,
bem como salões de beleza. O fechamento dos shoppings e dos centros comerciais,
aliado à queda de circulação das pessoas trouxe grandes dificuldades para
consumir serviços e experimentar ou trocar itens. Observamos assim, não apenas
uma mudança na forma de comprar, mas alterações também nos presentes em si. Se
antes bastava uma ida ao shopping para resolver a questão dos presentes, agora
é possível pesquisar virtualmente e pensar em presentes que não precisam ser
trocados. Tudo sem sair de casa.
Além de novos tipos de presentes e um novo jeito de
comprar, esta pandemia trouxe mais um componente interessante, que impacta
diretamente na queda prevista pela CNC, os preços. Entramos em uma séria crise
não apenas de saúde, mas financeira e mental. Isso significa que as pessoas
estão mais ansiosas e mais preocupadas com o mercado, o que tem consequências
nos comportamentos financeiros. Se antes havia uma grande disposição para
gastar alto ao presentear nossas mães, hoje existem mais preocupações e mais
incertezas. O momento pede calma e planejamento. Tudo muda neste cenário: o
presente, a forma de comprá-lo e o preço.
Muda também, e este é um aspecto muito interessante
desta pandemia, o significado das pessoas, da data em si, do presente. Estamos
mais conscientes da diferença entre valor e preço. Em tempos normais, o
presente caro e robusto, demonstra carinho e é obrigatório. Nas atuais
circunstâncias, o presente que demonstra afeto é aquele que pouco tem a ver com
o preço, mas sim, com o valor. Um bom abraço na nossa mãe, que está distante de
nós neste momento tão complicado, vale quanto? Muito? E quanto pagaríamos por
isso? Mais ainda? Existem algumas coisas no mundo que não estão à venda. Que de
nada tem a ver com preço ou com forma de pagamento. Talvez, este seja o mais
valioso presente que podemos dar para nossas mães neste 10 de maio. Pense
nisso!
Não é sobre gastar, nem sobre pagar. É sobre
dividir, somar, dar e receber. Com tantos comportamentos sendo alterados, com
as dificuldades de consumo, com as preocupações com o dinheiro no futuro,
somado à saudade e a dificuldade do almoço em família, do abraço apertado e
daquela conversa gostosa no sofá da sala, é provável que as conexões saiam
fortalecidas e que os melhores presentes sejam a presença, uma carta, uma
promessa de mais momentos de qualidade com aquelas pessoas tão importantes e
que muitos não terão a oportunidade de ter neste Dia das Mães. E isso pode
mudar o consumo de uma forma que não é possível prever.
Mais uma questão a se acompanhar de como seremos
quando tudo isso passar. Porque vai passar. Mas certamente com profundas
mudanças no nosso jeito de ver o mundo e de se conectar com tudo o que acontece
em nossa volta, nas nossas vidas.
Victor Corazza Modena -
professor de Pós-Graduação na IBE Conveniada FGV, nas seguintes disciplinas de
Empreendedorismo, Gestão Financeira & Contabilidade Geral, Negociação &
Conflito. É fundador da empresa No Final das Contas.
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