Do momento em que os casos de covid-19 começaram a
aparecer fora da China, a moeda norte-americana acelerou o movimento de alta
dos preços. O dólar, por aqui, chegou a ser negociado a R$ 5,97 no dia 14 maio
e registrou uma valorização próxima a 30% no período de três meses.
De lá para cá, a atenção sobre a moeda passou a ser
o impacto positivo ou negativo da variação do câmbio sobre os resultados das
companhias negociadas na B3. No início da pandemia, a maior dúvida do mercado
pairava sobre a ação do Banco Central Brasileiro na contenção da escalada dos
preços. Hoje, no entanto, sabemos que a atuação do BC se limita à desaceleração
do movimento de alta e não consegue fazer com que os preços recuem ao patamar
do pré-crise, de R$ 4,60.
Esse redirecionamento das atenções ganhou
relevância durante a primeira temporada de balanços do ano, que aos poucos vai
revelando os impactos do choque cambial. Foram R$ 21 bilhões em prejuízo,
considerando-se 112 companhias de capital aberto que publicaram suas
demonstrações financeiras até o dia 15 de maio, excluindo Petrobras e Vale para
evitar distorções.
Vale ressaltar que esses dados, obtidos na CVM e
Valor Pro, são referentes ao prejuízo fiscal, ou seja, quando o estoque da
dívida é convertido em reais para ser apresentado nas demonstrações
financeiras, mesmo que não esteja vencendo na exercício vigente.
Mas, se por um lado os dados não representam o real
desempenho das companhias, a leitura dos números pode indicar o aumento da
aversão ao risco e até mesmo evoluir para a antecipação do vencimento das
dívidas. Com a expectativa de piora dos resultados no segundo trimestre, o
resultado caixa precisa continuar subindo – o que, neste momento, é pouco
provável, com exceção dos setores essenciais.
Por outro lado, há um aspecto positivo na
desvalorização cambial, que pode ser visto nas reservas internacionais do Banco
Central, que chegaram a R$ 598 bilhões no mês de maio. O aumento da reserva
resulta na melhora da dívida pública líquida, já que o ativo do país pode ser
utilizado pelo Tesouro para pagar a dívida pública ou injetar liquidez no
mercado em caso de emergência.
A volta de um câmbio mais acessível está vinculada
à capacidade de recuperação e crescimento sustentável das economias. Porém, a
crise gerada pela pandemia de coronavírus é uma enorme pedra no sapato e,
portanto, essa melhora deve ficar para 2021 – isso, é claro, tendo em vista as
melhores projeções até o momento.
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