Num cenário tradicional, diz-se que uma cidade pode
ser considerada inteligente quando a gestão do município está voltada para o
aumento da qualidade de vida dos cidadãos, por meio da alta eficácia de
serviços, como transporte, comunicação e entrega de recursos, sempre tendo como
aliada a tecnologia. Mas, e quando tudo isso é colocado à prova de uma maneira
inesperada e com reflexos imprevisíveis? Era possível nossas cidades estarem
mais bem preparadas para esse momento de pandemia, quando tantas respostas, em
tantos setores, são cobradas? Será que mesmo aquelas consideradas inteligentes
se comportaram como o esperado?
A declaração dada pelo ex-ministro da Saúde, Luiz
Henrique Mandetta, no dia 20 de abril, à rádio Difusora Pantanal, fazendo
referência à organização e informatização do SUS em Curitiba foi enfática: “É
um sistema muito organizado, com um sistema de informática muito bem feito.” Na
avaliação dele, esses pontos seriam fundamentais na estratégia de ações contra
o novo coronavírus.
A fala do ex-ministro traz à tona a discussão de
como o desenvolvimento planejado das cidades inteligentes pode colocá-las em
vantagem em momentos de graves crises ou pandemias. Com a Covid-19 e a corrida
para a adaptação ao novo modelo de vida imposto à sociedade, aquelas que já
pensavam em um futuro conectado largaram na frente.
Curitiba foi a primeira capital do Brasil a usar a
videoconsulta para atendimento de pessoas com suspeita de Covid-19. O objetivo
foi reduzir o fluxo de pacientes nas unidades da rede municipal e tentar assim
evitar a transmissão. Para isso, foi necessário um sistema robusto de suporte.
Fica claro que, em um momento de pandemia, a luta dos profissionais de saúde
deve receber o apoio dos profissionais de Tecnologia da Informação e
Comunicação (TIC).
Outras cidades do País, bem posicionadas no ranking
Connected Smart Cities, também têm conseguido controlar os índices de
transmissão e mortes pelo novo coronavírus até o momento.
A preocupação em manter uma gestão integrada e com
soluções rápidas e práticas para o cidadão é essencial, com ou sem pandemia.
Aos gestores que pensaram em formas de integrar setores, facilitar o acesso à
informação e aproximar a tecnologia do formato de gestão de uma cidade, o
caminho para soluções se torna mais ágil e pode-se contar com uma equipe
habituada a enfrentar novos desafios no campo da criatividade e inovação. Em
contrapartida, aos que esperaram a chegada do problema para planejar soluções,
a jornada será ainda mais longa e árdua.
A pandemia nos permitirá traçar novos conceitos de
cidades inteligentes. Será preciso repensar como encararemos a mobilidade, a
educação, a saúde, o trabalho e as relações sociais. Passada essa grande crise
e todos os desdobramentos que ela ainda trará, ficarão o aprendizado e as
lições de casa não apenas para governantes, mas também lideranças de todos os
setores. É preciso integrar tecnologias como big data, IoT, inteligência
artificial e machine learning a áreas essenciais do funcionamento dos
municípios, caminhando lado a lado e com esse novo cidadão no centro das
atenções. Só então saberemos onde estarão as cidades inteligentes.
Fabrício Ormeneze Zanini -
diretor-presidente do Instituto das Cidades Inteligentes (ICI).
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