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quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

O Coringa que te habita


                                                                         
Não é surpresa que o filme “Coringa", de Joaquim Phoenix e Todd Phillips, tenha obtido 11 indicações ao Oscar. Este é um dos filmes que, no mínimo, gostando ou não, intrigam cada um de nós. Assim que o filme foi lançado, seu impacto causou tanta estranheza que muitos se perguntaram: quem é e onde está o Coringa da vida real? Consequentemente, muitos dedos foram apontados: aos políticos, aos marginalizados, etc.. A resposta mais convincente foi dada por um colega da Psicologia, José Balestrini, que pontou que o Coringa é, simplesmente, o coringa: ou seja, uma máscara que cabe em todos nós.

A outra face do Coringa é o palhaço Happy, traduzindo para o português: o Feliz. Ele quer trabalhar, é dedicado, tenta ganhar o seu dinheiro, sonha em ser um astro, ou melhor, ter reconhecimento, isto é, como sinônimo disso tudo: ser feliz. Esta descrição corresponde à grande parte da sociedade atual. A busca da felicidade como sinônimo de sucesso, dinheiro e poder é um imperativo no mundo. 

Porém, a busca da felicidade gera uma expectativa tão grande na sociedade, que muitos indivíduos, hoje, ao não conseguirem alcançá-la, fazem uso equivocado de medicamentos, como o clonazepam, para suportar a frustração de suas vidas. A questão é que felicidade não é sinônimo de dinheiro, sucesso ou poder. A Psicologia Analítica entende que não é possível estar em um estado de felicidade sem, frequentemente, enfrentarmos um estado depressivo. E, quem nega as próprias tristezas, frustrações, entre outros sentimentos que julgamos negativos, acaba por torná-los mais frequentes e maiores. O clonazepam ajuda a anestesiá-los, mas não os elimina. 

Quando a negação destes sentimentos já não é mais suportada, eles nos tomam de uma vez só. Por isso, é muito comum vermos popstars que conquistam uma rápida fama enfrentarem um quadro depressivo logo em seguida. Se aceitássemos nossas tristezas em pequenas doses diárias, conseguiríamos também ser felizes em doses diárias. 

Quando Happy veste a máscara do Coringa, ele não aceita em si todas suas dúvidas, frustrações e tristezas, o que seria o caminho certo, psicologicamente falando. Ele rompe com o próprio Happy em si, ele cinde, e é engolido por todos estes sentimentos sombrios. Isso faz nascer o Coringa. Nós não somos diferentes: todos temos tristezas, frustrações e dúvidas. Resta-nos entender as nossas e não apontar dedos para as do indivíduo ao lado. O lado sombrio e negativo da vida é inevitável. A única coisa possível de se fazer é escolher o que fazer com elas. 





Leonardo Torres - Professor e Palestrante, Doutorando em Comunicação e Pós-graduando em Psicologia Junguiana


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