Tenho
assistido eloquentes defesas da liberdade de expressão em meios de comunicação.
E isso é muito bom. Mas seria melhor ainda se fossem menos seletivas. Citarei
dois exemplos que acompanhei de perto.
1º) O filme "1964, o Brasil entre armas e livros", assinado
pelo Brasil Paralelo, teve estreia nacional no dia 31 de março de 2019 em dez
salas da rede Cinemark. Estreou num dia e "desestreou" no outro, com
a rede suspendendo as exibições diante dos protestos da esquerda, que não
admite, sobre os fatos de 1964, qualquer contestação ou acréscimo à sua
delirante narrativa, recheada de impossíveis heróis comunistas amantes da
democracia e da liberdade.
Não li nesses meios de
comunicação, ditos zelosos defensores da liberdade, dois parágrafos críticos à
abrupta decisão da rede Cinemark. As condenações dirigiam-se ao filme. Seus
acusadores fazem questão de manter no desconhecimento inclusive os abundantes
testemunhos de historiadores de esquerda e de protagonistas da luta armada, que
recusam a farsa contestada no filme. "1964, o Brasil entre armas e
livros", que inclui testemunho meu, tem aquela honestidade intelectual
carente em seus críticos. Há nele depoimentos que chamam golpe de golpe,
ditadura de ditadura e tortura de tortura. Mas chamam terrorismo de terrorismo,
comunismo de comunismo, e documentam a influência da Guerra Fria nos
acontecimentos da América Latina naquele período. Fora da rede comercial, o
filme alcançou em poucos dias 5 milhões de visualizações no YouTube!
2º) A série "Brasil: a última
Cruzada" é outra excelente realização do Brasil Paralelo. Trata-se de
um relato focando seis períodos marcantes de nossa história, sobre os quais
colhe opiniões de intelectuais e historiadores. É, também, uma narrativa
divergente da que recheia os conteúdos ministrados à nação em salas de aula e
em tantos livros didáticos. Sem ocultar problemas (qual país não os tem?),
"Brasil: a última Cruzada" acende luzes sobre méritos
extraordinários, fatos notáveis, personagens fascinantes, suscitando reações
emocionadas em milhões de brasileiros que, nesse novo conhecimento, mantido
oculto pelos lixeiros da história, encontram consistentes motivos para amar o
Brasil e respeitar sua dignidade nacional. "Ninguém ama o que não
conhece", ouvi certa vez para nunca mais esquecer. Há uma história do
Brasil mantida no desconhecimento. E há um Brasil mal amado por causa disso.
Pois bem,
quando a TV Escola firmou contrato para exibir gratuitamente a série do Brasil
Paralelo, qual a reação dos pretensos defensores da liberdade de expressão?
Críticas severas à falta de contraditório, como se o filme não fosse o próprio
contraditório às manipuladas "narrativas"
Hipocrisia é, sim, uma
palavra perfeitamente aplicável ao que estamos vendo no Brasil que descobre
onde não encontrará, jamais, a verdade que liberta.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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