A carga de pressão que é colocada sobre
os fertilizantes minerais, principalmente por tratar esses insumos como um
poluente ambiental e prejudicial a saúde, é muito alta. Isso acontece, em
grande parte, devido ao desconhecimento da origem e função que os fertilizantes
apresentam na agricultura. Vale ressaltar que os fertilizantes não são produtos
tóxicos, mas fonte nutricional para as plantas. Os nutrientes que os
fertilizantes têm em sua composição são aqueles essenciais para que os vegetais
completem seu ciclo de vida, ou seja, produzam grãos, frutos e outros produtos
usados como alimento animal e humano. São esses nutrientes que irão nutrir os
animais e o ser humano, permitindo que estes possam ter energia para suas
inúmeras atividades.
Os fertilizantes minerais são
produzidos a partir de depósitos de minerais que ocorrem na natureza ou
extraídos do ar que respiramos. Essas matérias primas são processadas na
indústria para tornar os nutrientes apropriados para sua utilização pelas
plantas e reduzir o custo de transporte a aplicação no campo. Mas, suas
composições continuam sendo de moléculas naturais, e não artificiais.
Para o entendimento correto sobre os
fertilizantes, a iniciativa Nutrientes para a Vida tem como principal missão
esclarecer e informar a sociedade brasileira, com base em estudos científicos,
sobre a importância e os benefícios dos fertilizantes na produção e qualidade
dos alimentos, bem como sobre sua utilização adequada. Diante disso, os
esclarecimentos sobre a importância e a relação dos fertilizantes com o
ambiente e a saúde humana é de grande importância. Neste artigo vamos discutir
principalmente sobre os fertilizantes minerais.
Atualmente, a proteção ambiental e a
segurança alimentar são duas grandes preocupações da nossa sociedade. É de
conhecimento que o uso descuidado de fertilizantes pode ter impacto no meio
ambiente. A adubação com critérios e baseada em manejo responsável tem efeitos
positivos sobre o meio ambiente, a qualidade dos produtos agrícolas e contribui
para o fornecimento de uma dieta variada, saudável e equilibrada.
A agricultura usa energia solar para
produzir plantas e fixar dióxido de carbono (CO2), o principal
responsável pelo efeito estufa. As plantas formam a base dos alimentos, uma
fonte de energia para humanos e animais. Elas também fornecem biomassa, uma
fonte de energia térmica, biocombustíveis ou materiais ou fibras de recursos
renováveis. A adubação permite produzir mais biomassa e fixar mais energia
solar e CO2 por hectare. Seu saldo de uso é claramente positivo; a
quantidade de gases de efeito estufa fixada é igual a cinco vezes a emitida
pela produção.
A adubação inclui todas as técnicas
relacionadas ao fornecimento de materiais destinados a manter ou aumentar a
fertilidade do solo. Os fertilizantes são destinados a melhorar a nutrição das
culturas. Eles possuem os nutrientes essenciais para as plantas:
macronutrientes primários (nitrogênio, fósforo, potássio), macronutrientes secundários
(enxofre, magnésio, cálcio), e os micronutrientes (boro, cloro, cobre, ferro,
manganês, molibdênio, níquel, zinco). O fertilizante é corretamente chamado de
adubo mineral.
O objetivo principal da fertilização
mineral é fornecer os nutrientes necessários a um solo incapaz de garantir por
si só uma nutrição da planta, levando a um ótimo rendimento. Trata-se de
corrigir o desequilíbrio nutricional que resultaria de um solo pobre em certos
elementos.
Na maioria dos solos pobres, a
quantidade ideal de fertilizante a ser adicionada a uma safra é geralmente
maior que a quantidade "exportada" pela colheita (quantidade de
elementos minerais contidos nas plantas colhidas) ou perdida pela lixiviação.
Essas práticas de suprimento gradualmente levam as reservas de solo a um nível
mais satisfatório, a partir do qual o agricultor pode adotar adubação de
manutenção, que compensará o desaparecimento dos nutrientes exportados pelas
colheitas, imobilizados por fixação ou eliminado pela lixiviação.
O desafio de aumentar a produção de
alimentos de forma economicamente viável, mantendo a integridade ecológica dos
sistemas, dos quais depende a agricultura, é a base fundamental da agricultura
sustentável. Futuros aumentos na produção de alimentos terão que ocorrer
concomitante com a expansão limitada de terra, e isto só poderá ser realizado
por meio da intensificação da produção sustentável de culturas. Entende-se isto
como o aumento da produção total agrícola em uma mesma unidade de área ou,
ainda, a manutenção da produção com uso racional de insumos.
As plantas deixam raízes, caules e
folhas no solo após a colheita. Esses materiais são fonte de matéria orgânica
para os organismos vivos do solo que se alimentam deles. A matéria orgânica é
parcialmente decomposta e depois mineralizada, enquanto a outra parte é
transformada em húmus estável, um constituinte importante da fertilidade do
solo. Matéria orgânica é alimento para a vida do solo. Promove uma estrutura
irregular e arejada e aumenta a reserva de água útil. Finalmente, a matéria
orgânica aumenta a capacidade de um solo de armazenar reversivelmente elementos
minerais trocáveis, em particular cátions, melhorando o armazenamento de
nutrientes como cálcio, potássio e magnésio.
Os fertilizantes minerais causam uma
redução no estoque de matéria orgânica do solo? É um equívoco comum que se
confunde com o papel do sistema de cultivo. Um sistema que não devolve matéria
orgânica suficiente ao solo a partir da fotossíntese leva a uma diminuição no
estoque de matéria orgânica. Os fertilizantes ajudam a aumentar a produção das
plantas, mas uma quantidade suficiente de resíduo deve ser deixada no solo para
nutrir a vida do solo. Assim, nas sucessões e rotações de culturas a quantidade
de matéria orgânica pode aumentar ao longo das safras, mesmo com fertilização
exclusivamente mineral.
A população mundial continuará a
crescer e deverá exceder 9,6 bilhões de pessoas em 2050 (ONU, 2013). Se
considerarmos que as terras agrícolas são limitadas e estão ameaçadas pela
expansão urbana, o aumento da produtividade é o primeiro fator a reduzir a fome
e a pobreza no mundo.
A segurança alimentar é definida por
uma quantidade suficiente de alimentos, segura e nutritiva suficiente para uma
vida saudável e ativa (FAO, 2009). A adubação faz parte dos dois desafios de
quantidade e qualidade dos alimentos.
Nos últimos cinquenta anos, a população
mais que dobrou e a produção de cereais triplicou para 2,5 bilhões de toneladas
(FAO, 2016). Sem o uso de fertilizantes nitrogenados, a colheita global
alcançaria apenas 50% desse nível. O raciocínio da fertilização visa aproveitar
o progresso contínuo trazido pelo aprimoramento das variedades, enfatizando a
eficiência de todos os insumos nutricionais.
A adubação está relacionada, além dos
nutrientes essenciais para as plantas, com o valor nutricional dos alimentos
para humanos e animais. Os fertilizantes fornecem nutrientes, além das
quantidades naturalmente liberadas pelo solo e pela mineralização dos resíduos
orgânicos.
Uma nutrição equilibrada da planta em
todos os elementos minerais produz alimentos de bom valor nutricional e alta
qualidade organoléptica. A simples deficiência de em um dos nutrientes pode
resultar em baixa qualidade e redução no rendimento. Sintomas de deficiência
revelam os distúrbios fisiológicos sofridos pelas plantas, ocasionando, em
muitos casos, sintomas de doenças. Em muitos casos, os produtos agrícolas de
culturas deficientes não são comercializáveis, provocando grande desperdício.
A qualidade é avaliada de acordo com
critérios subjetivos: cor, consistência, sabor, aroma. Também por critérios
objetivos, que se relacionam com a qualidade tecnológica, o valor nutricional
do alimento como açúcar, proteínas e óleos.
A adição de nitrogênio aumenta a
quantidade e o teor de proteínas nos cereais. O enxofre também é usado na
composição de três aminoácidos essenciais que desempenham um papel na síntese e
conformação de proteínas. No trigo, a composição proteica e seu conteúdo são
responsáveis pelo
valor do cozimento para a produção de pão.
Cálcio, magnésio e potássio estão
presentes em sua forma mineral na planta e também são essenciais para os seres
humanos. Nas plantas, elas promovem resistência ao estresse físico (seca,
geada, calor, etc.) e aos ataques de certas pragas. O potássio e o magnésio
também promovem a transferência e o acúmulo de açúcares para os produtos
colhidos (grãos, sementes, frutos).
Assim, a fertilização com potássio e
magnésio melhora o teor de açúcar e álcool da cana-de-açúcar, o teor de amido
das batatas e proteína da soja. Juntamente com o cálcio, também promove a
firmeza, o tamanho e a cor das frutas e legumes e confere melhor valor
nutricional a esses alimentos, o que contribui para a ingestão diária desses
três elementos minerais na dieta dos homens.
A deficiência de micronutrientes como
zinco, ferro, antioxidantes como a vitamina C, afetam grande parte da população
mundial quando os alimentos não são diversificados o suficiente. A busca por
variedades enriquecidas com esses elementos é um caminho para o progresso, mas
a adubação com esses elementos também permite uma melhoria rápida e em larga
escala na saúde das populações.
Por isso que dizemos que nutrir o solo
é o caminho para nutrir as plantas e, assim, nutrir as pessoas. A nutrição de
um povo está intimamente relacionada a qualidade nutricional do solo onde elas
estão instaladas. Os fertilizantes são o caminho mais barato e eficiente para
aumentar o rendimento das culturas. Antes de pensar em alimentar a população,
devemos primeiro pensar em alimentar o nosso solo.
Valter Casarin - engenheiro
agrônomo da iniciativa Nutrientes para a Vida
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